Já aconteceu de, durante as preliminares, eu ver o bebê chutando ou a barriga se mexendo. Daí tem que dar um tempo e recomeçar – diverte-se Celso Ricardo Correa da Silva, 32 anos, marido de Kelli Paukner, 28, grávida de seis meses.
Continua depois da publicidade
É assim, de uma maneira leve e divertida, que o casal de São José está levando esse período tão esperado e cheio de descobertas. Alterações estéticas, hormonais e principalmente emocionais, sofridas pela mulher durante a gestação, influenciam bastante no relacionamento sexual do casal – algumas vezes, de maneira positiva. Muita gente jura que vê o desejo aumentar. Uma pesquisa realizada pelo site BabyCenter no Brasil, com quase 1,8 mil pais e mães, revelou que 56% das mulheres que participaram da enquete viram o desejo aumentar em alguma fase da gravidez.
– A sexualidade do ser humano é muito complexa pra colocar todos no mesmo contexto. Normalmente, se o casal já tinha problemas antes, terá também durante esse período – explica Marco Antonio Borges Lopes, ginecologista e especialista em Medicina Fetal do Fleury Medicina e Saúde.
Celso Ricardo, que havia conversado com os amigos pais assim que soube da gravidez de Kelli, já estava preparado para enfrentar uma TPMde nove meses.
– Achei que seria bem pior. Estou muito surpreso porque estamos levando numa boa – comemora ele.
Continua depois da publicidade
Kelli admite que a frequência diminuiu um pouco em função da sonolência constante que sente.
– Nunca fui tão boa de cama — declara sorrindo, ao se referir não ao apetite sexual, mas ao sono.
Mas, segundo ela, a vontade segue a mesma.
– É que a gente fica mais preguiçosa, com mais sono. As vontades são as mesmas. Também evitamos fazer muitas loucuras – comenta Kelli, grávida pela primeira vez depois de seis anos de casada.
O fato é que, durante a gravidez, o desejo da mulher pode variar tanto quanto o tamanho da barriga. Embora a pesquisa realizada pelo BabyCenter não tenha cunho científico, ela indica o que muitos médicos e psicólogos já observam nos consultórios: principalmente no segundo trimestre da gravidez, o desejo da mulher pode ser maior do que antes da gestação.
– Nessa fase, o corpo dela mudou um pouco. Ficou com mais seio, a barriga cresceu um pouquinho mas ainda nada que impeça a flexibilidade – explica a psicóloga e sexóloga Sandra Vasques, que trabalha Instituto Kaplan.
Continua depois da publicidade
É mais ou menos essa segunda fase que Maria Fernanda Mota, 26 anos, está vivendo agora.
– No primeiro trimestre enjoei demais. Mas agora, no quarto mês, tenho mais desejo. Acho que as coisas ficam mais sugestivas. Tudo me remete à sexualidade – conta.
A mudança que Maria Fernanda viu acontecer não diz respeito apenas a questões físicas, hormonais ou psicológicas. A liberdade de se declarar amante, além de mãe, chegou há pouco.
– A mulher cada vez mais está se apoderando do direito de exercer a maternidade sem deixar de ser mulher e amante. Existem muitos valores antigos que tentam jogar a mulher só para a condição de mãe. Muitas vezes esses valores antigos prevalecem, como se a mulher-mãe não pudesse pensar em sexo. A mulher pode ser uma ótima mãe e uma ótima amante.
Tempo de mudanças
Peitos e quadris maiores e circulação sanguínea reforçada na região pélvica são alguns dos fatores biológicos que podem ampliar o prazer e o desejo sexual no mulher e no parceiro.
Continua depois da publicidade
– A vagina fica mais entumecida, com mais sangue e ela passa a ter mais prazer por causa disso – explica Luisa Guedes de Oliveira, ginecologista e obstetra.
Às vezes, o ganho de peso também pode afetar a autoestima da mulher.
– O ganho de peso às vezes se torna um problema, talvez ela não queira ser vista com aquele pneuzinho e ela acaba evitando o contato sexual – explica Marco Antonio Borges Lopes, ginecologista e especialista em medicina fetal do Fleury Medicina e Saúde.
Ma será que os homens se importam com isso?
– Tem casos nos quais a mulher se sente feia sem saber que, na verdade, muitos homens acham a mulher grávida linda – diz Luisa.
Aproveitar as mudanças para explorar o sexo de uma maneira nova e diferente pode ser uma boa dica.
– O principal fator responsável pelo aumento do desejo é a mudança do corpo. Muitas mulheres se curtem bastante, mas isso não é generalizado. Se o médico liberou e o casal está curtindo, tem mais é que aproveitar. Nesse período é possível, por exemplo, explorar essas mudanças como possibilidades de incrementar o sexo – defende a psicóloga e sexóloga Sandra Vasques.
