A entrada do comunicador Fausto Silva, o Faustão, na fila do Sistema Único de Saúde (SUS) para fazer um transplante de coração jogou luz sobre o assunto em que Santa Catarina é referência nacional e tem reconhecimento internacional: transplante de órgãos. Internado em São Paulo, Faustão faz parte de uma fila que pode chegar a 540 dias, enquanto por aqui, o tempo médio de espera é de 3,8 meses.
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Em 2021, a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos reconheceu SC como o estado que fez o maior número de doações efetivas de órgãos para transplantes. De acordo com os dados do Registro Brasileiro de Transplantes, o Estado liderou a lista com uma taxa de 40,5 doadores de órgãos por milhão de habitantes.
Com relação às filas de espera, conforme dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o estado de São Paulo, onde Faustão está internado, possui a maior fila de espera do país. O próximo estado da lista é Minas Gerais, seguido do Rio de Janeiro. Santa Catarina possui apenas uma pessoa no aguardo de um transplante de coração.
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Segundo Joel de Andrade, médico coordenador da SC Transplantes, Santa Catarina historicamente possui uma fila de espera pequena. Ele destaca que o critério para aceitação de doadores cardíacos normalmente é mais restritivo:
— Se você pegar 100 doadores, por volta de 80 a 90 vão poder doar rim e fígado, mas o número de doações para transplante cardíaco vai ser muito mais restrito — avalia, citando que em caso de doadores idosos, por exemplo, nem sempre o coração pode ser aproveitado.
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Por outro lado, há um número considerável de corações doados em Santa Catarina que ajudam pacientes de outros estados próximos, como Rio Grande do Sul, Paraná e até São Paulo. De acordo com o médico, até julho deste ano foram captados 20 corações de doações, e desses, 16 foram enviados a outros estados.
Doações que salvam vidas
Em Santa Catarina, 56 transplantes cardíacos foram feitos de 2000 a 2023. Entre os procedimentos cirúrgicos está o de Arlene Martins, 62 anos. Ela tem o tipo sanguíneo B negativo e precisou ficar internada por cinco meses e meio à espera de um transplante. Parte desse período passou em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com a ajuda de aparelhos. Diagnosticada com cardiopatia, ela conta que a demora maior foi para conseguir entrar, de fato, na lista de espera pelo órgão, em setembro de 2018:
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— Diziam que poucas pessoas tinham meu tipo de sangue, o tamanho também contava, que era difícil.
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Depois de conseguir entrar na fila, no entanto, esperou apenas um mês até que aparecesse um coração compatível:
— O médico me dizia: “Tu foi um milagre. O que te salvou foi a tua paciência” — conta Arlene.

A moradora de Jaraguá do Sul reforça a importância da doação de órgãos:
— É uma bênção, só temos a agradecer a quem se conscientiza e opta pela doação de órgãos.
Os esforços da saúde pública para salvar vidas através do transplante de órgãos não são em vão. Nilson Stahnke, 53 anos, de Blumenau, vive graças a um coração novo:
— Fui acometido de dois infartos, em 2009 e 2010. Fiquei estabilizado com medicamentos, até o ano de 2019, quando a minha vida não era mais compatível com meu coração. Passei a viver um dia de cada vez — relembra Stahnke.
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Após uma série de testes no Hospital Santa Isabel, ele entrou na lista de espera. Entre junho e julho de 2020 apareceram dois doadores, mas por problemas de pneumonia, a cirurgia de transplante não foi autorizada. No dia 13 de outubro de 2020, Stahnke recebeu a notícia de que havia um doador, e no dia seguinte fez o transplante.
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Ele lembra que a cirurgia e a recuperação foram tranquilas, e que 20 dias após o procedimento estava em casa. Hoje, Stahnke vive bem, e é grato a família do doador:
— Só estou vivo porque a família, mesmo em luto, teve a bondade de fazer a doação. Serei grato ao meu doador eternamente. Uma vida perdida pode salvar muitas outras — diz, emocionado.
O valor da doação
Assim como Faustão, Odelir Comerlato, 53 anos, também sofria de insuficiência cardíaca e precisava de um transplante cardíaco. O catarinense de Fraiburgo teve que aguardar por 14 meses na fila de espera pela cirurgia. Ele possui o tipo sanguíneo B negativo, o que torna mais desafiador a busca por um órgão compatível.
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Enquanto aguardava pelo transplante, Comerlato mudou-se com a família do Meio-Oeste do Estado para Indaial, para ficar mais próximo de Blumenau, onde fica o Hospital Santa Isabel, único do Estado que faz a cirurgia.
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O catarinense já está há cinco anos transplantado e conta que atualmente não sente mais sintomas da doença. Ele e a família voltaram a morar em Fraiburgo, e seguem a vida normalmente. Atualmente, a frequência de consultas de rotina para verificar o comportamento do órgão é a cada quatro ou cinco meses.

Comerlato reforça como é grato pelo doador:
— Um dia depois da cirurgia, a minha família já foi atrás da família dele. Ele tinha 33 anos e morava no mesmo bairro que eu. Até hoje, visito a mãe dele — diz.
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Para ser doador de órgãos no Brasil o passo inicial é dialogar com a família e assegurar que ela esteja ciente do desejo. Isso ocorre porque, de acordo com a legislação brasileira, os transplantes após o falecimento podem ser feitos apenas caso haja autorização dos familiares.
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O falecimento de um ente querido é um momento desafiador para toda a família. Contudo, é precisamente nesse período de luto que a dor pode se converter em um gesto de esperança, proporcionando a oportunidade de dar uma nova chance de vida a pessoas que aguardam em filas de espera pelo transplante de órgãos ou tecidos. Foi com o carinho dos que optaram em ser doadores, que vidas como a de Arlene, Nilson e Odelir foram salvas.
*Com informações de Jean Laurindo.
**Maria é estagiária e atua sob a supervisão de Everton Siemann
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