Quando o desempregado Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, invadiu a Escola Municipal Tasso da Silveira e atirou em 20 meninas e 4 meninos, matando a metade, parecia que o colégio de Realengo, na zona oeste do Rio, ficaria marcado para sempre. Um ano depois da tragédia, sem precedentes no Brasil, existe ali uma escola modelo.
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O prédio atacado foi reformado e um anexo erguido, ao custo de R$ 9 milhões. As salas ganharam recursos multimídia e professores passaram por reciclagem. Mas os alunos ainda têm acompanhamento psicológico.
– Estamos reinventando a escola – afirma a diretora adjunta, Daisy Carvalho.
Ainda há alunos traumatizados – crianças que sofrem com pesadelos, desenvolveram gagueira, voltaram a fazer xixi na cama, tornaram-se introspectivas. Há aquelas que resistem a ir às aulas.
– Às vezes, o vento abre a porta da sala devagarinho e o coração já começa a pular. Às vezes, não quero vir, quero fingir que nada disso aconteceu. Mas também é bom falar, desabafar – conta Joyce Losso, de 16 anos.
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– Tão cedo eles não vão se curar – admite a diretora adjunta.
Uma rede de solidariedade se formou em torno do colégio – os 400 alunos do turno da manhã, que vivenciaram o ataque, ganharam notebooks em um programa de TV e pessoas com histórias de superação visitaram a escola para dividir a experiência. O iatista Lars Grael contou do acidente, durante uma competição, em que teve a perna amputada e a bailarina Ana Botafogo, cujo marido morreu afogado, aos 38 anos, falou de perdas.
Os professores também precisaram de apoio. Dos 52, 4 foram afastados e 2 ainda estão de licença: uma porque teve bebê e outra porque ainda não conseguiu se recuperar. Todos os integrantes do corpo docente foram orientados a serem menos rigorosos nas avaliações dos alunos. O índice de repetência caiu de 25% para 10% dos 980 estudantes.
– Nada pode ser igual. Um coletivo inteiro sofreu um baque absolutamente inesperado. É preciso ir aos poucos, reconstruindo um trabalho para voltar a ter cobrança mais rigorosa. Nesse processo, os alunos vão superando o que passou – afirma a educadora Hilda Alevato, professora de pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Ela elogia o que chama de “opção pelo afeto” da coordenação pedagógica, ao aliviar a cobrança. Mesmo assim, o ataque do ano passado fez os pais de 40 alunos pedirem transferência. Alguns até pediram para voltar. E outros cem se matricularam neste ano. Segurança Hoje, para entrar na escola, o visitante se identifica e ganha um crachá – ao contrário da manhã de 7 de abril do ano passado, quando Wellington Oliveira circulou pelo local com uma bolsa e dois revólveres.
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O massacre de Realengo ainda fez as escolas da cidade passarem a ter porteiro. E a Guarda Municipal ainda mantém equipe na Tasso da Silveira.
– Hoje, eu não tenho muito medo. Às vezes, fico pensando que não vou ver meus colegas de novo, mas estamos muito mais amigos – diz Patrique Figueiredo, de 15 anos, que escorregou em uma poça de sangue e quebrou um dedo do pé, ao tentar fugir do atirador.
Em uma das oficinas, realizadas ano passado, os alunos e professores pintaram azulejos que compõem um mural de 34 metros de extensão. Nos desenhos, declararam o amor pela escola, e seus desejos de paz. A Tasso da Silveira não ergueu memorial para lembrar os 12 alunos mortos. Também não programou nenhum evento para marcar o primeiro ano da tragédia. Não é descaso – é estratégia. “Precisamos pensar no futuro, no agora”, diz Daisy.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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