Continua depois da publicidade
Jogos sexuais devem ser variados
Penetração pode machucar o bebê? Sexo precipita o trabalho de parto? Mitos e tabus podem frear descobertas do período. Esses medos não são justificáveis em uma gravidez saudável.
– É possível manter o ato sexual até o último dia. Mas se há contração, a mulher vai limitar o sexo, principalmente o coito. Nesse caso, a alternativa são os jogos sexuais. As contraindicações são claras e o médico vai falar delas, se for o caso – explica a ginecologista e obstetra Luisa Guedes de Oliveira.
Mesmo assim, o medo de prejudicar o bebê com o sexo ronda a cabeça de muitas gestantes e acaba minando o desejo. A médica observa que a maioria sente menos desejo. Principalmente por causa deste medo.
– Alguns homens acham que a penetração pode alcançar o feto. Isso não acontece. Existem muitas camadas até chegar lá. Por isso, é importante que o casal traga esse assunto para o consultório.
Continua depois da publicidade
O medo de colocar a gravidez em risco é recorrente com a arquiteta Taís, de Blumenau.
– Quando fazemos sexo, é tudo muito cauteloso, mas perdeu um pouco a graça. Se antes um olhar diferente já bastava, hoje parece que preciso de mais estímulo para ficar com vontade – conta, aos três meses de gestação.
Enão são apenas as mulheres que sentem esse temor.
– Tenho outras amigas que estão grávidas e noto que o receio é mais do homem – relata Kelli Paukner.
O marido de Kelli confessa:
– Às vezes bate um temor na hora do sexo sim. Um medo de acabar machucando o bebê.
A psicóloga e sexóloga Sandra Vasques afirma que se a gestante fez todos os exames no médicos e ele liberou o sexo, ela pode ter relação sexual à vontade.
– Não há como o pênis alcançar o bebê. O colo do útero tá fechadinho lá em cima e o bebê tá dentro de um saco que é a placenta, onde ele fica protegido. Ou seja, não tem jeito mesmo – reafirma.
Continua depois da publicidade
A questão mais discutida entre os médicos é a do sexo no final da gestação, lá pelo oitavo, nono mês.
– O bom senso deve falar mais alto. O próprio corpo da mulher vai dizer. Os trabalhos não mostram que a relação sexual desencadeie parto. No entanto, em gestantes de risco para parto prematuro orientamos a redução das atividades físicas e consequentemente das atividades sexuais – esclarece Mario Henrique de Carvalho, especialista em medicina fetal.
Um dado interessante: no esperma existe a prostaglandina, que é um hormônio envolvido no desencadeamento do trabalho de parto e preparados farmacológicos são utilizados para preparação e indução do parto. Mas, não está comprovado que a prostaglandina do espermatozóide induza ao parto.
A curva do desejo
:: Primeiro trimestre
O desejo pode dar uma esfriada pois a gravidez é uma novidade. A mulher tem reações como enjoo e tem aquele sentimento novo de estar gerando alguém. Nesse período, a gravidez consome muito a atenção dela.
Continua depois da publicidade
:: Segundo trimestre
O desejo em geral aumenta. A gravidez já não é novidade, a mulher relaxa e a barriga já cresceu um pouco mas ainda não a ponto de dificultar a relação sexual. Novidades no corpo da mulher, como o aumento dos seios e dos quadris, podem intensificar a vontade de curtir e explorar essas mudanças.
:: Terceiro trimestre
O tamanho da barriga dificulta a relação. Determinadas posições podem causar desconforto. A mulher fica mais incomodada e cansada.
Fonte: psicóloga e sexóloga Sandra Vasques
Dicas para esquentar
:: Sexo não é só penetração. Sexo oral e masturbação também são práticas sexuais prazerosas.
:: Posições podem ser adaptadas. À medida que a barriga cresce, a mulher costuma se sentir mais confortável com as posições em que a barriga fica “livre”. De lado, por exemplo, apoiando a barriga em uma almofada. Ou quando a mulher se coloca sobre o parceiro. É importante experimentar.
:: Também é gostoso abraçar e beijar. Muitos casais, acostumados a determinados jeitos de fazer sexo, se esquecem de que ficar junto, acariciar um ao outro e abraçar também são contatos íntimos. E isso, por si só, pode ser altamente afrodisíaco!
Continua depois da publicidade
:: O respeito aos próprios limites e aos do parceiro são essenciais. Sexo sem isso não funciona. Não dá prazer e não é saudável. Só assim é possível que o casal tenha uma gravidez com uma série de descobertas e prazeres.
:: A conversa com o companheiro(a) é tão importante quanto o papo sobre sexo no consultório do médico.
Fontes: psicóloga Laura Müller, autora do livro Altos Papos Sobre Sexo – Dos 12 aos 80 anos (Ed. Globo, 185 pgs, R$ 29,90) e ginecologista obstetra Luisa Guedes de Oliveira.