O comunicador Milton Neves consagrou a seguinte frase no meio futebolístico: “o gol é o grande momento do futebol”. No Brasil, a quantidade de grandes momentos que nos acostumamos a ver por partida da Série A na última década (entre 2011 e a edição atual) é superior a dois, em média.

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Levantamento feito pela reportagem com os resultados das 38 rodadas entre 2011 e 2019, e as 182 partidas do 1º turno deste ano mostra que 78% dos 3.602 jogos disputados na elite do futebol nacional tiveram até três gols combinados. O placar mais comum é o da diferença mínima: o 1 x 0 ocorreu 816 vezes. Depois vem o 2 x 1, registrado em 572 oportunidades. A vitória mais folgada, por 3 x 0, aconteceu em 215 partidas. O levantamento não leva em conta o mando de campo do jogo, nem o tempo em que os gols são marcados, apenas o placar final.

Os números revelam um cenário interessante: uma espécie de peso nos gols marcados na Série A do Brasileirão. Pelo histórico, sair na frente do placar é indicativo de vitória em 22,65% das partidas, já que esse é o percentual de jogos encerrados com o placar mínimo. A equipe que consegue ampliar a vantagem e marcar o segundo gol eleva para 28,51% as chances de triunfos, considerando que esse foi o percentual de partidas que terminaram 2 x 0 ou 2 x 1.

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Há, porém, uma pequena parcela de vezes em que o time que marcou pelo menos dois gols não venceu: 4,7% dos jogos (171 partidas) terminaram empatados em 2 x 2. O volume de empates sem gols é de 8,7% e em 1 x 1 é de 12,5%.

O Brasileirão de 2011, vencido pelo Corinthians de Tite, foi o que teve a maior média de gols na série histórica: 2,68 gols por partida. De lá pra cá, esse índice vem oscilando. Na atual temporada, por outro lado, o indicativo é de crescimento. Até o momento, foram 182 jogos e 450 gols marcados. Um média de 2,47 gols por partida. O índice é igual ao do Brasileiro de 2012, e superior ao registrado nas últimas sete edições da competição.

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Há outra relação importante entre 2011 e a atual edição. Em ambas, o placar mais vezes repetido foi o 2 x 1. Entre 2012 e 2019, foi o 1 x 0 que definiu os jogos. O que pode explicar esse aumento de gols? Os comentaristas esportivos da NSC, Roberto Alves e Rodrigo Faraco, avaliam os números e opinam sobre o assunto.

“O futebol está mais feio”, diz Roberto Alves

O futebol está mais feio. Perdeu o charme, habilidade e o poder ofensivo. A arte e o carinho de se tratar a bola desapareceu por conta da força, da diminuição de espaços, da marcação e do resultado final.

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> Confira a opinião e as análises de Roberto Alves

Os técnicos jogam hoje basicamente para não perder o emprego. O placar mínimo, o 1 x 0, hoje é chamado de goleada. O encanto do nosso futebol foi embora, dando lugar aos esquemas defensivos que priorizam a velocidade do contra-ataque, salvo raríssimas exceções.

Hoje, temos uma única solução de voltar a marcar gols em maior número: aumentar a trave.

“A maioria dos treinadores aderiu formato quase único, que defende o resultado”, analisa Rodrigo Faraco

Nessa última década, o futebol brasileiro potencializou expressões e práticas que entraram na corrente sanguínea, no dia a dia de jogadores, técnicos, imprensa e torcedores. Todos os dias tem um “time reativo”, o “jogar por uma bola” ou o “jogar no erro adversário”. A maioria dos treinadores aderiu a um formato quase único, que defende o resultado e, por consequência, o emprego destes mesmos treinadores.

​> Confira a opinião e as análises de Rodrigo Faraco

Os times jogam atrás, defendem o tempo inteiro e saem em velocidade, abrindo mão de jogar com a bola. O Corinthians de 2017, campeão brasileiro, era assim, o Palmeiras 2018, de Felipão, também. A mudança veio no ano passado, com os times ofensivos e de posse de bola, de Jorge Jesus e Jorge Sampaoli. Mas a transição ainda é um caminho longo e depende da mudança de mentalidade de todos os envolvidos.

Se não mudar, vamos seguir jogando por 1 x 0 e sem querer a bola.

Curiosidades

– O placar que mais vezes ocorreu entre 2011 e a 19ª rodada deste ano foi o 1 x 0, com 816 vezes entre 3.602 partidas disputadas.

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– As edições de 2014 e 2016 registraram o maior número de 1 x 0, com 102 jogos em cada temporada.

– O empate sem gols ocorreu em 315 duelos nos últimos 10 anos na Série A do Brasileiro.

– A edição de 2018 foi a que mais registrou empates sem gols, com 43 partidas. Neste ano, até o momento foram 13.

– Os placares com o maior número de gols marcados tiveram nove gols e ocorreram quatro vezes: foram três 5 x 4 e uma única vez por 6 x 3.

– A edição de 2011 teve dois jogos com o placar de 5 x 4: em 27/7, na Vila Belmiro, o Flamengo bateu o Santos, com três gols de Ronaldinho Gaúcho; em 16/11 Fred marcou quatro vezes e liderou o Fluminense no triunfo sobre o Grêmio.

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– O placar por 6 x 3 ocorreu no Brasileiro de 2017. Em 8/6, o Grêmio venceu a Chapecoense, na Arena Condá. O destaque da partida foi Everton Cebolinha, com três gols marcados para o Tricolor gaúcho.