Junho de 2014 marca um ano do movimento que levou milhares de brasileiros às ruas de todo o país, clamando dezenas de exigências que iam de mais investimentos em saúde e educação ao protesto genérico pelo fim da corrupção.

Continua depois da publicidade

As respostas, em promessas, foram rápidas. A presidente Dilma Rousseff propôs cinco pactos, o Congresso Nacional adotou uma “agenda positiva”. Mas doze meses depois, plenamente atendida só mesmo a derrubada da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37, que restringia o poder de investigação do Ministério Público e foi interpretada como um símbolo da impunidade.

Foram 32 propostas apresentadas no Congresso, como uma “agenda positiva” para tentar melhorar sua imagem. Em Santa Catarina, a resposta do Legislativo estadual às manifestações de junho foi tímida em comparação com o que aconteceu no plano nacional. Cinco projetos foram apresentados pelos deputados de Santa Catarina como uma espécie de resposta.

Mas apenas um dos cinco projetos foi aprovado: o que acabou com as votações secretas na Assembleia Legislativa de Santa Catarina.

– A grande conquista nossa foi abrir a votação em todos os níveis e mostra nosso compromisso com aquelas manifestações. Foi a resposta que pudemos dar, uma importante – disse o presidente da Assembleia, Joares Ponticelli (PP), destacando que a Casa acabou com todas as possibilidades de voto secreto enquanto o Congresso manteve em alguns casos.

Continua depois da publicidade

Dos outros quatro, três pararam em votações na Comissão de Constituição e Justiça da Casa e um foi esquecido, nem chegou a ser avaliado. Em percentagem, 20% dos projetos foram aprovados e 80% ficou pelo caminho. (confira os detalhes abaixo)

– As matérias dessas manifestações populares são mais ligadas à Brasília – justificou o deputado estadual Mauro de Nadal (PMDB), presidente da CCJ no ano passado, sobre os projetos não terem avançado na Assembleia.

Sobre a tramitação de algumas matérias encerrada na primeira etapa, Nadal alegou que alguns projetos teriam vício de origem e precisariam ser enviados pelo Executivo.

::: As sugestões dos deputados catarinenses

PEC/0003.1/2013

O que pretendia? Acabar com o voto secreto nas deliberações da Assembleia.

Conseguiu? Sim.

Por quê?

O único aprovado foi a proposta do deputado Jailson Lima (PT).

O projeto foi protocolado no dia 10 de julho e cinco dias depois já tinha um relator na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Foi aprovado na comissão no mês seguinte, apesar de ter até outubro para ser analisado. Em seguida, foi discutido até o dia 30 de outubro, quando foi aprovado em plenário e passou a valer como regra para a Assembleia. O voto secreto, que valia para a cassação de deputados, as indicações a cargos nos poderes e na análise dos vetos do governador, deixou de existir no dia 30 de outubro de 2013, quando foi votado em plenário.

Continua depois da publicidade

A medida foi tomada um pouco antes de o Congresso Nacional adotar prática semelhante, mas por lá o voto aberto ficou limitado à cassação de parlamentares e à análise dos vetos presidenciais. Os senadores mantiveram o voto secreto para a eleição do presidência da Câmara e do Senado, além do segredo na indicações de autoridades.

PL./0187.5/2013

O que pretendia? Destinar 100% dos royalties do petróleo recebidos por Santa Catarina para a educação.

Conseguiu? Não.

Por quê?

A proposta foi apresentada pela deputada Luciane Carminatti (PT), bem no início dos protestos.

A matéria pretendia vincular 100% dos recursos dos royalties do petróleo recebidos pelo Poder Público do Estado à aplicação na Educação. Havia uma proposta semelhante em andamento no Congresso Nacional, mas a versão catarinense recebeu um parecer contrário do deputado Aldo Schneider (PMDB) em julho do ano passado.

Outros deputados pediram vistas e o projeto ficou parado até o início deste ano quando, com a troca dos membros da Comissão de Constituição e Justiça, voltou a ser votado. Recebeu parecer contrário.

Continua depois da publicidade

PEC/0004.2/2013

O que pretendia? Diminuir número de assinaturas necessárias para apresentar projetos de iniciativa popular.

Conseguiu? Não.

Por quê?

O deputado Neodi Saretta (PT) protocolou em agosto uma iniciativa para reduzir o número de assinaturas necessárias para a população poder apresentar projetos de lei de iniciativa popular – propostas que partem de entidades civis, como a lei da Ficha Limpa, por exemplo.

A matéria teria que ser analisada em outubro pela Comissão de Constituição e Justiça, mas nem chegou a ser avaliada. O deputado Silvio Dreveck (PP) era o relator da matéria à época.

PL./0235.7/2013

O que pretendia? Proibir o uso, pela polícia, de balas de borracha nas manifestações.

Conseguiu? Não.

Por quê?

O deputado Dado Cherem (PSDB) apresentou no dia 2 de julho do ano passado um projeto para proibir o uso de balas de borracha durante as manifestações. Argumentou que o armamento pode causar danos permanentes se atingir a face de alguém, além de ser letal se atingir a garganta, por exemplo. E a polícia tem à sua disposição gás lacrimogênio, spray de pimenta, canhão de água, tasers e outras ferramentas não letais que causam danos menores.

Continua depois da publicidade

A matéria tramitou até novembro, recebendo parecer contrário do líder do governo, deputado Aldo Schneider (PMDB), na Comissão de Constituição e Justiça.

Foi arquivado em novembro.

PL./0276.5/2013

O que pretendia? Proibir o uso de tasers e outras armas de choque para a polícia dispersar manifestações.

Conseguiu? Não.

Por quê?

No dia 17 de julho a deputada Angela Albino (PCdoB) protocolou uma proposta que buscava restringir o uso de armas não-letais pela polícia em manifestações.

A ideia era proibir o uso de armas eletromagnéticas pelas polícias militar e civil, em “manifestações públicas de caráter reivindicatório”, de acordo com o texto do projeto de lei.

Continua depois da publicidade

Foi encaminhado em agosto para relatoria do deputado Serafim Venzon (PSDB). Voltou a tramitar em fevereiro deste ano, para ser arquivado logo em seguida, após o parecer contrário do deputado José Nei Ascari (PSD) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).