A Noruega é um desses lugares que nem todo mundo inclui na lista para ser visitado. Dá para entender. Tirando o fascínio pela aurora boreal, o bacalhau talvez seja, no imaginário da maioria, o principal atrativo desse país localizado na península da Escandinávia.

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Essa imagem se desconstrói à medida que o visitante depara com a beleza exuberante de um fiorde. Ou da costa com cerca de 20 mil quilômetros, se levadas em conta as entradas profundas dessas reentrâncias mar adentro. Tal qual quando se observa a neve descongelando-se em forma de cachoeira no alto das montanhas branquinhas, escorrendo em forma de fenda na arquitetura rochosa e íngreme refletida no espelho de águas gélidas e profundas.

Pensamento que se altera também quando o visitante entra em contato com os privilegiados moradores do país. Em 2014, conforme a Organização das Nações Unidas, a Noruega atingiu um PIB per capita acima de US$ 100 mil, feito inédito no mundo. No país com cerca de 4,8 milhões de habitantes, o serviço de saneamento ambiental atende a todas as residências, e a taxa de mortalidade infantil é baixíssima: três óbitos para cada mil nascidos vivos. Todas as pessoas acima de 15 anos são alfabetizadas.

No verão, as águas de Oslo viram destino para os banhistas

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Foto: Nancy Bundt, Innovation Norway, divulgação

A economia se baseia na pesca, principalmente do bacalhau, e na extração de petróleo e de madeira. A história do país está ligada aos vikings, que tiveram papel importante na cultura norueguesa e na mitologia nórdica.

O visitante terá ideia disso na hora de comprar um suvenir, tal a quantidade de vikings em gravuras, camisetas, louças, imãs, entre outros.

E eles não estão apenas em espaços especiais, como no Vikingskipshuset, o Museu do Navio Viking, em Oslo. Os guerreiros ainda ocupam uma reserva especial na memória, ainda que vítimas de falsas imagens criadas no século 19 usando capacetes e chifres. Mas nada disso tira a autenticidade da Noruega, lugar que sempre estará na minha relação dos países a serem (re)visitados.

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A cinzenta e bela Oslo

Aproveitar a primavera na Noruega (a partir de março) é uma boa. Por lá, os dias são mais longos, com sol até 21h30min. Como o hábito é jantar cedo, por volta das 18h30mim, dá a sensação de que não escurece nunca. Mas os noruegueses dizem que todo mundo volta de Oslo, a capital com 580 mil habitantes, com um guarda-chuva novo na mala. Eu não! Mas trouxe de lembrança a capa de chuva oferecida pela guia de turismo.

Apesar de os dias poderem ser cinzentos, Oslo merece uma visita. A cidade tem o maior nível de desenvolvimento humano, segundo as Nações Unidas, e também é ali que é entregue o Prêmio Nobel da Paz.

Quando cheguei, o céu estava fechado e, em seguida, começou a chover. Em plena primavera, a temperatura era de 8°C. Fizemos o primeiro passeio pela cidade. Uma parada no porto de Oslo, o Aker Brygge, onde andamos no píer e fizemos algumas fotografias.

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Também vimos a Oslo Opera House, em mármore e vidro, em que o branco da construção se destaca. Pena que chovia, pois em dias de céu aberto o prédio contrasta com a cor do mar. O edifício futurista fica à beira do fiorde de Oslo. Passamos pela prefeitura Radhuset, pelo Teatro Nacional, pela Universidade de Oslo e pelo Parlamento (Stortinget).

Na Galeria Nacional, ouvimos sobre a história dos quadros do norueguês Edvard Munch e de Renoir e Picasso.

O prédio do Parlamento (Stortinget)

Foto: Kurt Hamann, Innovation Norway, divulgação

O parque das esculturas

Uma caminhada pelo Parque Vigeland é imperdível, para conhecer as 212 esculturas do artista Gustav Vigeland. É necessário dedicar algumas horas para ver todas as obras feitas de bronze, granito e ferro forjado, construídas entre 1939 e 1949. Vigeland retratou o ciclo da vida do ser humano. Um dos trabalhos é o monólito com seus 121 corpos entrelaçados.

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Parque Vigeland

Foto: Nancy Bundt, Innovation Norway, divulgação

A cada ano, o parque recebe mais de 1 milhão de visitantes, que se admiram com a beleza das obras. Um dos destaques é a mão dourada do Sinnataggen, “o menino irritado”. Os moradores brincam que a criança está brava porque seus pais a obrigavam a todos os dias, em jejum, tomar uma colher de óleo de bacalhau. A verdade é que, assim como o pé da estátua de Pedro, o apóstolo, no Vaticano, ficou dessa jeito de tanta gente tocar. Por causa do desgaste, os vestígios da modelagem do autor desapareceram. A estátua, feita em 1928, é fundida em bronze, que reage com substâncias do ambiente para formar uma película fina que protege a superfície metálica.

O que também todo mundo vê em Oslo, inclusive pelo tamanho dos seus quase 150 metros de altura, é a Holmenkollen sky jump, a mais moderna pista de esqui do mundo. Leva-se meia hora para chegar lá partindo do centro da cidade, seja em metrô ou de carro. Ali são realizadas competições internacionais, e o visitante pode ainda visitar o Museu do Esqui, que apresenta a história do esporte ao longo dos últimos 4 mil anos. No lugar, há lojas de suvenir, café e um simulador de esqui.

