Episódios como o ocorrido em Itajaí entristecem e devem ser repelidos com todo o vigor pela sociedade, que tem o dever de combater incessantemente a violência.

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Orepugnante ataque a um morador de rua em Itajaí na manhã de ontem expõe mais uma vez a vulnerabilidade de cerca de 1,8 milhão de pessoas do país, segundo os dados oficiais, que vivem nessa situação. Atos assim dão margem a questionamentos sobre o papel do poder público no enfrentamento dessa delicada questão social e principalmente sobre a ausência de valores de indivíduos capazes de tal violência. Não é a primeira nem a segunda vez que atrocidades como essas são noticiadas – quem não lembra da comoção nacional pela morte do índio pataxó Galdino, queimado vivo em Brasília em abril de 1997. Episódios como esse entristecem e devem ser repelidos com todo o vigor pela sociedade, que tem o dever de combater incessantemente a intolerância.

Levantamento do Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores (CNDDH) revela que a cada dois dias um morador de rua é assassinado no Brasil, estatística que revela uma higienização calcada em uma discriminação muito grande por parte da sociedade em relação a essas pessoas invisíveis que vivem perambulando pelas cidades – muitos deles como zumbis consumidos pelo crack e sujeitos a execuções pelos traficantes que lhes vendem as drogas.

É uma face perversa da nossa sociedade que precisa receber atenção urgente das prefeituras, dos governos estaduais e do Executivo federal com projetos multidisciplinares e que tenham como ponto de partida o grau de complexidade do problema. Há uma expressiva população sem teto -que vive nas calçadas e sob viadutos, marquises e pontes – e raríssimos exemplos de políticas públicas eficientes para diminuir esse contingente, oferecendo oportunidades reais para que esses homens e mulheres tenham condições de uma vida digna.

Não é só uma questão de saúde pública. Não é só um desafio para as áreas de assistência social. Não é só batalha de reinserção na vida produtiva. E muito menos só um trabalho de repressão das forças de segurança. É uma operação que envolve todas essas ações de forma concomitante e permanente. Infelizmente, a sociedade já se habituou a ignorar essas pessoas que estão dia e noite nas ruas. E isso ajuda a explicar a omissão e a inoperância oficial a respeito.

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No caso de Itajaí, é essencial que a investigação policial avance no sentido de responsabilizar quem ateou fogo no homem que dormia em um papelão e que teve queimaduras de segundo grau em pelo menos 50% do corpo. Só assim essa cena de barbárie tenderia a se repetir cada vez menos.