O Corredor Ferroviário Catarinense, também conhecido como Ferrovia da Integração ou Ferrovia do Frango, ainda nem saiu do papel e já está um ano atrasado. Neste mês, completam-se 12 meses da data em que o ministro dos Transportes, César Borges, esteve em Chapecó no lançamento da licitação para o estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental. Um ano depois, o projeto da ferrovia ainda não entrou nos trilhos.
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Até agora nenhuma ordem de serviço foi dada. Um dos motivos para o atraso foi o questionamento na Justiça de alguns pontos na primeira licitação. O edital foi suspenso por três meses pelo Tribunal de Contas da União, até que houvesse uma readequação do processo.
Uma nova licitação foi lançada e o resultado foi divulgado no dia 30 de abril, tendo como vencedor o consórcio Contécnica/Enefer/Topocart. No entanto, três empresas entraram com recurso questionando a vencedora.
De acordo com a assessoria de comunicação da Valec – empresa do governo federal responsável pelas ferrovias do país -, ainda não há data para a ordem de serviço. No site da estatal há uma previsão que aponta 30 de maio como data, mas em virtude dos recursos dificilmente será cumprida.
Quando a ordem de serviço for expedida, a empresa vencedora terá 10 meses para fazer o estudo técnico e mais 12 meses para o projeto básico.
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Depois disso é que a obra em si poderá ser licitada. O presidente da Frente Parlamentar das Ferrovias do Congresso Nacional, Pedro Uczai, mantém o otimismo.
– Em 2016 dá para começar a obra – afirmou.
Para o presidente da Aurora e vice-presidente do agronegócio da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Mário Lanznaster, o estudo ainda deve levar quatro anos.
– Se ficar pronto em 16 anos está bom – disse.
Força para o agronegócio
O secretário de Agricultura de Santa Catarina, Airton Spies, se disse preocupado com um trecho do discurso da presidente Dilma Rousseff no lançamento do Plano Safra 2014/2015, em que foi destacado o investimento em infraestrutura, mas citado principalmente o escoamento do Centro-Oeste para os portos – as obras em Santa Catarina não apareceram na fala da presidente. Apesar disso, o governo estadual mantém a reivindicação dos investimentos em ferrovias como uma prioridade.
– Está no topo da agenda – afirmou.
Uczai diz que está trabalhando para incluir as ferrovias catarinenses no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 3), o que garantiria os recursos para a execução das obras e assim daria mais agilidade aos projetos.
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Com déficit de 66 mil caminhões de milho, a ferrovia é vital para manter competitividade de Santa Catarina. A cada ano o Estado precisa buscar o grão no Centro-Oeste para suprir um déficit de 2,5 milhões de toneladas entre demanda e consumo. O problema é que para trazer uma saca de milho de Mato Grosso, o custo do frete fica de
R$ 10 a R$ 12, metade do valor do produto. Com isso, a saca do grão chega até o Oeste catarinense com um custo próximo a R$ 30, contra um preço local de R$ 24 a R$ 26. Em épocas de escassez, a agroindústria chegou a pagar R$ 35 por uma saca de 60 quilos.
Para Lanznaster, da Aurora, nesse cenário Santa Catarina vai continuar a perder investimentos. Ele lembrou que a Sadia e a Perdigão, antes da fusão para a BRF, já tinham investido em plantas industriais no Centro-Oeste, onde o milho está mais barato. Nos últimos anos, Santa Catarina perdeu a liderança na produção e na exportação de aves – e a dificuldade logística pesou para o resultado ruim.
– Sem o milho, os investimentos vão para outros Estados ou até outro países – prevê Lanznaster.
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O secretário de Agricultura, Airton Spies, afirma que, em virtude da falta de milho, o custo de produção em Chapecó é 5% superior a Cascavel, no Paraná. Essa diferença, neste momento, é compensada pela mão de obra catarinense, que consegue resultados mais eficientes.
Outra vantagem é o status sanitário diferenciado de Santa Catarina, que é o único Estado livre de aftosa sem vacinação. Graças a isso é o único a exportar carne suína para o Japão.