Morar em uma selva de pedra, na tranquilidade do campo ou em frente a uma praia bucólica. Ao pensar nessas opções, a mente pode ir bem longe. No aspecto urbano, é difícil não imaginar as ruas de megalópoles como São Paulo, Nova Iorque, Tóquio e todo o agito e as luzes que colorem as noites. Ao falar de praias paradisíacas, o pensamento pode sugerir de imediato o Caribe, a Tailândia ou o Nordeste brasileiro. Se o tema for paisagem rural, a imaginação pode pintar os traços do Pampa Gaúcho, o relevo da Toscana ou os campos serranos no inverno catarinense.

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Caderno de Floripa
Foto: Fotos Marco Favero / DC

Embora todos esses lugares mereçam o reconhecimento pelo charme que ostentam, não é preciso percorrer milhas para encontrar no mesmo lugar cenários tão distintos. Florianópolis, que completa 345 anos, carrega, em escala própria e singular todos esses traços. Bairros como o Centro, lares de muralhas formadas pelos prédios comerciais e residenciais, e a Trindade, refúgio da intensa vida universitária, provocam a sensação de se habitar uma metrópole. 

Ao mesmo tempo, ao andar alguns quilômetros para o sul ou para o norte, chega-se a praias como Matadeiro ou Ponta das Canas, ideais para recarregar as energias com um banho de mar enquanto se vislumbra o horizonte.

Os aspectos litorâneo e urbano são os mais conhecidos de Florianópolis, mas a cidade tem mais a oferecer. Mesmo carregando o título de Capital, o município abriga no recôndito da Ilha de Santa Catarina uma população do campo significativa, em antigas comunidades como Ratones e Sertão do Ribeirão. Conforme o Censo do IBGE, de 2010, mais de 15 mil pessoas preservam o modo de vida rural.

Professor de História e Cultura das Cidades pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Reinaldo Lindolfo Lohn afirma que a distribuição da população por Florianópolis é um traço do projeto português de ocupação da segunda metade do século 18. A intenção da metrópole colonial, com a vinda dos imigrantes açorianos, era a criação de uma economia agrícola forte, que servisse de sustentação militar da região. Na prática, esse processo não prosperou, e se formaram pequenas comunidades agropesqueiras, como nos Açores.

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– A população ficou extremamente rarefeita nos primeiros séculos – ressalta o historiador.

Conforme Lohn, o processo mais intenso de urbanização começou na década de 1970, com a chegada de pessoas de outras regiões. Antes disso, ao longo do século 19, a burguesia comercial da Capital teve que conviver com essa mistura de urbano e rural, mesmo no distrito sede, que abriga hoje a região central. Segundo o professor, eram comuns as reclamações de comerciantes mais abastados sobre o mau cheiro provocado por animais dentro e nas proximidades do Centro.

Para o prefeito Gean Loureiro, a permanência desses diferentes perfis de ocupação é um “ativo” de Florianópolis que precisa ser valorizado. Loureiro defende a manutenção dos chamados modos de vida “tradicionais” como forma de resgatar as raízes culturais e contribuir para o desenvolvimento do município, com a ampliação do turismo:

– Obviamente, não queremos que a cidade volte a ser somente agrícola. O desafio é buscar desenvolvimento para melhorar a qualidade de vida sem perder esse charme dos cantinhos rurais, preservando uma tradição de gerações.

Nas páginas a seguir, conheça o que estimula Júlia, Seu Zeca, Baga, André, Sonia e BL, personalidades que retratam a versatilidade, a preservar seu modo de viver no campo, na praia ou na cidade. E entenda a trajetória de Florianópolis como congregadora de estilos diversos nestes quase três séculos e meio de história.

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