Um ano após o início das obras de alargamento da faixa de areia da praia central de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, a cidade registra aumento de preços dos imóveis e maior circulação de visitantes, segundo a prefeitura e entidades ligadas à construção civil e ao turismo.
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Ambientalistas críticos à obra, porém, temem que os produtos químicos remexidos do fundo do mar afetem peixes e crustáceos e, no médio e longo prazos, possam causar problemas de saúde nas pessoas.
As obras foram iniciadas em 22 de agosto do ano passado, mas a praia só foi totalmente liberada no início de dezembro. Com a entrega, a faixa de areia passou de 25 metros para 75 metros de largura.
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Após a liberação total, houve aumento no valor da venda de imóveis residenciais na cidade. Segundo o FipeZap, a elevação foi de 24,77% em maio deste ano, na comparação com os 12 meses anteriores.
Para o presidente do Sinduscon (Sindicato da Construção Civil) de Balneário Camboriú e Camboriú, Nelson Nitz, o aumento do índice não tem relação direta com a ampliação da faixa, mas devido ao “déficit de oferta” de imóveis na cidade.
E isso acaba influenciando no preço do metro quadrado na cidade, considerado o maior do país. O município, segundo o presidente do Sinduscon, atrai investidores pela liquidez, ou seja, a facilidade de negociação do imóvel, tanto para compra quanto para aluguel.
“Aqui o investidor tem garantia do seu investimento. Sabe que, se comprar apartamento aqui, tem garantido o dinheiro dele”, afirma Nitz.
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Dados do sindicato apontam a criação de mais de mil novas vagas na construção civil entre janeiro e agosto de 2022. O número é superior aos dos dois últimos anos.
A cidade também percebe aquecimento do setor de turismo. Em janeiro deste ano, a taxa média de ocupação de hotéis e pousadas ficou em 81,19%, o que não era visto desde janeiro de 2020, período pré-pandemia, quando foi de 84,88%. Os dados são do Balneário Camboriú Convention & Visitors Bureau.
Expectativa maior para próximo verão
A vice-presidente de captação de eventos da entidade, Margot Rosenbrock Libório, diz esperar para a próxima temporada um crescimento ainda maior de turistas.
“A nova praia central influencia na decisão do turista de vir para a cidade, principalmente turistas de alta temporada. A ampliação da faixa de areia tem uma aprovação muito grande dos turistas e da própria população”, afirma Libório.
A avenida Atlântida margeia a praia e só é separada da areia da praia pelo passeio público, que deve passar por uma ampliação –de 4 metros para 15 metros de largura, de acordo com o prefeito Fabricio Oliveira (Podemos).
Com a reurbanização, a intenção é criar espaços separados para caminhada, corrida e ciclistas, além de disponibilizar outros serviços à população na praia.
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A obra, segundo o prefeito, só vai ser possível devido à ampliação da faixa de areia.
A mudança, no entanto, recebe críticas de especialistas. O biólogo e professor na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) Paulo Antunes Horta Junior diz que obras do gênero têm reflexos no meio ambiente “nada desprezíveis” e, por isso, este tipo de intervenção precisa ser revisto devido às mudanças climáticas e ao aumento do nível do mar.
Entre os impactos, segundo o pesquisador, está a redução da transparência da água, além de mudanças em ecossistemas.
Além disso, a dragagem da área acabou por remexer poluentes que se acumularam no fundo do mar ao longo dos anos, conforme o professor.
Peixes, crustáceos e outras espécies acabam consumindo esses poluentes e, no médio e longo prazos, vão ser consumidos pelos seres humanos, o que pode virar um problema de saúde pública, afirma Horta Junior.
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Para o pesquisador, uma análise apenas mercadológica da ampliação da faixa de areia simplifica a questão e não leva em conta os reais impactos da obra para a sociedade. O professor questiona, por exemplo, se o gasto de R$ 66,8 milhões com as obras será duradouro, já que existe risco de a areia ser levada pelo mar.
“O fundo do oceano vai acumulando poluentes diferentes [ao longo dos anos]: metais pesados, hidrocarbonetos e mesmo aqueles poluentes emergentes como antibióticos, fármacos, microplásticos. Tudo isso vai afundando no fundo do mar”, explica.
Já a oceanógrafa e professora da Univali (Universidade do Vale do Itajaí) Débora Ortiz Lugli Bernardes entende que os impactos da obra ao meio ambiente ocorreram principalmente no momento de retirada dos sedimentos. Ela observa, porém, que é preciso acompanhar a hidrodinâmica (direção das correntes) ao longo dos meses para ver se há alguma alteração.
* Por Hygino Vasconcello
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