Pelo menos duas universidades, três escolas e um centro de acolhimento de refugiados da região de Lisboa amanheceram nesta sexta-feira (30) com pichações racistas e xenófobas, em mais um capítulo das crescentes tensões raciais no país. Houve ofensas direcionadas especialmente aos brasileiros.
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Zucas [diminutivo de brazucas], voltem para as favelas. Não vos queremos aqui!”, diz uma das mensagens escritas no muro externo da Escola Secundária Eça de Queiroz.
Há menos de um ano, a mesma instituição já havia sido vandalizada com textos de cunho racista.
Frases como “Portugal é branco, pretos voltem para a África!” e “sim ao racismo” também apareceram nas paredes vandalizadas. No início da tarde, a maioria dos muros já haviam sido pintados e as ofensas, apagadas. Mesmo assim, imagens que mostram os insultos têm se espalhado nas redes sociais.
A polícia portuguesa está investigando a ação, mas, até agora, não foram divulgadas informações sobre suspeitos. A reitora da Universidade Católica Portuguesa, uma das instituições atingidas, Isabel Capeloa Gil, repudiou publicamente o conteúdo das pichações.
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“A UCP foi hoje alvo de uma ação de vandalismo com teor discriminatório e racista. A universidade rejeita este atentado contra os seus princípios basilares e continuará, firmemente, a defender o respeito pela dignidade da pessoa, rejeitando todas as formas de discriminação”, afirmou.
Os responsáveis pelas outras instituições de ensino, assim como o Conselho Português para os Refugiados, também condenaram os atos. Nos últimos meses, Portugal tem assistido a uma série de episódios de racismo e xenofobia que muitas vezes são dirigidos a alunos brasileiros.
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Além de formarem a maior comunidade de estrangeiros em Portugal – 1 em cada 4 imigrantes –, os brasileiros também lideram com folga o ranking dos alunos internacionais no sistema de ensino português.
Estudantes do Brasil relatam com frequência casos de discriminação, assédio e xenofobia. Em abril de 2019, alunos da faculdade de direito da Universidade de Lisboa causaram polêmica ao colocar uma caixa de pedras para “atirar nos zukas”.
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Os números mais recentes sobre queixas de xenofobia e racismo são de 2018, mas mostram um cenário de alta acentuada em relação ao ano anterior.
Em agosto, um grupo radical de extrema-direita organizou uma passeata com referência ao movimento racista americano Ku Klux Klan, em frente à sede da ONG SOS Racismo, em Lisboa.
Pouco tempo depois, dirigentes da instituição e outras lideranças antirracistas, assim como duas deputadas negras, receberam um ultimato de 48 horas para deixar o país.
Menos de um mês antes, em 25 de julho, o assassinato do homem negro Bruno Candé, 39, já havia chocado o país. Ele foi morto com quatro tiros quando passeava com a família perto de casa.
Segundo testemunhas, o assassino disse “preto, vai para a tua terra” antes de disparar. O suspeito, de 80 anos, teria histórico de ofensas racistas a Candé e a sua família.
Embora as tensões raciais tenham aumentado no país, muitos dos políticos portugueses afirmam não haver problemas relacionados ao racismo no país.
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O partido de direita radical Chega, que tem um deputado no Parlamento, já organizou duas passeatas afirmando que “Portugal não é um país racista”.
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