Discutir se chegam a 500 mil os argentinos que ocuparam como uma horda bem alinhada as principais artérias de Buenos Aires quinta-feira à noite é reducionismo, assim como especular se houve conspiração no movimento orquestrado via redes sociais, uma vez que os líderes evitam expor seus nomes. O que resta do protesto conhecido como “8N” (8 de Novembro) é o que está por vir.
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Uma série de mobilizações consta na agenda pública até o final do ano, incluindo movimentos sindicais e o chamado “7D”, a data de entrada em pleno vigor da chamada Lei da Mídia – que obrigará grupos de comunicação, como o Clarín, a se desfazer de algumas das suas empresas, sob acusação de monopólio.
A imagem que fica é a que ilustra esta página: ao redor do obelisco de Buenos Aires iluminado com as cores da bandeira argentina (azul e branca), os manifestantes pediam segurança e liberdade. Panelas em punho, gritaram contra a presidente Cristina Kirchner mudar a Constituição para conseguir a segunda reeleição. E o fizeram depois de minuciosa organização pela internet.
O historiador Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Maioria, diz:
– Tivemos o maior protesto em uma década de kirchnerismo. É um protesto que não vem da política, mas sua manifestação é política, contra o governo e a re-reeleição.
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O evento ganhou relevância nas redes sociais, onde se originou. No Twitter, a hashtag #8N foi a mais utilizada em Buenos Aires ontem, acompanhada de #C5N, #Ayuso e #agresion, em referência à agressão a jornalistas da emissora C5N. Os manifestantes postaram 1,9 mil fotos só no Instagram.
Não havia, aparentemente, grupos políticos ou sindicais por trás do movimento. Foi o mesmo fenômeno ocorrido em 13 de setembro último. Para os próximos dias, um evento diferente está em gestação: um protesto organizado por entidades deve ocorrer ainda em novembro, trazendo uma agenda econômica, com greve geral e cortes de estradas.
“Sobra governo, falta
Estado”, diz slogan
A aglomeração de quinta-feira, porém, formou-se a partir da troca de mensagens virtuais e se consolidou na Avenida de Mayo, partindo para outras artérias portenhas e construindo sua imagem indignada na Avenida 9 de Julio, em frente ao Obelisco. Mais que isso: houve manifestações, aos gritos de “Sobra governo, falta Estado”, “Não votei nela”, “Isto é para Cristina, que está assistindo pela TV”, “Está muito mal, mentindo para o povo em cadeia nacional”, “Não sou seu inimigo, só penso distinto”, “Sim à democracia, não à reeleição” ou “Liberdade, liberdade, liberdade”, em diversas cidades importantes. Foram os casos de Córdoba, Mendoza e Rosario. E, ainda, em países europeus, na Austrália, nos EUA e no Brasil – um grupo se reuniu para protestar em frente ao argentino Banco de la Nación, em São Paulo.
– Havia, nas manifestações, forte presença de protestos políticos e institucionais em lugar dos econômicos. E havia um consenso contra a insegurança. Por isso, a nítida maioria de mulheres. Elas temem que seus filhos sejam a próxima vítima – disse o analista político Joaquín Morales Solá.
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