A Turquia prosseguiu neste sábado com os expurgos após a tentativa de golpe de Estado contra o presidente Recep Tayyip Erdogan. O governo também aumentou os poderes da polícia, além de anunciar o fechamento de mais de 1.000 escolas particulares.
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Uma semana depois de um grupo de militares tentar tomar o poder em uma operação que incluiu a mobilização de soldados armados e a utilização de tanques e aviões de caça, o governo de Erdogan prendeu milhares de pessoas, e entre elas 300 guardas presidenciais.
Segundo um decreto publicado neste sábado no Diário Oficial, as prisões dos suspeitos de estarem envolvidos no golpe de Estado frustrado poderão durar até 30 dias.
A prisão provisória podia durar, até agora, apenas quatro dias.
O ministro de Justiça, Bekir Bozdag, havia mencionado na sexta-feira a possibilidade de ampliá-la para “sete ou oito dias”, podendo ser mais, no auge do estado de emergência em vigor desde quinta-feira (21).
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A inquietude pela dimensão das medidas repressivas anunciadas tem “soltado os fantasmas” de que o homem forte da Turquia possa aproveitar a situação para fortalecer seu governo e amordaçar dissidentes.
Estes medos tem tensionado as relações com os aliados de Ancara na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que projetam uma sombra nas infinitas aspirações da Turquia de entrar na União Europeia.
Depois que Bruxelas lançou críticas contra a resposta de Ancara e advertiu Erdogan de que se voltasse a instaurar a pena de morte as aspirações do país de entrar na UE ficariam enterradas, o presidente turco acusou o bloco de manter uma atitude “tendenciosa e preconceituosa”.
“Há 53 anos que a Europa tem nos esperado na porta”, declarou à emissora France 24, em referência à primeira tentativa de adesão, realizada em 1963, seguida de um pedido formal em 1987 e do início do processo de negociação em 2005.
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“Ninguém teve que sofrer como nós nesse processo”, declarou o presidente turco.
Libertação de 1.200 soldados
As tensões com os Estados Unidos também aumentaram, apesar de Ancara ser um aliado-chave, já que de suas bases saem voos da coalizão liderada por Washington para lutar contra o grupo extremista Estado Islâmico no Iraque e na Síria.
No centro da discórdia está Fethullah Gülen, um religioso de 75 anos que vive nos Estados Unidos desde 1999, e a quem Erdogan acusa de orquestrar o golpe frustrado, pedindo sua extradição.
Na sexta-feira Obama descartou terminantemente que seu país tinha obtido informações da inteligência antes da tentativa de golpe na Turquia.
Além disso, afirmou que o tratamento desse pedido de extradição requirirá que a Turquia apresente evidências de que Gülen estivesse envolvido.
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O governo turco insiste que o estado de emergência não irá comprometer a democracia e alegou que a França fez o mesmo após os atentados de Paris, em novembro de 2015, estendendo as medidas de exceção após o massacre de Nice.
A promotoria anunciou que libertou 1.200 soldados presos, todos soldados rasos, e o procurador-geral de Ancara, Harun Kodalak, especificou que as autoridades estão tentando esclarecer quais foram os efetivos que dispararam contra a população, a fim de fazer uma clara distinção.
“Erradicação do vírus”
Após a tentativa de golpe, Erdogan prometeu erradicar o “vírus de todas as instituições do Estado”, mencionando os seguidores de Fethullah Gülen, a quem classificou de “terroristas clandestinos”.
O governo tomou a medida de despedir milhares de professores de escolas estatais e acadêmicos.
O decreto publicado neste sábado também anunciou a dissolução de 1.043 escolas particulares e de 1.229 associações e fundações.
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Segundo um balanço divulgado por Erdogan, continuam presos 10.410 militares, juízes e funcionários, enquanto outras 4.060 pessoas permanecem em prisão preventiva.
A Turquia também cancelou os passaportes de 10.000 pessoas “devido aos riscos de que pudessem fugir”.
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