Estive duas vezes em Cuba: em junho de 2000, no auge da crise que se seguiu ao desmantelamento da União Soviética, e em novembro de 2012, já com Fidel Castro doente e seu irmão ensaiando os primeiros passos de uma abertura econômica que permitiu aos cubanos criar pequenos negócios em mais de uma centena de atividades.

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A primeira vez foi como fazer uma viagem ao passado, ao encontrar frases do tipo “Revolución o muerte” em estádios de beisebol e ataques aos EUA e exaltações a Fidel, Che Guevara, Camilo Cienfuegos e Raúl Castro em estádios em muros às margens da rodovia que liga Varadero a Havana.

Os carros americanos das décadas de 40 e 50, os Lada soviéticos, os ônibus conhecidos como camelos e os prédios em decomposição atestavam a paralisia da ilha que a esquerda brasileira saudava como o paraíso socialista.

Varadero era a síntese dos contrastes da Cuba no fim do século 20: profissionais de nível superior trabalhando como garçons ou condutores de carrinhos de golfe. A areia branca e a água azul-turquesa do Mar do Caribe eram proibidas para os cubanos. Em Varadero, só entravam estrangeiros – e trabalhadores dos hotéis e restaurantes.

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Em Havana, os estrangeiros eram abordados por crianças e adultos pedindo dinheiro ou por jovens que ofereciam favores sexuais. Não vi miseráveis. Nem violência nas ruas. Vi gente alegre, apesar das carências materiais e da falta de liberdade. Não encontrei Fidel, mas ele estava todos os dias na TV. Fazia discursos intermináveis, exigindo a volta do menino Elián, sobrevivente do naufrágio em que a mãe morrera tentando fugir para os EUA.

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Em 2012, com Fidel fora de combate, encontrei a mesma falta de liberdade, escassez de alimentos, carência de bens de consumo e os mesmos cartazes. “La revolución pujante y victoriosa sigue adelante”, dizia um no centro de Havana, ilustrado com a foto dele e de Che Guevara. Multiplicaram-se os hotéis de luxo, parte dos prédios históricos foi restaurada, mas a maioria dos edifícios residenciais parecia prestes a desabar por falta de manutenção.

Fiquei particularmente chocada com o aumento da prostituição e do número de adultos pedintes. De positivo, o tratamento dado à educação. Apesar da pobreza, todas as crianças estudam em escolas de tempo integral, e 99,8% dos cubanos são alfabetizados.

*Colunista de Política de ZH