Tornou-se usual dizer que os 21 anos entre o fim da I Guerra e o início da II Guerra Mundial foram um hiato, que uma deu sequência à outra. Também virou clichê referir-se ao período do entre guerras como aquele que mudou o mundo, que fez dele um lugar menos inocente. Por isso, o livro U-93 – A Entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial, que o jornalista de Zero Hora Marcelo Monteiro autografa nesta quinta-feira, às 19h30min, na Saraiva MegaStore do Praia de Belas Shopping, recupera algo que havia sido extraviado. Se o mundo perdeu um jeito ingênuo, imagina o Brasil, país cafeeiro e sob o mando dos coronéis da política café com leite, independente havia menos de um século e com a maioria da população analfabeta.
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O músico João Barone, no prefácio, foi feliz ao dizer que Franz Ferdinand não é só nome de banda e que o Brasil, na I Guerra, não foi apenas o país que teria atacado um cardume de peixes pensando ser um submarino alemão. E Monteiro foi mais feliz ainda ao abrir o livro relatando a prisão de um ladrão de galinhas ao pescar (sim, pescar galinhas sobre um muro, do quintal alheio, com milho no anzol!) em plena capital federal, o Rio de Janeiro. Assim era o Brasil.
O episódio do pescador de galinhas ocorreu em 24 de outubro de 1917, exatos 13 anos antes da Revolução de 30, que pôs o país na modernidade. Dois dias depois desse caso pitoresco do “pescador”, o Brasil entrou na guerra e, para o bem e para o mal, começou a perder a inocência, embarcando na nova onda da Revolução Industrial, de avanços sociais por um lado e de tecnologia a serviço da barbárie, por outro.
O ingresso do Brasil na I Guerra foi tardio, como viria a ser também na de 1939/45. Nos dois casos, navios eram derrubados por alemães e havia a tradicional parceria com os Estados Unidos – também para o bem e para o mal.
Uma das passagens mais curiosas do livro é a fala profética do então premier britânico, David Lloyd George, que vaticinou: uma paz precária na guerra de 1914 levaria a outro conflito, devastador. O cabo Adolf Hitler viria a lhe dar razão. Mas o fato é que muito se repetiu entre uma e outra guerra, o que atesta a ideia da continuidade. A decisão brasileira de ir à luta veio à tona, nos dois conflitos, quando os EUA fizeram o mesmo e navios brasileiros começaram a submergir, torpedeados por submarinos alemães. Foi o Paraná, o Tijuca, o Lapa e – a gota d’água! – o Macau.
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É inevitável a conclusão de que os submarinos foram decisivos no conflito. Se a Alemanha os usava para torpedear navios inimigos e também aqueles que lhes forneciam alimentos, havia o outro lado: muitos dos navios abatidos eram de países neutros. Isso acabou sendo um convite para se tornarem adversários. Foi o caso do Brasil. Os submarinos, estratégia e perdição alemã.
U-93
Marcelo Monteiro
História, BesouroBox, 320 páginas, R$ 48.
Sessão de autógrafos, nesta quinta-feira, às 19h30min, na Saraiva MegaStore do shopping Praia de Belas (Praia de Belas, 1.181), em Porto Alegre.