Em junho, a bola vai rolar no Hemisfério Sul. Enquanto isso, o sol brilha mais forte no Hemisfério Norte. Por lá é primavera e a paisagem floriu. As populações castigadas pelo frio intenso se deliciam com a proximidade do verão. Na Península da Escandinávia, formada por países como Noruega, Dinamarca e Suécia, a ausência das seleções nacionais faz os torcedores se dividirem na preferência por quem torcer. Carentes da “Dinamáquina” na competição (como ficou conhecida a seleção na Copa de 1986), o anfitrião Brasil leva vantagem. Acompanhando pela televisão as notícias sobre protestos, esses torcedores se surpreendem e desejam que o Mundial seja sobretudo um espetáculo de paz fora e dentro dos gramados.

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Fã de David Luiz

O futebol é o segundo esporte mais praticado na Noruega. A hegemonia é do handebol, mesmo assim, existem cerca de 25 mil times com 350 mil atletas. Cerca de 100 mil são mulheres. Não à toa a seleção feminina foi campeã mundial em 1995 e medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000. A melhor participação da seleção masculina em uma Copa do Mundo foi em 1998, quando chegou na fase de oitavas de final. Mas um fato enche de orgulho dos noruegueses: venceu a Seleção Brasileira, pelo placar de 2 a 1 na primeira fase daquela edição.

Agora, com a seleção nacional ausente dos gramados, a preferência dos noruegueses está para os donos da casa. É o que conta Bjarte Hamre, 51 anos, que vive do turismo na região da capital Oslo. Com seu chapéu colorido por mais de uma centena de botons de diferentes países visitados e que recebe de presente de turistas, Hamre é um apaixonado torcedor do Stabaek, de Bærum, região metropolitana de Oslo.

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– Vamos torcer para a Seleção Brasileira, que tem um futebol alegre e por ser a dona da casa. Também gosto do jeito de jogar da Espanha, que também vai mais para o ataque – conta.

Fã do zagueiro David Luiz, do Paris Saint-Germain, Hamre acha que Neymar ainda é promessa e destaca Pelé e Ronaldo como jogadores mais extraordinários de todos os tempos. O norueguês acompanha o noticiário sobre a Copa do Mundo pela TV e se diz surpreso com os protestos, pois imaginava que todo o Brasil estivesse voltado para o grande evento. Ainda assim, acha que superada a questão de segurança, o país fará um espetáculo que deixará o mundo impressionado.

Preocupação com os protestos

Andreas Skov, 44 anos, caminha com uma mochila à brasileira nas costas pelas ruas de Odense, cidade da Dinamarca famosa por ser a terra natal de Hans Christian Andersen, autor de histórias infantis como “Pequena Sereia”, “O Rouxinol” e o “O Patinho Feio”. O historiador nascido em Copenhague tem um bom motivo para carregar a marca da Seleção Brasileira: é casado com Raquel Wat, uma guia de turismo brasileira nascida em São Paulo, além de gostar muito de futebol. Torcedor do F C Copenhague, Skov lamenta que a Dinamarca, que já teve uma geração de ouro, como os irmãos Laudrup e o goleiraço Schmeichel, tenha ficado de fora da Copa do Mundo. Para os torcedores, a ausência daquela que já foi chamada de “Dinamáquina” tirou um pouco da atenção do maior evento futebolístico do planeta. Porém, futebolistas como ele estão torcendo para que seja uma grande confraternização.

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– Ainda estou preocupado com as notícias sobre eventuais protestos, pois isso tira um pouco do brilho do espetáculo justamente naquele que é conhecido como o país do futebol – opina.

Skov acredita que na Dinamarca as pessoas estejam um pouco assustadas, pois o Brasil sempre foi visto como um país de paz e sem conflitos. Para isso, sugere que o bom senso prevaleça. Sobre o desempenho do time brasileiro, cita Neymar, Fred e David Luiz como jogadores que individualmente são muito bons e que jogando juntos farão diferencial sobre os adversários. Por isso, diz, os noruegueses não deverão se arrepender de torcer pela Seleção Brasileira.

