Tudo o que entendo de artes plásticas cabe em um post- it e ainda sobra espaço. De Miró, sei que nasceu em Barcelona e é um gigante da pintura, apresentado à geração de leigos na qual me incluo por meio do cartaz que fez para a Copa do Mundo de 1982, na Espanha. Deve ter sido por isso que fui convocado para visitar a exposição dele no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo: para contar as percepções de um catarinense “gente como a gente” – no caso, um mané da (não de, por favor) Laguna – diante das obras do catalão que estarão no Museu de Arte do Estado (Masc) a partir de setembro.

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Curador do Instituto Tomie Ohtake explica como será exposição de Miró em Florianópolis

Miró: Talento despertado na capital parisiense

A mostra, a maior já dedicada a Miró no Brasil, reúne 41 pinturas, 22 esculturas, 26 gravuras e três objetos, além de fotografias sobre sua trajetória. Das 112 peças pertencentes à Fundação Joan Miró e a coleções particulares, três estão sendo exibidas pela primeira vez. A exposição tem como subtítulo A Força da Matéria, por explorar os diversos suportes utilizados pelo espanhol com o propósito de romper com a concepção clássica da pintura de cavalete. Claro que só descobri isso após adentrar pelo seu universo.

Confira as imagens feitas pelo repórter no local

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O primeiro bloco concentra obras no estilo que o tornou facilmente reconhecível até para um tosco como eu: abstrações coloridas em tons primários, descritas com plaquinhas ao lado de cada uma. Mais do que informar nome, ano, técnica e proprietário, elas ensinam a ver o mesmo que o artista tinha em mente quando as criou. Depois de lê-las, é impossível não enxergar outra coisa que não as mulheres, pássaros, cabeças ou crianças identificadas nos títulos dos quadros.

O que me leva a conferir com outro olhar o pôster de Miró que ocupa uma das divisórias. Ele não tinha uma característica marcante como o bigode de Dali nem era um popstar como Picasso. O homem de cabelo curto e olhos pequenos, de camisa e gravata, parece um sujeito dos mais comuns, longe da ideia de um alucinado com o pincel na mão que seus quadros sugerem. Ao contrário dos hipsters atuais, era conservador no figurino e vanguardista na postura.

Acredite, foi da cabeça deste senhor que poderia ser confundido com um bancário que saíram as esculturas da seção seguinte. O que é isso, uma lata de tinta suja e amassada? Mais uma vez, as plaquinhas me socorrem: “Cabeça e costas de boneco, bronze, 1966.” Logo vi!

Em outro ambiente, uma sala escura projeta filmes a respeito do artista. Passo batido para o último compartimento da exposição, que dá uma noção geral do alcance de Miró, com mais quadros e gravuras em tela, madeira e papel.

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Interessante notar que, à medida que ele envelhecia, suas obras iam ficando menos coloridas, abusando do preto. Muitas delas não possuem nome nem assinatura, indício de que não foram concluídas. Resisto à tentação de associar o breu artístico com a escuridão final – Miró morreu em 1983, aos 90 anos. Aí já seria muita viagem para uma tarde só.