Udo Döhler (PMDB) completa cem dias de governo nesta segunda-feira em seu segundo mandato à frente da cidade mais populosa de Santa Catarina. Em entrevista ao ‘AN’, o prefeito de Joinville faz uma avaliação da gestão nesse período, fala sobre o andamento da execução das propostas de campanha e projeta as obras e os projetos previstos para serem realizados em 2017. Confira:
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Na educação, o senhor prometeu ampliar e reformar a atual estrutura da rede municipal e expandir a oferta de vagas para o ensino infantil. O que avançou e quais projetos estão previstos para este ano?
Udo Döhler – Temos mais seis creches para serem construídas e depois vamos adensar esses projetos. Estamos fazendo esse mapeamento ainda. Nossa preocupação agora é não perder o espaço que conquistamos na educação. Hoje, a criança que sai do ensino infantil e vai para o ensino fundamental já está preparada. Agora, com a modificação da grade da educação do País, no segundo ano, todo aluno vai ter que saber ler e escrever. Já estamos preparados para isso, já fizemos o dever de casa. Isso no País ainda vai ser uma busca e essa nós já conquistamos. Temos o melhor Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), e todas as escolas e salas estão climatizadas, com computadores, tablets e lousas digitais. Agora, vem o segundo momento. É preparar essa escola para as próximas duas décadas. Então, veio a nossa reforma, nos primeiros cem dias. Acabamos com toda a administração indireta. As undações desapareceram porque só atrapalhavam. Um dos exemplos foi juntar a Fundação Albano Schmidt (Fundamas) com a Secretaria de Educação. Dentro da Fundamas, estavam o ensino pré-profissional e a Universidade do Trabalhador. Tudo isso se juntou à educação e, com isso, estamos formalizando o ensino profissionalizante. Ele se incorpora à formação do aluno. Lá, nós vamos construir laboratórios de robótica já olhando para o futuro. Então, isso vai ser um novo salto porque daqui a 20 anos, quando essa criançada estiver madura, não vamos estar apenas ocupados com a indústria metal-mecânica. Essa continuará como está, mas deixa de crescer porque o automóvel vai ter uma outra configuração. Já enxergamos que o nosso espaço está na área da biotecnologia, dos novos materiais, da economia verde, da saúde. Então, estamos nos preparando para que lá adiante essa criançada possa estar preparada para esse momento.
A Prefeitura está avançando na ampliação da rede de cobertura de esgoto na cidade. O que deve ficar pronto ainda neste ano?
Udo – Neste ano, não vamos ter avanços significativos que nos permita sair desses 37% de cobertura de esgoto para algo em torno de 50%. Isso vai demorar um bocadinho mais. O que nós fizemos nos últimos quatro anos foi dobrar a rede de esgoto na cidade e, mais do que isso, ligar a espinha à linha dorsal. As redes estavam implantadas, mas não estavam ligadas à espinha dorsal. Isto é, não faturavam nada e não tratavam nada. Estava implantado, mas não funcionava. Tanto que ninguém se ligava à rede de esgoto. Isso começou a mudar. Ainda é preciso recuperar alguma coisa que não foi bem feita no passado, como no Espinheiros, que tem uma estação antiga ali. Aquela estação foi mal dimensionada. Tem que ser adequada à nova realidade. Temos uma estação inicial, essa ficou totalmente obsoleta no Profipo. Então, ali vai ter que fazer uma rede totalmente nova. Mas, em compensação, a estação de tratamento do Jarivatuba, a céu aberto e que está esgotada, será concluída em três anos. E a estação de tratamento de efluente estará pronta nesse período. Em 2018, será entregue e, com isso, resolve-se todo o problema. E mais adiante, até essa antiga estação vai se transformar em um parque.
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Haverá avanços nas obras do rio Mathias neste ano?