Torcida longe de casa

O bósnio Samir Ozarbirov, 27 anos, é artista e também trabalha como garçom em Copenhague, na Dinamarca. Tinha seis anos quando sua família deixou a Bósnia por causa da guerra. Formou-se em Administração, em Amsterdã, na Holanda, e se prepara para um mestrado em Estocolmo, na Suécia. Dos tempos de infância, ainda antes do seu país ser revirado pela perseguição étnica, guardou o apreço pelo futebol.

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No passado, Pelé; mais recentemente Ronaldo; e atualmente Neymar são citados como as grandes referências que tornam o futebol brasileiro mundialmente respeitado. Contente com o resultado de seu país, estreante nesta Copa do Mundo, acredita que o esporte deva ser acessado por toda a população. Por isso, acha que o valor dos ingressos para os jogos deveria ser mais baixo.

Reconhece o potencial do Brasil, mas vai torcer pela Bósnia, que estreia dia 15 de junho contra a Argentina, no Maracanã. Liderada pelo atacante Dzeko, grande nome do time e que joga no Manchester City, da Inglaterra, os bósnios estarão no grupo F, ao lado de Argentina, Irã e Nigéria.

– É uma grande disputa – defende.

Depois, Cuiabá vai receber a partida da seleção contra a Nigéria, no dia 21 de junho. Os bósnios encerram a participação na primeira fase na Arena Fonte Nova, em Salvador, contra o Irã, no dia 25 de junho.

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Sem Dinamarca, torcida é pelo Brasil

Nyhavn é um antigo bairro de bordéis transformado em área turística de Copenhague. O lugar é cheio de bares e restaurantes e serve de atracadouros para barcos que fazem passeios para o visitante descortinar a bela capital dinamarquesa. Em dias de jogos, o lugar fica tomado por torcedores. Como no dia 12 de maio, feriado local por ser do Dia da Oração, e que tinha confronto entre os times do Copenhague e Aalborg.

Este último é da cidade de Aalborg, o AaB, na forma reduzida. O FCK tem a maior torcida de Copenhague, e recentemente protagonizou um bandeirão virtual no clássico contra o Brondby IF, em que um canhão lançava bombas e destruía a fortaleza adversária São em maioria jovens com camisetas dos clubes e que se juntam para tomar cerveja. É o caso de Marcus Nyhjem, 18 anos, e dos amigos Marcos Andersen, 23, e Gustav Hafboh, 23. Torcedores do FC Copenhague, os jovens lamentam a ausência da Dinamarca na Copa do Mundo.

– Vamos torcer para o Brasil, afinal está jogando em casa e possui o melhor e maior número de jogadores individuais de todas as seleções – diz Marcus, estudante de Economia.

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Vizinhos europeus são os preferidos

Hanna David, 30 anos, gosta de futebol. Aprendeu a apreciar o esporte com a família, o que ganhou força quando se casou Emil, 33 anos, um fanático torcedora do Copenhague. Hanna e Emil costumam freqüentar o estádio, o que muitas fazes com o amigo Thomas, 26 anos. No dia do clássico entre FCK e AaB, o trio combinava na torcida. Mas isso não deve ocorrer durante a Copa do Mundo, onde cada um tem sua seleção preferida.

-Eu gosto muito da Itália e vou torcer para a Azurra – conta Hanna.

Ao lado, o marido Emil parece surpreso com a decisão da mulher e aponta sua preferência ao esquadrão alemão:

– Não é só pela proximidade, mas eu admiro a forma de montar o time do treinador Joachim Low.

O amigo Thomas difere dos dois:

– Tenho muita expectativa na Espanha, a atual campeã do mundo. Mas eu queria mesmo era torcer para a nossa Dinamarca – diz Thomas.

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*A repórter viajou a convite dos escritórios de turismo Innovation Norway/Visit Norway e VisitDenmark.