A campanha eleitoral para as eleições legislativas na Turquia termina neste sábado sem grandes esperanças para o governo islâmico-conservador voltar a governar sozinho o país em meio a violências e tensões.

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O primeiro-ministro Ahmet Davutoglu e os chefes dos três principais partidos da oposição representados no parlamento mobilizam suas tropas uma última vez com a esperança de desafiar as pesquisas que predizem uma repetição dos resultados de cinco meses atrás.

Em 7 de junho, o partido do presidente Recep Tayyip Erdogan sofreu uma importante derrota. Apesar de ter chegado em primeiro, com 40,6% dos votos, perdeu a maioria absoluta que possuía há treze anos no parlamento, mergulhando a Turquia na instabilidade política.

Este revés trouxe à tona a ambição do chefe de Estado de impor ao país uma “superpresidência” com prerrogativas reforçadas.

Mas, confiante de ser capaz de se levantar, o homem forte na Turquia autorizou as discussões lideradas por Davutoglu para formar um governo de coalizão e convocou eleições antecipadas.

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As pesquisas de opiniões creditam dessa vez ao seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) de 40 a 43% dos votos, um resultado insuficiente para governar sozinho.

“O principal desafio das eleições parlamentares será a redução ou reforço dos poderes de Erdogan”, considera o analista Asli Aydintasbas, do Conselho Europeu de Relações Exteriores.

Nas últimas semanas, a segunda campanha do ano foi marcada por uma atmosfera amarga, com um aumento dramático da violência.

Desde o verão, o conflito armado que opõe desde 1984 os rebeldes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) às forças de segurança turcas foi retomado no sudeste de maioria curda do país, enterrando o frágil processo de paz iniciado há três anos.

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A guerra que arrasa há quatro anos a Síria também chegou até a Turquia após o atentado suicida realizado por dois membros do grupo jihadista Estado Islâmico (EI), que fez 102 mortos entre militantes pró-curdos.

Estabilidade e confiança

Esse aumento da violência preocupa cada vez mais abertamente os aliados ocidentais da Turquia, começando com a União Europeia que tem enfrentado um crescente fluxo de refugiados, principalmente sírios, a partir de seu território.

Juntamente com a recente desaceleração da economia, que era até então o seu principal argumento eleitoral, este clima tem incomodado o regime Erdogan.

Embora tenha desistido de fazer campanha abertamente como em junho, o chefe de Estado aposta em seu peso, colocando-se como a garantia da segurança do país e repetindo sua preferência por “o governo de um único partido”.

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“Esta eleição deverá ajudar a manter a estabilidade e confiança”, reiterou neste sábado Erdogan. “Se Deus quiser, os eleitores vão votar amanhã para proteger nossa unidade nacional sem ceder às organizações terroristas”.

O líder do Partido da Ação Nacionalista (MHP, à direita), Devlet Bahçeli, denunciou o posicionamento “autocrático” do chefe de Estado em Adana (sul).

Neste contexto de extrema polarização, analistas políticos duvidam dos resultados das negociações da nova coalizão e já antecipam, em caso de fracasso, uma nova votação na próxima primavera.

“Os eleitores estão cansados de eleições”, advertiu Ozgur Unluhisarcikli, do German Marshall Fund, em Ancara, “o partido que levar o país a uma terceira eleição será severamente punido pelos eleitores”, estima.

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Cerca de 400 mil policiais e gendarmes foram mobilizados para garantir a segurança da votação, especialmente no sudeste do país, afetado pela retomada do conflito curdo.

Nessas regiões, “a liberdade de campanha tem sido muito prejudicada pelas condições precárias, especialmente nas áreas onde toques de recolher foram decretados”, alertou a missão de observação da Organização para segurança e Cooperação na Europa (OSCE) em um relatório divulgado esta semana.

As equipes dos principais partidos já anunciaram a mobilização de centenas de milhares de seus partidários para evitar fraudes.

A polícia turca também reforçou neste sábado a proteção em torno da sede do jornal de oposição Cumhuriyet em Istambul em razão de ameaças de atentados jihadistas, três semanas após o ataque em Ancara.

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* AFP