Juntar turmas de diferentes anos do Ensino Fundamental para estudar em uma mesma sala de aula parece coisa do século passado, mas não é. As classes multisseriadas ainda são realidade em quatro escolas isoladas de Itajaí – ao todo são cinco instituições desse porte na cidade. Mas engana-se quem pensa que o ensino é prejudicado em função da junção de turmas. A dedicação dos professores acaba superando a principal barreira enfrentada: a falta de infraestrutura.

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Para chegar na maioria das escolas isoladas é preciso encarar a estrada de chão, já que ficam em pontos afastados da cidade, nas comunidades da Paciência, Baía, Volta de Cima, Campeche e no bairro Espinheiros. Os problemas estruturais já começam por aí, com as condições precárias de algumas estradas. No Campeche, por exemplo, é preciso andar alguns quilômetros a mais em função de uma ponte que está em obras.

Chama a atenção em boa parte dos educandários a falta de espaço para biblioteca, que é substituída por estantes ou armários com livros. Além disso, as classes muitas vezes não são adequadas para a idade dos alunos, faltam quadras de esportes e as salas de informática geralmente têm poucos computadores para suprir a demanda.

A situação é ainda mais precária na escola Rosa Negreiros Cabral, na comunidade de Volta de Cima, onde a pequena sala de informática também abriga a estrutura de direção e secretaria. Conforme a diretora Andréa Oliveira Vieira, o diretor acaba fazendo papel de orientador, secretário e administrador.

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– Um dos nossos principais problemas é a falta de uma sala separada para informática, porque quando tem aula eu preciso sair e ir trabalhar em outro local. Os professores também não têm espaço para fazer intervalo e acabam usando um cantinho na sala de aula – comenta.

Esforço extra

A reclamação é parecida na escola Duque de Caxias, no Campeche. O diretor Eguinaldo Bernardes diz que falta uma quadra de esportes para a prática de educação física – atualmente os alunos têm utilizado um galpão cedido pela Igreja para fazer os exercícios.

– Para compensar algumas deficiências na estrutura física, nós fazemos saídas com os alunos para conhecer outras realidades. Todas as turmas são contempladas mensalmente com passeios, já fomos na Univali, no clube Marcílio Dias e na Biblioteca Pública – conta.

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O ponto positivo que destoa deste cenário é a escola Maria Perpétua Pereira, na Paciência. Reformada recentemente, a instituição recebeu um netbook por aluno, transformando a experiência em sala de aula. No educandário também não há mais turmas multisseriadas, de acordo com a diretora Teresinha Casa Franciosi. Para ela, melhorou muito a estrutura com a ampliação, que contemplou a instituição com biblioteca, sala de informática, lousa digital, entre outros itens.

Secretaria afirma que escolas estão integradas à rede

O secretário de Educação de Itajaí, Edison D’Ávila, comenta que as escolas multisseriadas ou isoladas, são unidades de pequenos porte com poucos alunos, por isso têm uma infraestrutura física menor.

– Todas têm internet, apoio de profissionais técnicos, supervisão pedagógica com visitas regulares, ou seja, estão integradas à rede de ensino e participam das atividades. O diferencial é que como o número de alunos é pequeno, formam-se turmas com anos diferentes – afirma.

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D’Ávila explica ainda que há um programa de melhorias para estas escolas e que projetos de ampliação estão em desenvolvimento, conforme o crescimento populacional de cada região onde elas estão instaladas. Além disso, em cada uma das instituições os alunos dispõe de merenda, uniforme, material escolar e transporte.

Especialista diz que turmas multisseriadas são eficientes

A doutora em Psicologia da Educação Valéria Silva Ferreira comenta que os alunos de escolas multisseriadas não perdem conteúdo em relação às demais unidades de ensino. Segundo ela, não há pesquisas que apontem isso, pois o que determina a qualidade do ensino é o desempenho do professor em sala.

– Às vezes uma turma com 30 ou 40 alunos é tão ou mais sacrificante do que dar aula para uma multisseriada. Geralmente nessas comunidades afastadas, todos são muito unidos e o ambiente de trabalho se torna mais agradável – ressalta.

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Para Valéria, as escolas isoladas são mais tranquilas do que as unidades centrais. Nesses locais, os pais também possuem uma relação mais próxima da escola e do professor.

– A professora é respeitada pela comunidade, que reconhece e valoriza o seu papel e o da escola – avalia.

Professores relatam dificuldades na adaptação

A principal dificuldade relatada pelos professores que atuam nas escolas isoladas de Itajaí é em relação aos diferentes níveis de aprendizagem que existem entre os alunos de turmas multisseriadas. A professora Juliana de Souza Vieira, da escola Rosa Negreiros Cabral, conta que teve bastante resistência até se adaptar a esse modelo de ensino, pois precisou enfrentar a indisciplina dos estudantes.

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– A questão dos conteúdos é bem diferenciada. Hoje, em 70% das vezes consigo conciliar os assuntos, mas em outras é necessário separar a turma por nível de dificuldade. Tive que aprender a lidar com essa diversidade e com a indisciplina – argumenta.

Para a diretora da escola Gabriel Dallago, Jaqueline Cardoso de Lima Adami, um dos problemas desse modelo é que o professor, muitas vezes, não consegue dar atenção a todos. Mas, segundo ela, as turmas multisseriadas também tem vantagens: já que os estudantes vão assimilando conteúdos mais adiantados.

Em relação a essas barreiras, o secretário de Educação de Itajaí, Edison D’Ávila, explica que o modelo de ensino com turmas multisseriadas funciona bem em classes de até 15 alunos, por exemplo. No entanto, esse tipo de estrutura exige uma desenvoltura especial dos docentes.

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– Exige-se mais do professor, tem que ser uma aula muito mais criativa. Por isso nós fazemos monitoramento a cada bimestre do desempenho dos alunos de todas as escolas isoladas. E eles têm tido um desempenho acima da média de outras unidades, isso demonstra que elas cumprem bem o seu papel apesar de seguir um modelo antigo.

As escolas

Clarindo Sebastião da Cunha

Localização: bairro Espinheiros

Funcionários: 14

Estudantes: 71 alunos, do jardim ao 4º ano

Duque de Caxias

Localização: comunidade Campeche

Funcionários: 11

Estudantes: 80 alunos, do jardim ao 5º ano

Gabriel Dallago

Localização: comunidade Baía

Funcionários: 10

Estudantes: 50 alunos, do jardim ao 5º ano

Maria Perpétua Pereira

Localização: comunidade Paciência

Funcionários: 15

Estudantes: 90 alunos, do maternal ao 5º ano

Rosa Negreiros Cabral

Localização: bairro Espinheiros

Funcionários: 11

Estudantes: 70 alunos, do jardim ao 5º ano