A tensão era grande ao anoitecer de domingo na Venezuela. Pesquisas informais e apócrifas – a boca de urna é proibida – davam vitória do militar reformado Hugo Chávez por 54,8% dos votos válidos contra 43,8% do seu principal opositor, o advogado Henrique Capriles. Mesmo sem validade oficial, as enquetes se aproximavam do que foi divulgado na última semana pelos principais institutos de consulta de opinião. O Datanalisis, por exemplo, apontava 47,3% para Chávez e 37,2% para Capriles.

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Uma vitória de Chávez representaria direito a 20 anos no poder (o mandato é de seis anos). O presidente venezuelano estava otimista por três razões. A primeira é seu inegável carisma, com um discurso voltado para as camadas mais pobres da população. Incita o ódio aos ricos (a quem chama de “burguesia corrupta”) e, num modelo já explorado por Perón na Argentina, diz que vai defender sua “revolução” à custa da própria vida, se preciso. Foi o que repetiu numa entrevista coletiva às vésperas do pleito.

Foi também no sábado, um dia antes da eleição, que Chávez mostrou uma segunda razão para sua possível vitória: o discurso populista vem acompanhado de dinheiro, muito dinheiro, despejado em obras e programas sociais. Principalmente às vésperas do pleito. No sábado, Zero Hora flagrou o governo liberando recursos de programas assistenciais (leia ao lado). Outro exemplo de investimento capaz de garantir muitos votos é o das casas próprias. Cada edifício construído com dinheiro governamental exibe nas fachadas retratos imensos de Chávez.

A terceira razão é que a oposição diminuiu o ímpeto, na reta final. Sabe-se lá por que razão, a movimentação dos apoiadores de Capriles em Caracas foi tímida, no domingo decisivo do pleito. Isso não quer dizer derrota, mas acanha os adeptos. O próprio Capriles, ao invés de ir para o corpo-a-corpo, tirou o sábado para fazer uma caminhada (quase escalada) no majestoso pico com florestas que emoldura Caracas, o Cerro El Ávila. Agradou aos jovens de classe média que praticam esportes radicais, mas terá causado bom impacto entre os pobres, maioria no país?

Seja qual fosse o veredicto das urnas, o pleito na Venezuela já tem vitoriosas: as filas. Elas tomaram quarteirões ao longo do dia. Alguns eleitores levaram até seis horas na espera. O grande problema era conseguir entrar na seção eleitoral e ter o nome encontrado pelos mesários. Desde as 6h, os venezuelanos começaram a se deslocar para votar e, mesmo assim, houve confusão.

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Medo de convulsão devido ao histórico

Há temor de violência após o resultado, dos dois lados. A oposição, comandada por Capriles, receia que as milícias chavistas (como os Círculos Bolivarianos e a Guardia del Pueblo) saiam das favelas e promovam baderna nos bairros nobres, caso o projeto continuísta de Chávez corresse o risco de ser derrotado nas urnas. Com aliados em postos-chave das forças armadas, poderia ficar tentado a não entregar o poder.

Caso Chávez vencesse por pouco, apoiadores de Capriles cogitavam alegar fraude e uso da máquina pública. E há margem para baderna caso a oposição perca – em 2002, oposicionistas chegaram a derrubar e prender Chávez, mas foram derrotados após três dias de combates nas ruas de Caracas. A hipótese de que nada aconteça seria Chávez ganhar com grande margem.

Pelo menos cinco pessoas morreram ontem – todas próximas a postos eleitorais. Nada que se compare à convulsão social que uma diferença por pouca margem nos votos pode trazer a um país com tradição nesse tipo de dilema.