A fuga de oito detentos que escaparam da galeria F do bloco B da Penitenciária Industrial de Blumenau por uma guarita sem vigilância, com corda improvisada feita de roupas à luz do meio-dia, completa um mês na próxima segunda-feira. A Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania (SJC) ainda não divulga conclusões sobre as circunstâncias da fuga e quais foram os eventuais responsáveis.

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Dois dias após a fuga, à RBS TV, o secretário-adjunto de Estado de Justiça e Cidadania, Leandro Lima, disse não querer dar detalhes para não atrapalhar a investigação, mas afirmou que o caso ocorreu por uma falha de um vigilante que deixou a guarita vazia – ato definido por ele como irresponsável – e prometeu resolução emblemática para o caso.

Ontem, por meio da assessoria de imprensa, a SJC informou apenas que a sindicância aberta pela corregedoria da pasta está em processo de finalização – todos os depoimentos foram concluídos, mas alguns laudos periciais ainda precisam ser incluídos no processo. No entanto, as conclusões da investigação e os procedimentos internos que já foram alterados nesse último mês devem ser divulgados apenas com a conclusão total da sindicância. A assessoria informa ainda que mais dois postos diários de vigilantes foram disponibilizados.

Enquanto a sindicância não é concluída, dúvidas sobre como o objeto cortante usado na fuga entrou na cela, como os detentos não foram vistos pelos agentes e até questões mais estruturais sobre a penitenciária, como a entrega dos scanners corporais e por que a unidade tão nova e tida como modelo enfrentou tantos problemas no seu primeiro ano, ainda pairam ao redor dos muros e grades.

Se a investigação interna ainda não terminou, mais distante ainda estão eventuais desdobramentos criminais para os supostos envolvidos. O delegado regional de Polícia Civil de Blumenau, Rodrigo Marchetti, afirma que um inquérito foi aberto na Delegacia de Gaspar em razão do assalto a uma família que os foragidos fizeram antes de se envolverem em confronto com agentes e policiais. Investigações sobre a fuga e seus possíveis facilitadores só são abertos a partir de comunicação do Departamento de Administração Prisional (Deap) ou SJC.

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– Até o momento não recebemos nenhum contato nesse sentido – pontua o delegado..

Audiência em Gaspar e reflexos na segurança da unidade

Na noite de quinta-feira, moradores discutiram os problemas de segurança da Penitenciária de Blumenau em uma audiência pública no bairro Belchior Baixo, em Gaspar – vizinho da nova penitenciária, que fica na Ponta Aguda, em Blumenau, mas a poucos metros do limite entre as cidades. Nem Deap nem SJC enviaram representantes para discutir o assunto com a comunidade.

O coordenador da comissão de Segurança Pública da OAB Blumenau, Rodrigo Novelli, afirma a rapidez na apuração do que ocorreu é essencial, mas que as respostas do Estado precisam ser em cima de estudos. Ele avalia que o tempo da investigação está a contento, mas acredita que a fuga em Blumenau não seja culpa apenas do sistema na cidade, e sim de falha de estrutura do próprio Deap, já que em 30 dias Itajaí também teve outros dois casos de fuga. Uma mudança aqui, portanto, que pode servir de resposta a todo o Estado.

– Para ocorrer uma fuga tem que haver uma série de atos falhos, o problema nunca é pontual. O Estado tem culpa nisso principalmente pelo baixo efetivo que aloca nas unidades. A alteração da rotina, com aumento no número de agentes e uma estrutura correta, como tem em Blumenau, contribui para minimizar os riscos desse tipo de problema – analisa Novelli.

Situação dos foragidos e histórico de problemas em um ano

Dos oito criminosos que fugiram no dia 6 de fevereiro da Penitenciária em Blumenau, um deles – Diego Matheus da Silva 22 anos – foi recapturado logo após a fuga, perto da unidade prisional. Outros três foram encontrados na noite da mesma segunda-feira. José Rodolfo Gonçalves Fernandes, 25 anos, Claudinei Machado, 24, e Fernando Mendes de Paulo, 34, invadiram uma residência na Rua João Deschamps, no bairro Belchior Baixo, renderam um casal de idosos e roubaram uma arma de fogo que pertencia ao dono da casa.

