O boxe já produziu alguns milagres na Vila Paim, bairro São Miguel, em São Leopoldo, no Vale do Sinos. Muitas vidas passaram a ter sentido. Duas delas são exemplos recentes. Pai e filho devem ao boxe o prazer de se conhecerem.
Continua depois da publicidade
Conheça a história da dupla:
Esta história começa bem antes, pela iniciativa de Tiago da Silva, 30 anos, que entrou no mundo do boxe com o objetivo de não mais levar desaforo para casa. Pensava que com as mãos resolveria tudo. Essa era a realidade na Vila Paim, onde cresceu. Mas o garoto se dedicou tanto que começou a ver no esporte uma outra perspectiva de vida. Aprendeu a respeitar o próximo e decidiu passar o que aprendeu a crianças e adolescentes do bairro. Deu certo.
Foi assim que o metalúrgico por profissão, hoje também instrutor de boxe, começou um projeto social em São Leopoldo: o Clube do Boxe Universal. Lá, a vida de Alexandro da Silva, 17 anos, deu uma reviravolta. O jovem sabe bem o que é colher os lucros de uma boa luta. É o atual vice-campeão brasileiro, recebe apoio financeiro e diz ter mudado de vida. Depois que disputou o campeonato brasileiro e apareceu na TV, em 2008, acabou conhecendo o pai.
Continua depois da publicidade
– O boxe simplesmente mudou a minha vida – relata o garoto.
Isso mesmo. O industriário Alexandro Lopes da Silva, 36 anos, viu a reportagem sobre a garotada do boxe na RBS TV e não acreditou: o menino na televisão tinha o mesmo nome, aparência e jeito de falar. Investigou e descobriu: o garoto era o filho que ele nunca conhecera. Aproximou-se do grupo sem se identificar. Era véspera do campeonato.
Quando estava no ringue, comemorando o vice-campeonato, o menino recebeu então duas notícias: a primeira é que tinham conseguido energia elétrica para a sua casa em São Leopoldo. A segunda, que o pai queria conhecê-lo.
– Agora eu sei quem é meu pai, e ele me ajuda como pode. Me ajuda a pagar a conta da luz – conta o garoto.
– Agora estou com a minha consciência tranquila. O guri estava passando necessidade, e eu não sabia – acrescenta o Alexandro pai.
Continua depois da publicidade
Uma história bonita, mas não mais importante do que as dos companheiros do vice-campeão, todos beneficiados pela inspiração que o “professor” Tiago da Silva teve um dia.
– Dei graças a Deus que encontrei o esporte. Pensei um dia: se foi bom para mim, poderia ser bom para essas crianças. Na vila elas não têm oportunidades, já viram os amigos morrerem, uns na frente dos outros. Com o esporte, parei de brigar, comecei a ganhar respeito na sociedade. Passei a ser visto como atleta e quero passar isso a eles – resume Tiago.
Chegar a resultados como esse, porém, exige muito trabalho. Na sede da associação onde eles treinam, tudo é improvisado.
Os longos bancos de madeira dão forma ao quadrado onde as lutas são simuladas. Não há moleza para os garotos que decidem encarar o treinamento. Tiago é durão com as notas e a frequência na escola.
Continua depois da publicidade