O jejum intermitente é uma estratégia para perder peso que está na moda. Mas um novo estudo apontou que uma forma popular de jejum intermitente, chamada de alimentação com restrição de tempo, produzia uma perda mínima de peso e uma desvantagem em potencial: a perda muscular.
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A nova pesquisa, publicada no “JAMA Internal Medicine”, é um dos estudos mais rigorosos para examinar a alimentação com restrição de tempo, que envolve o jejum de 12 ou mais horas por dia. Muitos dos seguidores do regime, que se popularizou em livros de dieta e foi elogiado por celebridades, costumam pular o café da manhã e fazer todas as refeições entre o meio-dia e às oito da noite, resultando em um jejum diário de 16 horas.
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Pesquisas realizadas ao longo de anos sugeriram que a prática estimula a perda de peso e melhora a saúde metabólica, embora muitos dos dados tenham vindo de experimentos com animais ou de pequenos estudos de duração relativamente curta com humanos. Especialistas dizem que a dieta funciona porque dá às pessoas a liberdade de comer o que quiserem, desde que o façam em uma estreita janela de tempo, o que as leva a consumir menos calorias no geral.
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A nova pesquisa, porém, revelou que adultos com excesso de peso que foram designados a jejuar rotineiramente por 16 horas diárias, ingerindo todas as refeições entre o meio-dia e as oito da noite, popularmente conhecida como dieta 16:8, quase não tiveram nenhum benefício com isso. Ao longo do estudo de três meses, eles perderam uma média de somente um a um quilo e meio – apenas um pouco mais do que o grupo de controle – e a maior parte do peso que perderam não era gordura corporal, mas “massa magra”, que inclui músculo.
Embora seja normal perder alguma massa muscular quando se perde peso, o grupo que fez o jejum perdeu mais do que o esperado. Isso é preocupante porque o músculo oferece muitos benefícios à saúde: protege contra quedas e contra o desenvolvimento de deficiência física relacionada ao envelhecimento, e está relacionado a uma mortalidade mais baixa. Também aumenta o metabolismo e pode ajudar a evitar que o peso perdido durante a dieta retorne mais tarde. Os pesquisadores especularam que uma das razões para a perda muscular pode ter sido que a dieta de jejum levou as pessoas a consumir menos proteína.
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As novas descobertas foram surpreendentes para o autor principal do estudo, o dr. Ethan Weiss, cardiologista da Universidade da Califórnia, em San Francisco. Weiss vinha praticando a alimentação com restrição de tempo desde 2014, fazendo todas as refeições diárias entre o meio-dia e as oito da noite. No entanto, quando analisou os dados e viu os resultados de seu estudo, interrompeu o jejum diário e voltou a tomar o café da manhã. “Eu achava que ela funcionasse e eu mesmo a fazia, por isso fiquei surpreso com os resultados”, disse ele.
Mas alguns especialistas alertaram que o estudo foi muito curto para um experimento de perda de peso. Informaram que era muito provável que o grupo que fez o jejum tivesse perdido mais peso se o estudo fosse mais longo e incluísse mais participantes. Também enfatizaram que pesquisas anteriores mostraram que as pessoas apresentam melhores resultados quando consomem a maior parte das calorias relativamente no começo do dia, que é quando nosso corpo consegue metabolizar melhor os alimentos, em vez de pular o café da manhã e ingerir a maior parte dos alimentos à tarde e à noite, que vai contra nosso relógio biológico.
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Estudos descobriram, por exemplo, que adultos com sobrepeso perdem mais peso e apresentam mais melhorias nos fatores de risco cardiovascular quando comem um café da manhã grande, um almoço modesto e um jantar leve, em comparação a quando comem um café da manhã pequeno e um grande jantar.
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“Pode ser que os benefícios da alimentação com restrição de tempo sejam menores do que pensávamos, ou que os resultados melhores só apareçam ao comer no início do dia. O júri ainda está ausente”, observou Courtney Peterson, pesquisadora da Universidade do Alabama, em Birmingham, que estuda o jejum intermitente e que não participou do novo estudo.
