O movimento das vassouras e esfregões já começou nos dez cemitérios municipais de Joinville, que abrigam uma população maior do que a que habita hoje a cidade de Tubarão, a segunda maior do Sul de Santa Catarina. Enquanto lá existem cerca de 100 mil habitantes, aqui perduram 136.166 lápides. O que equivale a quase 30% das pessoas que moram em Joinville. A Fundação Municipal do Meio Ambiente (Fundema) orienta que as limpezas sejam feitas antes desta sexta-feira. Entre 30 e 2 de novembro, que é Dia de Finados, os cemitérios ficam abertos apenas para visitação.

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– Finados não é um evento para lavar túmulos – criticou o coordenador de cemitérios da Fundema Sérgio Bahiense.

Ao longo do ano a fundação cuida dos cemitérios da cidade para que estejam 100% na época do ano em que chama mais atenção. As ruas ficam mais limpas, os muros são lavados e pintados, assim como os meio fio. Comerciantes aproveitam a movimentação típica dessa época para lucrar com a venda de flores e alimentos. De acordo com Bahiense, apenas quem tem CNPJ pode vender flores naturais nos cemitérios durante Finados, pois é a o evento em que floriculturas garantem o lucro do ano.

Alimentos também podem ser comercializados, desde que tenham autorização da Vigilância Sanitária. Tanto para quem vende comida quanto para aqueles que comercializam flores, a autorização para usar o espaço público é feita previamente através de cadastro e sorteio. Neste ano, Sérgio garantiu que nenhuma floricultura terá estande em mais de um cemitério. Tudo isso para promover um “evento” organizado.

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– É o maior movimento cultural da cidade – acreditou o coordenador, que completou – Fazer o culto religioso faz parte da cultura do povo. Milhares de pessoas vão. Esse negócio de cultivar os mortos faz parte da cultura.

Com a vassoura nas mãos, a costureira aposentada Matilde de Paula Medeiros, tirava o acúmulo de sujeira do túmulo de sua irmã, Geni. A falecida era a terceira de sete irmãos. Hoje ela teria 71 anos. Morreu de infarto depois de viver histórias tristes. Tinha problemas nos nervos. Matilde conta que a irmã foi abandonada pelos cinco filhos, porque “ninguém quer cuidar de pessoas doentes”. Geni morreu no hospital em 2005, depois de um infarto. Ela já estava internada por causa de “problemas nos nervos” e tomava remédios controlados.

Matilde só tem uma explicação para seu retorno sempre certo às ruas do Cemitério Municipal, munida de vassoura e balde. É uma resposta no presente, viva:

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– Porque eu amo ela.

Comércio antes de Finados

Nem só de amor é feita a limpeza do Dia de Finados. Semanas antes, muitos vão fazer dinheiro entre as lápides. Oferecem serviços por túmulo, que podem ser feitos uma vez por ano ou até mensalmente.

Para limpar um túmulo simples, Cláudia Osório cobra R$ 30,00. Se for duplo, R$ 50,00. Ela chegou a limpar um mausoléu por R$ 300,00.

– Fazia 25 anos que não limpava – ressaltou Cláudia.

O produto mais usado é o hipoclorito. O preço depende da quantidade de material gasto. Duas semanas antes de antes do Dia, Cláudia está achando o movimento “feio”.

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– A concorrência tá grande, viu – comentou.