Poucas coisas podem nos decepcionar quando somos crianças. Muitas vezes não temos maturidade o suficiente para perceber quando são mesquinhos conosco, muito menos captar uma ironia mais profunda. Ao mesmo tempo, vivemos mais felizes. Principalmente por nos encantarmos com coisas simples, mas especiais. Inventamos as histórias mais incríveis para amigos imaginários que podem ter qualquer formato – neste caso específico, Legos. Assim, é facílimo se identificar com a história concebida pelos diretores Phil Lord e Christopher Miller: a nostalgia e a empatia em doses certeiras. Confiam não só na estrutura narrativa, mas no espectador. Em sua bagagem, sua experiência. Eu e meu pai, por exemplo, construímos uma cidade de Lego na minha infância. Na verdade, ele construiu, eu apenas brincava e inventava as histórias mais surreais. Claro que ele gostava que brincasse com os bonecos, mas de forma controlada, sem mexer demais ou destruir alguma coisa, com regras. Essa não é só a minha infância, mas a do pequeno que controla a cidade de Lego no filme. É a premissa mais interessante da animação: o nosso relacionamento com nossos pais e o auge da nossa imaginação juvenil. Claro que Uma Aventura Lego se compara quase que por princípio a filmes como Detona Ralph e Toy Story, pois nasce como essa aventura sentimental de um menino (“a mão do homem lá de cima”) que enxerga amizade em seus bonecos e de personagens que subvertem as regras pela felicidade própria, mas impressiona mais pela forma como expõe nossos pensamentos. Como calculamos cada aspecto que iremos colocar aqui e ali, além do timing para isso. Não à toa, o garoto usa as coisas que têm na mão: uma arma de chiclete, as placas de avisos que o pai deixava no porão, o som feito pela boca que é brilhantemente utilizado pela edição de som e uma cola que se torna o obstáculo da história (de novo, uma criança não quer ficar parada, a perda do movimento é logicamente algo assustador). Da mesma forma, os personagens se tornam mais conhecidos, a montagem pode acelerar a trama como quiser (o que rende sequências geniais) e as mensagens de autoajuda acabam encontrando significado: afinal, mesmo que a criança seja a mais imaginativa possível, não dá para cobrar profundidade – e isso é muito mais inteligente do que poderíamos supor.

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