Templo da liberalização, Davos fechou o Fórum Econômico Mundial da crise com orações à abertura comercial. Pouco antes do encerramento da mais pessimista edição do encontro, ao menos duas dezenas de ministros concordam em tentar retomar a Rodada de Doha, negociação destinada a facilitar as trocas internacionais entre os 153 países da Organização Mundial do Comércio (OMC). Foi a reação mais concreta aos pedidos de ações rápidas e coordenadas para combater a crise global. O discurso de boas intenções, porém, esbarra em medidas concretas que se multiplicam, especialmente nos países ricos. Veja abaixo as avaliações de dois protagonistas da decisão durante o final de semana.
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O que se ensaia em teoria
O ACORDO
Cerca de 20 ministros combinaram uma reunião antes da cúpula do G-20, prevista para abril. Veja os compromissos assumidos:
1. O objetivo é avançar nas negociações da Rodada de Doha, que facilita o comércio internacional, para tentar um acordo ainda este ano. Outros compromissos:
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2. Renunciar à criação de novas barreiras ao comércio, à imposição de restrições à exportação ou à adoção de medidas de estímulo contrárias às normas da OMC
3. Apoiar esforços para monitorar novas medidas capazes de afetar o comércio
O OBJETIVO
Desde 2001, a OMC tenta avançar na Rodada de Doha. Sem novas regras, travadas pelo impasse, e com a crise corroendo negócios ao redor do planeta, muitos países têm protegido a economia doméstica em vez de fortalecer laços externos. Conforme os adeptos do livre comércio, restrições podem aprofundar e prolongar ainda mais a crise.
O DESAFIO
A Rodada de Doha está emperrada desde julho de 2008, quando cerca de 30 ministros se reuniram durante 10 dias em Genebra para buscar princípios de acordo em questões cruciais das negociações, para, depois, apresentar esses entendimentos aos 153 países-membros da OMC.
Na época, o protecionismo se impôs: China e Índia bateram pé por um mecanismo que permitisse a elevação dos impostos de produtos cuja importação subisse demais. Trombaram com os EUA, que entrou retirou da mesa a oferta de corte de subsídios.
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Davos, 30/1/2009
A ALEGRIA DE AMORIM NA RETOMADA
O chanceler brasileiro cumprimenta a ministra suíça Doris Leuthard, que anunciou a ressurreição de Doha depois de reunião informal de ministros da área de economia nos Alpes suíços no final de semana
O que ocorre na prática
BARREIRA A ESTRANGEIROS
Buy American (Compre Americano) é uma cláusula embutida no pacote de estímulo econômico nos Estados Unidos. Exige que o aço e o minério de ferro usados em projetos de infraestrutura financiados com dinheiro público sejam comprados de companhias locais. Ontem, a União Europeia anunciou aumento de 85% das taxas de importação de produtos chineses destinados ao setor automotivo e de máquinas.
VALORIZAÇÃO DA MOEDA
Tem esquentado o debate sobre a cotação da moeda chinesa, artificialmente baixo. Seria uma forma de protecionismo por tornar os produtos chineses ainda mais baratos no mercado externo. Quando candidato, Barack Obama acusou várias vezes o país de “manipulação” do câmbio, e voltou a fazê-lo como presidente – o que acirra o debate.
PROTEÇÃO AO TRABALHO
Trabalhadores em energia fizeram greves-relâmpago em protesto contra a admissão de portugueses e italianos para a construção de uma refinaria na Inglaterra.
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TENTATIVA DE RESTRIÇÃO
Durou três dias um ensaio de protecionismo à brasileira. O Ministério do Desenvolvimento exigiu licenças prévias à importação de 3 mil itens, de brinquedos a máquinas para indústria. Irritado, o presidente Lula mandou arquivar a medida, preocupado com reações. Agora, o governo prepara medidas para facilitar a disputa dos exportadores brasileiros no mercado internacional.
Genebra, 26/7/2008
A TENSÃO DE LAMY NO FRACASSO
O secretário-geral da OMC reagiu com gestos agressivos depois que as tentativas de acordo esbarraram em pedidos de proteção em julho do ano passado na sede da organização