Visitei a Colômbia nove vezes nos últimos quatro anos. Oito viagens foram de primeira classe, muito bem nutrido pelos livros de Gabriel García Márquez. Na última, em outubro de 2013, fui de econômica para afinal sentir o vapor quente, grudento, perfumado e inebriante do Caribe de Gabo. Como disse o escritor em sua autobiografia, é preciso viver a experiência para contá-la.
Continua depois da publicidade
As quatro cidades formam um roteiro turístico próximo das águas mornas do Atlântico, num caminho permeado pelo abacaxi mais doce que já provei, garrafas de rum e a invariável salsa brava ouvida no último volume.
Eu e minha namorada, Maellen, também aproveitamos o sol e o mar que deram fama à região, mas não foi só isso. Viajamos rodeados por personagens e delírios reais de livros como Cem Anos de Solidão e Ninguém Escreve ao Coronel. A escolha do nosso roteiro levou muito em conta o quanto de Gabo iríamos encontrar.
Continua depois da publicidade
Ir a um lugar depois de ler livros sobre ele é melhor do que assistir a um filme baseado em um romance, porque o ambiente está lá e pronto. Cabe ao viajante continuar imaginando sua história, com os protagonistas desgarrados no cenário real.
Onde Fermina Daza recebeu a primeira carta de Florentino
Foto: Rodrigo Stupp
Foi o que senti ao dobrar a esquina e esticar o pescoço para cima até ver a torre da Catedral de Cartagena, onde Fermina Daza recebeu a primeira carta do amor de febre e vômitos de Florentino Ariza e depois se casou com Juvenal Urbino em O Amor nos Tempos do Cólera. E foi do que me lembrei ao correr feliz da chuva grossa e aguda em Santa Marta, porque afinal era mesmo tempo das horizontais de outubro.
Quando Gabriel García Marquez morreu, vi de novo todas as cores vivas das fachadas dos casarões coloniais com sacadas, senti o calor inclemente, lembrei das matronas falantes que vi pelas janelas e voltei a cada praça arborizada que consegui me lembrar. E inventei um cheiro de amêndoas para honrar Urbino e suas memórias de amores contrariados e a árvore frondosa no pátio da casa de Aracataca onde o escritor passou a infância.
Continua depois da publicidade
Para quem quiser pegar o mesmo avião para Macondo e as outras três cidades, a última dica: Gabo, os Buendía, Fermina Daza, el Coronel, Manoela Sánchez e Sierva Maria nos esperam por lá.