Udo – Nós temos uma leitura do desconforto que essa rede causa. Na rua Otto Boehm, que está na ordem do dia, o município acabou tendo de responder a uma ação porque os moradores da rua não queriam que fosse implantada ali a drenagem. Naturalmente, não foram bem-sucedidos. Agora, existe uma outra ação pedindo indenização porque os estabelecimentos comerciais tiveram prejuízos enquanto a unidade estava sendo instalada. As obras na Otto Boehm causaram um desconforto muito grande porque pegou todo esse período de chuva, com enchentes e se trata de uma obra complexa. Ali não é simplesmente colocar galerias. Tem água correndo, esgoto correndo, fibra ótica andando, uma porção de coisas. Então, no próximo mês, esse trecho estará resolvido. É uma obra (drenagem do rio Mathias) gigantesca, que causa incômodo grande e que será maior ainda quando passar na Via Gastronômica.
A obra está atrasada?
Udo – Está. Aqui na frente da Prefeitura, na praça Dario Salles, a obra foi refeita. Inicialmente, iríamos ter ela num nível só, com uma galeria só. Hoje, ela está em três níveis. As galerias começam pequenas e se alargam até chegar à praça. Aí, decidiu-se construir um grande piscinão. Começamos a cavar, ficou uma montanha de areia, veio a Fatma e interditou a remoção. Levamos ali uns quatro ou cinco meses para conseguir que a areia fosse removida. As enchentes, no entanto, nos permitiram decretar situação de emergência e a Fatma autorizou a retirada do material. Interrompemos a construção do piscinão em cinco meses. Foi prejuízo para a população e para o município. O rio Mathias tem três frentes de trabalho. Ele vai ser implantado, vai causar um incômodo, mas no fim a população vai perceber o benefício que a drenagem vai trazer. Um caos maior seria fecharmos nossos hospitais. E estamos correndo esse risco se, daqui a pouco, alguém não encontrar uma forma de Joinville ser ressarcida dos 41% (da receita tributária) que gasta, enquanto deveria estar gastando 15% ou 20%, como nas outras cidades do Estado.
O que ficará pronto até o fim do ano nas obras do rio Mathias?
Udo – Nada. E vou explicar o porquê. É que as galerias estão sendo implantadas, mas elas só funcionarão quando a obra estiver concluída. Alguma coisa já vai adiantar porque, à medida que esse piscinão ficar pronto, e também a saída para o rio, ali na rua Jerônimo Coelho, já vai aliviar um pedaço. A parte da rua Otto Boehm ainda não (vai estar em operação), porque vai ter de passar pela Via Gastronômica para ligar aqui embaixo. Na hora que as duas se juntarem, aí a obra estará concluída. Mas na praça da Bandeira até a rua do Príncipe nós já vamos ter melhoras em meados do próximo ano.
Uma das propostas de campanha foi construir quatro pontes durante o mandato. Como está a previsão para essas obras?
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Udo – Tem uma que vai começar agora: da rua Plácido Olímpio com a Aubé. Esta deve ser a primeira e é uma obra importante. O projeto está pronto, aprovado, a licença ambiental obtida. Acho que, dentro de dois meses, ela estará começando. Deve demorar uns sete a oito meses porque é pesada, mas o acesso é fácil, com praticamente tudo livre. Depois, tem a ponte da rua Anêmonas, da rua Nacar e a que vai ligar o (bairro) Adhemar Garcia ao (bairro) Boa Vista.
Qual é o impacto que a Prefeitura esperar conseguir com a ponte da rua Aubé?Udo – Vai descongestionar um bom pedaço do Centro. Aliás, isso é uma outra questão que é preciso considerar. Na nossa proposta, vamos ampliar as ciclovias dos 140 km atuais para 740 km até 2022. Isso vai ser um avanço gigantesco. Primeiro, as ciclovias precisam ser melhoradas. E eu tenho feito esse exercício, andado nas ciclovias. Vejo as dificuldades para atravessar e faço isso quase toda a semana. Vamos pegar a Otto Boehm como exemplo. Ninguém anda de bicicleta lá. Daí dizem para tirar a ciclovia e deixar passar o automóvel. Esse é o grande equívoco. Todos nós precisamos andar de bicicleta. Com o automóvel, posso dobrar, triplicar, quadruplicar a via e não tem saída. A alternativa é o transporte coletivo. Por mais que se queira, não tem como preparar as vias públicas para o automóvel. Hoje, duplicar a largura de uma rua Blumenau é totalmente inviável. Na Santos Dumont, a desapropriação custa tanto quanto a execução da obra. No mais, temos que ter os contornos rodoviários. No Leste, a ponte que vai ligar o Boa Vista até o Adhemar Garcia já estará inserida no contexto, saindo de Araquari e terminando em Pirabeiraba. Ainda estamos buscando recursos para essa obra. Já o contorno rodoviário Oeste, que é novo neste governo, vai ter um desvio saindo da BR-101, onde tem o cruzamento com a BR-280 e o campus da UFSC, passando por Guaramirim, pelo bairro Vila Nova e voltando a Pirabeiraba. Para isso, já temos recursos assegurados, que vão sair do futuro pedágio. Aquela passagem de nível, em frente à UFSC, está dentro do projeto. Não custou nenhum centavo. Cada vez que a gente paga o pedágio, está ali um centavo para custear isso. Da mesma forma, esse contorno será pago.