A pista de esqui Holmenkollen sky jump tem quase 150 metros de altura

Foto: Susan Fraser, Innovation Norway, divulgação

A colorida Bergen

Bergen não deve ficar de fora do roteiro de quem visita a Noruega. Localiza-se ao sul do país e tem na área conhecida como Bryggen, resquício do antigo cais, um dos pontos mais bonitos. Maio é um mês bom para aparecer por lá. Dizem que, nesta época, seus habitantes andam mais bem-humorados devido ao reaparecimento do sol e do calor. Contam os moradores que chove cerca de 300 dias por ano.

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A história do lugar vem desde 1360, quando os Hansas, uma corporação de ofícios formada por mercadores alemães, fundou uma de suas bases de negócios no porto de Bryggen. A partir dali, eles iriam dominar o comércio pelos próximos 400 anos, controlando importações e exportações na região. Bryggen foi o centro nervoso de Bergen desde fins da Idade Média, mas quase sucumbiu a um inimigo poderoso, o fogo.

Em 1702, um incêndio dizimou a cidade. Inúmeros outros – o último ocorrido em 1955 – devastaram as tradicionais casas de madeira. Meia dúzia de casarões com fachadas coloridas foi salva e recuperada. Uma placa da Unesco sinaliza o lugar como Patrimônio Mundial. A atmosfera é de um museu ao ar livre.

Bryggen é a única área preservada que abrigou mercadores do período Hanseático

Foto: Andrea Giubelli, Innovation Norway, divulgação

Enquanto o cais é tomado por embarcações de tamanhos, modelos e bandeiras diferentes, lojinhas vendem artesanato, e trabalhadores e turistas se deslocam de bicicleta. No local, há restaurantes e estúdios de arte.

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Funicular leva a vista panorâmica da cidade

Ainda no Bryggen localiza-se o mercado de peixes. No lado de fora, ficam algumas bancas, com espécies recém-descarregadas dos pesqueiros. Um dos vendedores, especialmente, me chamou a atenção. Não exatamente ele, mas o objeto que mantinha sobre a mesa: uma cuia de chimarrão. O português Joel aprendeu a tomar mate com amigos brasileiros – não tem certeza se do Rio Grande do Sul ou do Mato Grosso do Sul – e, entre uma venda de salmão e outra, toma a bebida diariamente.

Alguns passos adiante fica o mercado fechado. O espaço é bem mais estruturado. O visitante terá à disposição uma infinidade de produtos como caviar de salmão, camarões e carne de baleia.

>> Caçada à aurora boreal em Tromso, na Noruega

Pode-se apreciar a beleza da cidade também do alto de uma das sete colinas. O funicular do Monte Floyen é uma boa alternativa para ter uma vista panorâmica da cidade. O trenzinho lembra o de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, e parte do Centro. A viagem é de cerca de 10 minutos. Dois bondes sobem e descem a montanha a cada 15 minutos durante os períodos de pico. No começo da manhã e no início da noite, isso ocorre a cada meia hora.

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Os bilhetes podem ser comprados nas máquinas ou no centro de informações turísticas na base do funicular. A dica é sentar perto das janelas e apreciar a paisagem. Como alguns moradores usam o meio de transporte, são feitas três paradas no caminho. A altura é de 320 metros. No alto, há um quiosque, um restaurante e lojinhas. Vale ficar até mais tarde e apreciar o pôr do sol. Antes de retomar o funicular, aproveite para fazer uma foto com o Tholl girante. A figura com nariz grande e orelhões enormes é típica. Dizem que dá sorte.

Euro? Não aqui

Há duas coisas que o turista deve prestar atenção nesse país que, apesar de ser da Europa, não aposta no euro. Oásis de prosperidade financiado pelo petróleo, a Noruega não se preocupou em participar da Comunidade Europeia devido a sua autossuficiência e à qualidade de vida. A moeda usual é a coroa norueguesa, a NOK. Na semana passada, a cotação era de R$ 2,79 para 1 NOK. Isso faz com que os preços sejam altos para o padrão brasileiro.

Uma cerveja chega a custar 80 coroas – ou quase R$ 30. Bom é que a bebida costuma ser de ótima qualidade, como as nossas artesanais, de cor escura, servida em temperatura ambiente e relativamente forte.

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>> Conhecendo a Suécia sobre quatro rodas

Outra dica é que o visitante pode se comunicar em inglês, especialmente na rede hoteleira. Mas os anfitriões gostam mesmo é do idioma oficial, o norueguês. Já que se está em um país de gente educada, pode-se ser gentil e aprender algumas palavras antes de pegar o avião. Agradecer com um “tkk” arranca sorrisos nórdicos.

Alce, rena e baleia no prato

Deixe de lado a ideia de comer bacalhau em qualquer esquina da Noruega. É bem mais fácil encontrar pratos à base de arenque e salmão. Este sim se faz presente do café da manhã, quase sempre defumado, aos marinados do jantar.

>> Leitor narra sua aventura por montanhas na costa escandinava

O famoso “Bacalhau da Noruega” tem sentido: o peixe de águas frias capturado pela frota norueguesa ganha os mares da exportação. Portugal e Brasil estão entre os principais importadores.

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Sendo assim: deixe o bacalhau para a volta. Aproveite para se deliciar com pães, saladas e frutos do mar. Se desejar – e sua consciência permitir -, experimente carne de alce, rena e baleia. Exóticas para nós, essas espécies são bastante apreciadas entre os nórdicos. Eles identificam a presença dessas carnes nos pratos com um desenho. Portanto, na Noruega, ninguém come gato por lebre.

*A repórter viajou a convite dos escritórios de turismo Innovation Norway/Visit Norway e VisitDenmark

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