Muitas culturas em todo o mundo praticam o jejum por motivos religiosos ou espirituais. Mas o jejum se tornou popular por razões de saúde depois que pequenos estudos sugeriram que ele promovia a longevidade e uma ampla gama de benefícios metabólicos, como melhores níveis de colesterol e redução da resistência à insulina. Algumas das outras opções comuns de jejum intermitente são o jejum em dias alternados, no qual a pessoa come não mais do que 500 calorias em dias alternados, e a dieta 5:2, que implica comer normalmente durante cinco dias por semana e jejuar durante dois.
Muitas pessoas, no entanto, têm dificuldade de passar um dia inteiro ingerindo pouca ou nenhuma comida. Krista Varady, professora de Nutrição da Universidade do Illinois, em Chicago, descobriu em sua pesquisa que as pessoas perdem peso mais lentamente com uma alimentação de tempo restrita do que com outras formas de jejum, mas que essa geralmente é a forma de jejum mais fácil de adotar. As pessoas tendem a comer de 300 a 500 calorias a menos por dia quando se restringem a uma janela de oito horas, comentou Varady, que não participou da nova pesquisa. “A melhor parte é que não há limitações durante a janela. Não há contagem de carboidratos ou de calorias, e as pessoas não precisam trocar todos os alimentos da despensa”.
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Varady disse que estava planejando iniciar um estudo com duração de um ano sobre a alimentação com restrição de tempo em um futuro próximo. “Acho fascinante que essa dieta tenha se tornado tão popular e ainda assim haja tão pouco estudo”, ressaltou.
Weiss se interessou pela alimentação com restrição de tempo depois de ler uma pesquisa que mostrou que os ratos que tinham acesso ininterrupto a alimentos ricos em gordura e açúcar engordavam e adoeciam, enquanto os que comiam os mesmos alimentos em uma janela de oito horas ficavam protegidos contra a obesidade e doenças metabólicas. O médico notou que não era muito difícil para ele pular o café da manhã e comer entre meio-dia e oito da noite.
Ele queria ver se a dieta poderia ser uma prescrição simples para as pessoas perderem peso; por isso, para o estudo atual, ele e um colega, Dylan Lowe, conceberam um experimento: recrutaram 116 adultos com sobrepeso e obesos e os dividiram em grupos. Um grupo, que serviu de controle, foi instruído a comer três refeições estruturadas por dia. O outro grupo foi designado a se alimentar somente entre o meio-dia e as oito da noite, tomando apenas bebidas não calóricas, como chá e café, fora dessa janela.
Os pesquisadores decidiram que seria socialmente mais aceitável para os participantes pular uma refeição de manhã do que à noite, quando poderiam jantar com a família ou com amigos.
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Os pesquisadores deram aos participantes uma balança digital e monitoraram seu peso por 12 semanas. Também fizeram com que 50 participantes, de ambos os grupos, fossem a seu laboratório quatro vezes durante o estudo para que eles pudessem medir os índices de gordura e de massa muscular, o nível de açúcar no sangue e o gasto de energia.
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O grupo que fez o jejum perdeu em média 900 gramas, apenas 200 gramas a mais do que o grupo de controle. Quando os pesquisadores examinaram os participantes que tinham visitado o laboratório para fazer o teste, descobriram que o grupo do jejum teve pouca ou nenhuma melhora na maioria dos marcadores metabólicos, embora tendesse a perder mais peso, um pouco mais de um quilo e meio. Isso foi cerca de um quilo e cem gramas a mais do que o grupo de controle, uma diferença estatisticamente significativa. Mas 65 por cento do peso que o grupo do jejum perdeu foi de massa magra – mais que o dobro do que é considerado normal quando há perda de peso.
Weiss disse que era possível que o grupo do jejum tivesse perdido uma quantidade incomum de músculos porque pular o café da manhã todos os dias fez com que a ingestão geral de proteínas despencasse. Mas isso poderia ser evitado: outros estudos descobriram que, enquanto estão em jejum, as pessoas podem manter os músculos ao fazer exercícios de resistência e consumir mais proteína durante a janela de alimentação. O pesquisador comentou que as descobertas precisam ser exploradas mais a fundo, mas que permanece cético em relação à alimentação com restrição de tempo. “Esse foi um estudo curto, mas suficiente para que eu me questionasse se isso funcionava – e, caso funcione, a magnitude do benefício é muito pequena”.