E as outras pontes?
Udo – As outras também estão com recurso assegurado, projetos prontos, só dependem de licenciamento ambiental porque daí entra o Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis com alguma coisa pequena para resolver. Tão logo se resolva, isso também está resolvido. Então, as três pontes começam este ano. Menos a do Adhemar Garcia porque essa vai passar pelo EIA/Rima, que leva um ano porque tem que considerar as quatro estações do ano. Essa obra, se sair o aval agora, a gente contrata até o meio do ano, e, em meados do ano que vem, ou seja, em 2018, o licenciamento vai estar pronto e a obra começa imediatamente, acontece nesse governo. As outras duas obras começam ainda neste ano.
O senhor havia previsto na campanha fazer 56 km de corredores de ônibus. O quando já foi feito e quais são os projetos previstos para este ano?
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Udo – Nada avançou. Os corredores de ônibus iniciaram pela rua São Paulo. Então, estamos colocando isso de novo na linha do tempo. Os recursos, embora estejam conosco, dependem da liberação da Caixa Econômica Federal – são R$ 104 milhões –, que estão chegando em doses homeopáticas. Os recursos para a rua Piratuba, por exemplo, é uma correira para liberar. E o caixa do governo federal anda meio seco. Vamos entregar a São Paulo neste ano e, dali em diante, vamos mexer na (avenida) Beira-rio. Hoje, menos da metade das vias de Joinville estão pavimentadas.
A Prefeitura pretende avançar em relação à pavimentação neste segundo mandato?
Udo – Vou responder isso de uma forma muito cuidadosa. Na primeira gestão, anunciamos que iríamos pavimentar 300 km de vias. Isso acabou não acontecendo. E por quê? Nós tivemos que optar por prioridades porque as finanças do município estavam arruinadas. A educação está resolvida; a saúde está prestes a se resolver, é só agora transferir os recursos para serem absorvidos pelo Estado e pela União; e agora podemos mergulhar na infraestrutura, mas secou o caixa de todos. Ou seja, a nossa receita caiu 15%, a despesa vem crescendo – a cada dia que a gente coloca um posto de saúde novo, amplia uma escola, são novos servidores sendo contratados. Mas a nossa visão agora se volta mais para a infraestrutura. Estamos correndo em busca de recursos. Temos emendas parlamentares que estão por vir como o Fundam 2, que vai permitir mais repartição. Vamos cobrar forte do Estado uma participação um pouco maior. Vamos ter surpresas boas, mas agora é descobrir onde está o dinheiro. E uma coisa nós aprendemos: não adianta querer colocar um balde em dia de chuva porque dinheiro não cai do céu.
É possível avançar em alguma coisa ainda neste ano?
Udo – Vai ser difícil porque até o meio do ano, nós vamos saber, se o presidente fica ou não. Isso é um ponto de interrogação. Mas, enquanto isso não se decide, deixo meu dinheirinho guardado e depois vou decidir se vou comprar o ar condicionado ou a geladeira. Isso acontece com todos. Ninguém investe e a economia não cresce. Cai o imposto e eu não tenho o que fazer. Então, neste primeiro semestre, não vai acontecer nada. No segundo, aí sim, porque daí o avanço já foi feito. O fato de a gente ter a nossa PEC 241, que acertou as questões das pedaladas fiscais, já é bom. A reforma da Previdência é uma pena que o Executivo recuou um bocadinho para fazer um acerto com o Congresso, pois ele é fisiológico. Isso não resolve a Previdência, vamos continuar deixando ela em déficit. Isso é uma irresponsabilidade. O político deveria se envergonhar do que está fazendo porque, lá adiante, as nossas criancinhas não vão conseguir se aposentar porque a Previdência vai quebrar. Então, é preciso achar uma solução para isso. Os benefícios fiscais estão sendo diminuídos. Claro, existem indícios bons, como a indústria automobilística que conseguiu reagir bem em março, se comparado a março do ano anterior. Só que isso não é suficiente, precisa ter estabilidade política. Se não tiver, não acontece nada.
