O Exército turco lançou neste sábado (20) uma operação terrestre para expulsar uma milícia curda do norte da Síria, desafiando as advertências americanas de que a ação poderia desestabilizar a região.

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Ancara enviou nos últimos dias centenas de soldados e dezenas de veículos militares à zona fronteiriça, como preparação para uma operação contra as Unidades de Proteção Popular (YPG), uma milícia curda da Síria que a Turquia considera uma organização terrorista.

A nova operação, batizada de “Ramo de Oliveira”, é dirigida contra as YPG e o grupo Estado Islâmico (EI) e começou às 14h00 GMT (12h00 de Brasília), anunciou o Exército turco, assegurando que respeitaria a integridade territorial da Síria.

Horas antes, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou o início “de fato” de uma operação terrestre.

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Erdogan prometeu em várias ocasiões limpar os “ninhos de terrorismo” na Síria, apesar das advertências de que uma operação poderia complicar as relações com Washington e Moscou.

O Ministério russo das Relações Exteriores informou neste sábado estar “preocupado” pelas informações sobre a operação e pediu “retenção”, antes que o Ministério da Defesa anunciasse a retirada de seus tropas de Afrin.

A Turquia disse que informaria o presidente sírio, Bashar al-Assad, da nova ofensiva. “Informamos a todas as partes do que estamos fazendo (…) Embora não tenhamos relações com o regime (sírio), estamos dando os passos de conformidade com o direito internacional”, disse o chanceler turco, Mevlut Cavusoglu, à televisão 24 TV.

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No entanto, o governo sírio negou neste sábado que a Turquia tivesse informado sobre a operação militar em Afrin.

“A Síria nega completamente as declarações do governo turco que dizem que informou de sua operação militar”, declarou uma fonte do Ministério das Relações Exteriores à agência oficial Sana. Esta mesma fonte disse que Damasco “condena fortemente a brutal agressão da Turquia em Afrin, que é uma parte inseparável do território sírio”.

– Colunas de fumaça –

Um correspondente da AFP no lado turco da fronteira viu dois aviões de guerra lançarem ataques em território sírio, provocando grandes colunas de fumaça.

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O primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, confirmou os bombardeios aéreos.

Unidades de rebeldes favoráveis à Turquia, conhecidas como Exército Livre Sírio (ELS), também começaram a se mover até a zona de Afrin, segundo a agência de notícias turca Anadolu.

Afrin “será seguida por Manbij”, disse Erdogan em referência a outra localidade síria, também dominada pelas YPG, mais a leste.

Ancara acusa as YPG de serem o braço sírio do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que realiza há 30 anos uma rebelião armada no sudeste da Turquia, povoado majoritariamente por curdos.

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Não obstante, as YPG também são um aliado-chave dos Estados Unidos, sócio da Turquia na Otan, na guerra contra o grupo EI, e desempenharam um importante papel na expulsão dos extremistas de seus principais redutos na Síria.

O ministro adjunto sírio das Relações Exteriores, Fayçal Mekdad, advertiu na quinta-feira que a aviação síria abateria qualquer aparato militar que entrasse em seu espaço aéreo.

Os analistas consideram que para lançar uma grande ofensiva na Síria é necessário o aval da Rússia, que está militarmente presente na região e mantém boas relações com as YPG.

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O chefe do Exército turco, o general Hulusi Akar, e o dos serviços de Inteligência, Hakan Fridan, viajaram na quinta-feira a Moscou para manter reuniões.

“A Turquia não lançará uma ofensiva terrestre e aérea total sem a benção de Moscou”, previu Anthony Skinner, analista do gabinete de consultores de risco Verisk Maplecroft.

– Estabilidade regional –

As ameaças de intervenção turca provocaram preocupação em Washington.

“Não acreditamos que uma operação militar (…) conduza à estabilidade regional, à estabilidade na Síria, nem ao apaziguamento dos temores da Turquia em relação à segurança de sua fronteira”, advertiu na sexta-feira um funcionário de alto escalão do Departamento de Estado.

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Mas Erdogan acusou os Estados Unidos de não manterem suas promessas de que as YPG sairiam de Manbij. “Por isso ninguém pode colocar objeções se fizermos o que é necessário”, declarou.

Erdogan reagiu furiosamente esta semana diante do anúncio da criação no norte da Síria de uma força fronteiriça de 30 mil efetivos, apoiada pelos Estados Unidos e composta em parte pelos combatentes das YPG.

O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, disse depois que “toda a situação havia sido mal retratada e descrita”, e admitiu que deviam “uma explicação” à Turquia.

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“Não importa o que nos digam”, respondeu Erdogan. “Vão aprender o mal que é confiar em uma organização terrorista”.

Neste sábado, cerca de 500 novos recrutas participaram junto à cidade de Hassaké (nordeste da Síria) de uma cerimônia para celebrar o fim de sua formação para integrar esta força.

Metade de seus combatentes procedem das Forças Democráticas Sírias, uma aliança de combatentes curdos e árabes aliados de Washington, e a outra metade estará composta por novos recrutas árabes e curdos.

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* AFP