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Ao serem encontrados pelos agentes, entraram em confronto e houve troca de tiros. Claudinei e Fernando foram baleados e conduzidos ao Hospital Santo Antônio com ferimentos, retornando posteriormente à penitenciária. Já José Rodolfo acabou sendo alvejado e morreu no local do confronto. Os outros quatro detentos, Amarildo da Silva, 35 anos, Lucas de Siqueira, 41, Leudivan Nunes, 27, e Tiago de Jesus Godoi, 24, permanecem foragidos. Informações podem ser repassadas pelo telefone 190.

A fuga do mês passado não foi o único registro problemático da Penitenciária de Blumenau desde a inauguração, em 27 de janeiro de 2016. Em 2 de julho, a unidade passou por troca no comando, com a saída de Marco Antônio Caldeira e a chegada de Cleverson Henrique Drechsler após um período de transição de pouco mais de um mês. Em agosto, familiares fizeram uma manifestação contra supostos maus-tratos e os detentos promoveram o primeiro tumulto da unidade após o corte de visitas íntimas e supostos maus-tratos. Quatro pessoas foram feridas com balas de borracha. Em outubro houve uma fuga de um detento, frustrada horas depois e abafada pelas autoridades. Em novembro houve novo tumulto e também a morte de um detento, assassinado por um companheiro de cela. Em janeiro, no último caso antes da grande fuga, novo homicídio no interior da unidade, em nova desavença entre detentos.

Fugas também em Canhanduba

O último mês foi de problemas também no sistema prisional de Itajaí. Seis dias depois da fuga em Blumenau, mais oito detentos fugiram, desta vez da Penitenciária de Canhanduba, em Itajaí. Eles serraram grades da janela que dá acesso à área externa do complexo. Em setembro do ano passado, outros sete detentos já haviam fugido após cortarem as grades das celas.

O último caso ocorreu esta semana, na quinta-feira, quando sete detentos escaparam da galeria A do bloco A. Entre os foragidos estão presos por crimes como homicídio, roubo, furto, receptação, uso de documento falso, lesão corporal, estelionato e falsificação de remédio. Os foragidos são: Alexandro Denk, Fábio Marcons, Jairim Alves Garcia, Joceli Prado da Silva, Lucas Pedrinho da Rosa, Robson Cordeiro Silvério e Sandro Acir Batista.

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Eles serraram uma grade e aproveitaram a entrada de um caminhão, quando os portões estavam abertos, e correram em direção aos fundos da penitenciária, em plena luz do dia. O secretário-adjunto da Justiça e Cidadania, Leandro Lima, reconheceu sexta-feira que houve falha e garantiu que haverá punições. Confirmou que serão providenciadas mudanças estruturais no complexo e que as direções do presídio e da penitenciária passam por avaliação. Segundo ele, mudanças nas gerências não estão descartadas, embora a administração do sistema prisional afirme que é cedo para apontar responsabilidades. Procedimentos de segurança, como o reposicionamento de postos dos agentes, também foram revistos após a última fuga, de acordo com Lima.

– Ainda é incipiente, mas a gente vai avaliar o desempenho dos gestores nessa questão. Todos estão sendo avaliados. Estamos dentro dos prazos legais para a conclusão das sindicâncias de Blumenau e Itajaí – garantiu. (Colaborou Roelton Maciel)

Primeiras fugas

Complexo Penitenciário do Vale do Itajaí (Canhanduba, em Itajaí)

30/9/2016

– Quatro anos e seis meses após a inauguração, em março de 2012

Penitenciária Industrial de Blumenau

6/2/2017

– Um ano e uma semana após a inauguração, em janeiro de 2016

Complexo Penitenciário do Estado (São Pedro de Alcântara)

12/10/2008

– Seis anos após a inauguração, em 2002