O PA Sul começou a ser ampliado e reformado, mas houve problemas de atraso no repasse do Estado. Já houve um acerto com o governador?
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Udo – O PA Sul, nós vamos dobrar de tamanho. Os recursos, tanto do Estado quando do governo federal não chegaram. Estamos cobrando forte para que isso aconteça. Chegamos a dizer isso para o ministro da Saúde. Ele se mostrou sensível a isso e disse que vai liberar. São R$ 700 mil e mais R$ 2 milhões do governo do Estado para que a gente possa concluir essa obra. O município está fazendo a sua parte, mas isso não é o suficiente. O pessoal vai andar um pouco mais devagar, mas nós queremos terminar. Era para terminar neste ano, então agora nós estamos estimando que termine no ano que vem em função dessa dificuldade do aporte de recursos, mas essa obra vai sair. Vai ser o PA mais bem equipado do Estado.
Se os recursos não chegarem a tempo, existe o risco de a obra parar?
Udo – Claro que existe. Se o presidente Michel Temer decidir, ¿olha, agora vou passear e descansar¿, aí a chance é pequena (de chegarem recursos) até que um novo governo assuma. Mas a nossa expectativa é de que a gente vá terminar isso aí.
O senhor prometeu aumentar o efetivo da Guarda Municipal de Joinville. Quando isso deve acontecer?
Udo – Vamos licitar ainda este ano. Claro que isso não significa que ela vai para a rua porque essa guarda precisa ser preparada e selecionada. Nós estamos pensando em aumentar esse contingente em 20 a 30 pessoas. Hoje, são 45 pessoas. O desejável era dobrar isso, mas não queremos cometer o descuido de lá adiante não poder pagar o salário. Mas, lá adiante, nós esperamos ter um contingente superior a 200 guardas.
O governador estará nesta segunda-feira em Joinville. Há alguma agenda marcada com ele?
Udo – Nós temos na Associação Empresarial (Acij), onde vamos participar do lançamento da duplicação (das avenidas) Edgar Meister e Hans Dieter Schmidt. Depois, estaremos com ele novamente no Corpo de Bombeiros Voluntários, onde ele vai anunciar R$ 4,5 milhões para as corporações, dos quais 35% ficarão para Joinville. E fizemos o convite ao governador para que ele passasse por aqui também. Se tiver espaço na agenda dele, a gente tem uma série de outras questões para avançar. Acho que essa visita vai ser boa porque o governador, estando aqui, vai perceber a importância da cidade. Isso não tem como nós ignorarmos. Joinville é a cidade mais importante do Estado, a terceira mais importante do Sul do País, e a 27ª do Brasil. O nosso futuro é promissor. Nós vamos crescer acima da média do Estado. Por isso, é importante que o governador nos visite mais frequentemente, mas eu também penso que com toda essa transição que houve, essas reformas levaram o seu tempo e que isso esteja adequadamente absorvido para que a gente tenha o governador com maior frequência em Joinville.
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Qual será o grande desafio para o restante de 2017?
Udo – Fazer com que a gente consiga honrar aquilo que mais tem importância: o salário do servidor. Porque nós estamos antevendo um semestre ainda muito difícil. E aí, no ano que vem, se não acontecer nenhuma tragédia de percurso, a gente pode começar a crescer no País entre 0,5% e 1%. E, se isso acontecer, a gente avança nas obras que mencionei de infraestrutura.
Qual será o grande avanço de Joinville ainda neste ano?
Udo – Neste ano, o grande avanço será manter o equilíbrio das nossas contas, não perder nada do que nós conquistamos em saúde e educação. E avançar na parte de infraestrutura. Esse é nosso desafio neste ano e que não vai ser fácil de alcançar.