O passeio pode começar por qualquer lugar entre a Francisco Tolentino e o final da João Pinto. O Centro, para quem nunca se aventurou, parece em princípio um labirinto de ruas e de gente andando apressada, vendendo coisas, seja algodão doce, pipoca ou lenços vindos da Venezuela ou da Bolívia. Labirinto cultural pode ser uma boa definição.
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Sábado é um dos melhores dias para passear com tempo pela região e experimentar bons (novos ou velhos) hábitos, fazer programas tradicionais – como o chope no Mercado -, dar uma passada na feirinha de artes, escutar artistas de rua – suas piadas e canções -, ver vitrines, espiar antiguidades.
Enquanto o Mercado Público (que é o melhor ponto de partida) está em reforma, outro bom começo é o Largo da Alfândega. Sábado é dia de roda de capoeira por lá. Há alguns anos grupos como o Quilombola se reúnem no local para jogar e brincar, puxar os cantos ancestrais. E há espaço para capoeiristas de fim de semana. No mesmo Largo fica a Casa da Alfândega. O prédio inaugurado em 1876 é hoje espaço expositivo e de venda de objetos de arte e artesanato típicos de Santa Catarina.
::: Artesanato e antiguidades
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Por falar em artesanato, as tradicionais feirinhas de artes ocupam as praças XV de Novembro e Fernando Machado, com dezenas de artesãos. Tem de tudo: patchwork, telas, bijuterias, crochês, bordados, esculturas de conchas, biscuit, até os famigerados panos de prato pintados à mão. As ruas João Pinto, Victor Meirelles e Saldanha Marinho viram o Corredor das Artes, projeto que faz parte do Viva a Cidade, da prefeitura. A região fica tomada com tendas de antiguidades, brechós, sebos. O Corredor funciona das 9h às 16h.
::: Artistas de rua
Aos sábados os artistas de rua ficam ainda mais inspirados. Alguns deles, no entanto, como o pintor Antônio Reinaldo Borges, faz da esquina das ruas Deodoro com Felipe Schmidt sua galeria aberta ao público seis dias por semana. Há 20 anos ele usa o local como seu ateliê, pintando encomendas, retratos, paisagens. Há também outra modalidade de artistas, os de performance, como o senhor que faz piruetas no meio de uma circunferência com facas ou os atores que vestem a carapuça de personagens cômicos para animar o transeunte que passa sem muito tempo para sorrir.
::: Livros
A João Pinto, lado Sul da Praça XV de Novembro, é a rua com a maior concentração de sebos da região. São seis no total, além dos localizados nas ruas paralelas e transversais. É o melhor lugar para comprar livros usados, raridades, barganhas. Além dos sebos, no Corredor das Artes há muitos estandes que comercializam livros também.
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::: Gastronomia
Clássicos são clássicos: ir ao Centro de Florianópolis no sábado e não tomar um caldo de cana, comer um pastel ou beber um chope no Mercado Público é como se o passeio fosse em vão. As barraquinhas de caldo de cana são facilmente encontradas nas feiras de alimentos, na Alfândega, e de artesanato, na Praça Fernando Machado. Energia para seguir a caminhada pela barganha de R$ 1 por 200 ml. Tradicionalíssima é também a pastelaria do Keko, que funciona em dois endereços: nas ruas Vidal Ramos e Anita Garibaldi (em frente à Câmara de Vereadores). Boa pedida é pastel de berbigão ou camarão e um guaraná. Outro clássico é o pão com linguiça, vendido numa das barraquinhas da feira da Fernando Machado. A receita é simples, mas famosa: pão francês, linguiça assada e vinagrete. Mostarda e complementos ao gosto do freguês.
::: Arte das paredes
Urbanidade à flor da pele, o Centro inspira artistas urbanos da cidade, que fazem das paredes e muros da região suporte para sua arte e filosofia. Há grafite em diferentes pontos: Vidal Ramos, Rua dos Ilhéus, Tiradentes.
::: Arquitetura e Praça XV
Para deixar o passeio cultural completo, vale um olhar mais atento à arquitetura da região. O Centro ainda conserva prédios históricos, com arquitetura eclética e exemplares de art déco, com tantas e poéticas sacadinhas. Muitos prédios têm apenas a fachada conservada, mas outros podem ser visitados, como o Palácio Cruz e Sousa. As igrejas, como a Catedral Metropolitana e a Nossa Senhora do Rosário, também valem a visita. A Praça XV de Novembro é outro mergulho na história, basta olhar para o chão. Nele estão retratados cenas de uma Ilha que só existe na memória dos mais antigos, como brincadeira de boi de mamão, cabra cega, pipa. São mosaicos desenhados por Hassis em 1965 e hoje tombados como patrimônio cultural de Florianópolis. E tem ainda a figueira centenária, majestosa no meio da praça. Diz o folclore que dar voltas em torno dela atrai riqueza e casamento.
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::: Tudo acaba em samba
Como tudo no Brasil termina em samba, nada melhor do que fechar o giro cultural pelo Centro com música e feijoada. Há pelo menos cinco anos o bar Canto do Noel, na Travessa Ratclif, congrega públicos diferentes para ouvir e dançar ao som do Bom Partido, grupo criado há 17 anos. Nas mesas eles improvisam um palquinho e fazem samba de roda. Seu Lidinho, passista mais antigo da escola de samba Copa Lord, todos os sábados bate ponto com sua calça e sapatos brancos e dá show. A feijoada também vale. O samba ocorre das 14h às 18h.
::: Dica de leitura
Para quem quiser conhecer um pouco mais da história da região, fica a dica de leitura de Roteiro Histórico e Sentimental pelas Ruas de Florianópolis, do jornalista e escritor Mário Pereira, que morreu na última segunda-feira aos 73 anos. É um guia histórico, turístico e afetivo da cidade.