Durou menos de uma hora o ato final de uma das mais tristes missões do programa brasileiro de pesquisa na Antártica. Por volta de 1h30min desta segunda-feira, quando silenciaram os motores do Hércules C-130 da Força Aérea Brasileira vindo de Punta Arenas, Chile, os 41 passageiros (39 brasileiros e duas espanholas) que sobreviveram ao incêndio na Estação Antártica Comandante Ferraz, na madrugada de sábado, desembarcaram na pista da Base Aérea do Galeão. Antes, o Hércules havia feito uma escala em Pelotas, onde quatro pesquisadores desembarcaram. Continua depois da publicidade
No Galeão, os sobreviventes foram recebidos pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, e pelo comandante da Marinha, almirante de esquadra Julio Soares de Moura Neto. Antes do desembarque, Amorim fez questão de ressaltar aos repórteres presentes o compromisso do governo brasileiro com a continuidade do programa antártico:
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– A presença do governo aqui é um sinal da importância da pesquisa científica na região – disse.
O ministro considerou exageradas algumas estimativas sobre a retomada dos trabalhos no continente gelado (“Li uma entrevista em que se falava em cinco anos”) e anunciou que hoje mesmo serão feitas reuniões com representantes das áreas envolvidas no trabalho -Defesa, Ciência e Tecnologia, Educação, Meio Ambiente e Relações Exteriores – a fim de se planejar o caminho a seguir. Amorim afirmou que a preocupação com a segurança da estação brasileira será reforçada.
Depois de desembarcar, os passageiros dirigiram-se às dependências do Correio Aéreo Nacional, onde eram aguardados por familiares. O primeiro-sargento Luciano Gomes Medeiros, que sofreu queimaduras de segundo grau nas mãos, foi levado de ambulância para o Hospital Naval Marcílio Dias, no centro do Rio. Passageiros e familiares que não residem no Rio foram levados num ônibus providenciado pela Marinha para o Hotel Íbis, onde pernoitaram antes de embarcar para suas cidades de origem.
Poucos dos 41 sobreviventes se dispuseram a falar com a imprensa. Os que se manifestaram forneceram detalhes sobre o acidente. Continua depois da publicidade
– Quando soubemos que havia fogo, houve um procedimento de evacuação. Estavam todos bem consternados e assustados, até porque a impressão inicial era de que o incêndio não era grave e poderia ser controlado em pouco tempo -disse a pesquisadora Fernanda Neves Siviero, do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (Ieapm), vinculado à Marinha, que havia chegado à estação em fevereiro.
Por volta da meia-noite de ontem, outro Hércules C-130 havia decolado do Galeão com destino à estação antártica chilena Eduardo Frei, onde se encontram os restos mortais dos militares da Marinha Carlos Alberto Vieira Figueiredo e Roberto Lopes dos Santos. Ambos morreram enquanto tentavam combater as chamas na praça de máquinas da estação. O Hércules, que tem a missão de repatriar os restos dos militares, fará uma escala em Punta Arenas, onde embarcarão o embaixador no Chile, Frederico Cezar de Araújo, e dois adidos. A viagem do Rio a Punta Arenas dura cerca de oito horas, e da cidade chilena à estação Frei, cerca de três horas se houver boas condições de tempo.