*Por Cade Metz e Erin Griffith

Se havia lugar preparado para a quarentena, esse lugar era Milton Keynes. Dois anos antes da pandemia, uma startup chamada Starship Technologies implantou uma frota de robôs de entrega na pequena cidade, cerca de 80 quilômetros a noroeste de Londres.

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Os robôs de seis rodas transportavam mantimentos e encomendas de jantar para casas e escritórios. À medida que o coronavírus se espalhou, a Starship adaptou ainda mais a frota para entregas de supermercados. Moradores como Emma Maslin podiam comprar na loja da esquina, sem contato humano. "Não há interação social com um robô", disse Maslin.

A utilidade súbita dos robôs para as pessoas que permanecem em casa é um indício tentador do que as máquinas poderiam um dia realizar – pelo menos em condições ideais. Milton Keynes, com uma população de 270 mil habitantes e uma vasta rede de ciclovias, é perfeitamente adequada para robôs com rodas. A demanda tem sido tão alta nas últimas semanas que alguns moradores passaram dias tentando agendar uma entrega.

Nos últimos anos, empresas desde o Vale do Silício até Somerville, em Massachusetts, investiram bilhões de dólares no desenvolvimento de tudo, de carros autônomos a robôs de armazém. A tecnologia está melhorando rapidamente. Os robôs podem ajudar com entregas, transporte, reciclagem, fabricação.

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(Foto: Ben Quinton / The New York Times)

Mas mesmo tarefas simples como a entrega robótica ainda enfrentam obstáculos técnicos e logísticos. Os robôs em Milton Keynes, por exemplo, não podem carregar mais do que dois sacos de mantimentos. "Você não pode fazer uma compra grande. Não estão fazendo entregas das grandes lojas", observou Maslin.

Uma pandemia pode aumentar a demanda, mas não muda o que pode ser implantado, afirmou Elliot Katz, que ajuda a executar a Phantom Auto, uma startup que ajuda as empresas a controlar remotamente veículos autônomos quando estes encontram situações que não conseguem contornar por conta própria. "Há um limite para o que um bot de entrega pode trazer a um humano. Mas você tem de começar de algum lugar", disse Katz.

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(Foto: Ben Quinton / The New York Times)

Fundada em 2014 e apoiada por mais de US$ 80 milhões, a Starship Technologies está sediada em San Francisco. Ela implantou a maioria de seus robôs em câmpus universitários nos Estados Unidos. Equipados com câmeras, radares e outros sensores, eles navegam combinando os arredores com mapas digitais desenvolvidos pela empresa em cada local.

A empresa escolheu Milton Keynes para uma implantação mais ampla em parte porque os robôs poderiam navegar com relativa facilidade. Construída após a Segunda Guerra Mundial, a cidade foi cuidadosamente planejada, com a maioria das ruas dispostas em grade e ciclovias e faixas de pedestres, chamadas "redways", correndo ao lado delas.

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Quando os robôs da Starship chegaram a Milton Keynes, uma das cidades que mais crescem na Grã-Bretanha, Liss Page os achava bonitinhos, mas sem sentido. "A primeira vez que vi um, ele estava preso na calçada em frente à minha casa", contou ela.

Então, no início de abril, ela recebeu uma carta do Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês) aconselhando-a a não sair de casa porque sua asma e outras condições a tornavam particularmente vulnerável ao coronavírus. Nas semanas seguintes, os robôs forneceram a conexão necessária com o mundo exterior.

Entregas menores se adequam a Page porque ela mora sozinha. Vegana, ela pode pedir leite de nozes e margarina e receber tudo em sua porta. Mas, como as vans de supermercado que entregam pedidos maiores por toda a cidade, os robôs da Starship são limitados pelo que existe nas prateleiras. "Você inclui no pedido coisas de que realmente não precisa para fazer a taxa de entrega valer a pena. Com a última entrega, só consegui coisas de que não precisava", disse Page.

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(Foto: Ben Quinton / The New York Times)

Residentes como Page fazem suas encomendas mediante um aplicativo para smartphone. Eles normalmente pagam uma libra (cerca de US$ 1,20) por cada entrega, mas, em Milton Keynes, a Starship elevou o preço para até duas libras durante os horários mais movimentados, na tentativa de distribuir a demanda ao longo do dia.

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Os robôs entregam mantimentos para médicos, enfermeiros e outros funcionários do NHS de graça. Eles até se juntam ao tributo de quinta-feira à noite ao NHS, piscando seus faróis enquanto os moradores aplaudem da porta de casa. A frota de 80 robôs em breve se expandirá para cem.

Embora essa possa ser a implantação mais extensa de robôs de entrega no mundo, outras surgiram nos últimos anos. Em Christiansburg, na Virgínia, Paul e Susie Sensmeier podem solicitar entregas de farmácias e padarias via drone voador. A Wing, uma subsidiária da empresa mãe do Google, a Alphabet, oferece entregas por drone na área desde o fim do ano passado.

Eles podem pedir macarrão penne, molho marinara e papel higiênico. Mas não podem encomendar medicamentos prescritos – os drones são abastecidos em um armazém da Wing, não em uma farmácia – e, como os robôs em Milton Keynes, os drones têm um limite do que podem transportar. "Só consigo encomendar dois muffins ou dois croissants", afirmou Susie Sensmeier, de 81 anos.

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(Foto: Ben Quinton / The New York Times)

Empresas como a Wing e a Starship esperam expandir esses serviços e melhorar suas habilidades. Agora há um novo estímulo. "Da noite para o dia, a entrega passou de uma conveniência para um serviço vital. Nossas frotas estão trabalhando sem parar, 14 horas por dia", informou o executivo-chefe da Starship, Lex Bayer.

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Em Milton Keynes, a Starship gradualmente expandiu o alcance de seu serviço, dobrando sua frota e se unindo a várias novas mercearias. Recentemente, começou a funcionar em Chevy Chase, em Maryland, não muito longe de Washington.

Page, analista de negócios de 51 anos que mora em Milton Keynes há mais de um quarto de século, acredita que o serviço pode se tornar um negócio viável. "Parecia um projeto supérfluo antes. A pandemia deu a eles uma plataforma para lançar um negócio de verdade."

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(Foto: Ben Quinton / The New York Times)

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