Há 12 meses, a rotina dos jornalistas mudou: a partir de março de 2020, as redações, quando não ficaram totalmente vazias, abriram espaço para a ausência de colegas que se revezam para garantir o distanciamento dentro da empresa como forma de prevenção contra o novo coronavírus. Sair às ruas ficou cada vez mais raro — para trabalhar e para viver. 

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E é em casa que muitos jornalistas montaram seus espaços de trabalho para continuar uma atividade que desde o início da pandemia no Brasil foi classificada como essencial: garantir que informações corretas e verificadas cheguem ao público.

— A gente tem muita responsabilidade, muito cuidado, todos os dias para trazer a informação mais correta. Para que a gente consiga passar por essa crise com mais segurança, tomando as medidas que são necessárias, com as precauções que são necessárias para cuidar de si e da sua família — diz Patrícia Silveira, repórter da NSC TV em Itajaí.

Ela foi uma das jornalistas que passaram a entrar ao vivo da sala de casa nos telejornais da NSC TV. Os intervalos, no lugar do cafezinho no corredor com os colegas, viraram a hora de temperar a comida do almoço, guardar as compras do dia anterior e ajudar as filhas nas aulas online.

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— E assim a gente vai, tentando conciliar as atividades dos filhos, o trabalho e as atividades de casa — explica.

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Nem sempre é possível usar apenas a tecnologia. Para quem trabalha com a imagem, estar na rua é fundamental. O fotojornalista do Diário Catarinense, Diorgenes Pandini, virou “os olhos” dos repórteres que estão em home office. É ele quem captura os flagras de irregularidades no cumprimento das medidas de prevenção, acompanha os principais eventos — como as visitas do presidente Jair Bolsonaro a Florianópolis e a chegada das primeiras vacinas — e registra aquele que virou o símbolo da pandemia: o movimento de pessoas caminhando de máscaras nas ruas.

— O fato de as pessoas estarem caminhando com máscara já é uma exceção do natural. Então, não existe um novo normal, que aquilo é como deveria ser. Mesmo que seja um simples registro do cotidiano, ele já chama a atenção, porque é realmente um fato que está acontecendo no último ano na nossa sociedade — avalia ele.

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Adaptação levou a intensificar uso de tecnologia

Distantes das ruas, os jornalistas passaram a investir ainda mais em tecnologias e ferramentas que já eram usadas, mas que passaram a tornar-se essenciais. O repórter Cristian Weiss, do Diário Catarinense, foi o responsável para, em parceria com o NSC Lab, criar e estruturar uma base de dados com detalhes dos perfis dos casos confirmados. 

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A página é interativa e atualizada diariamente para que os leitores possam acompanhar a evolução dia a dia dos registros oficiais de casos e mortes. Ao mesmo tempo, garante que os jornalistas da NSC possam verificar as informações repassadas pela Secretaria do Estado de Saúde.

— As datas das mortes, se as pessoas tinham viajado, se elas estavam internadas… Essas informações deram corpo para a criação do painel, que é uma base de dados que a gente alimenta desde o começo da pandemia e que permitiu, em situações mais críticas, fazer checagem e cruzamento dos dados, inclusive para identificar algumas discrepâncias nos dados do Estado — explica Weiss.

Em fevereiro de 2020, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus avisou ao mundo: não estávamos no início de uma crise sanitária, mas também de desinformação. As notícias falsas já eram um mal que se espalhou rapidamente e tornaram mais difícil garantir que a gravidade do coronavírus fosse totalmente compreendida e aceita. Ao focar na pandemia como assunto principal e mostrar as consequências diariamente, os jornalistas chegaram até a virar “inimigos públicos” para uma parcela da população. Ao mesmo tempo, a busca pelo jornalismo tradicional aumentou.

— Num momento tão importante como este que vivemos, tão doloroso e difícil, cheio de campanhas de desinformação e notícias falsas, as pessoas sabem o que procurar. E vão procurar jornalismo de verdade, profissional, de serviço essencial. Mais do que números e audiências, nossa relevância está em fazer serviço de altíssima qualidade, de estar ao lado da ciência, de ser crítico com serenidade, de ter responsabilidade e ética, de ser respeitoso e solidário com tantas famílias que perderam filhos, pais, mães, avós, amigos. Tudo isso é inegociável para os jornalistas da NSC. Somos do lado do humanismo, da vida. Sempre seremos — analisa o diretor de jornalismo da NSC, César Seabra.

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