Em 28 anos de profissão, o sargento da Polícia Militar de Presidente Getúlio, Osiel Spíndola, jamais imaginou que depois da pior tragédia já enfrentada pela cidade, o principal desafio seria conter a curiosidade alheia. A corporação teve trabalho — e muito — para reprimir o chamado “turismo de tragédia” nos pontos mais atingidos pelo temporal que deixou 18 mortos no município na última semana.

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Pessoas de cidades de dentro e fora da região foram a Presidente Getúlio para observar de perto os estragos deixados pelo fenômeno

E só. 

Entravam, circulavam pelas ruas cobertas de lamas e iam embora. De dentro dos carros, braços esticados filmavam toda a desgraça. Atrapalhavam o vaivém de socorristas, que não tinham como acessar caminhos alternativos e acabavam presos no congestionamento causado pelos intrusos, que ainda dificultavam o deslocamento de voluntários e moradores.

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Percebendo que o turismo de tragédia começava a se formar, a PM fez barreiras nos principais pontos da cidade para impedir a passagem dos indesejados. De quinta a domingo, policiais e moradores voluntários questionavam o motivo da chegada aos condutores. Sem uma justificativa plausível o motorista não seguia viagem. Aos poucos, os curiosos foram ficaram cada vez mais raros.

“Vá a pé”. Polícia teve de montar barreiras. (Foto: Patrick Rodrigues)

“Não venha passear”

Um dos moradores que auxiliou a PM nas barreiras foi o caminhoneiro Edilson Hubes. Posicionado em frente a um posto de gasolina no Centro, tornou-se guarda para tentar coordenar o trânsito. 

No canteiro central, uma placa improvisada deu o recado: “Não venha passear”. A poucos metros dali, um móvel parcialmente destruído pela enxurrada foi rabiscado com a mesma frase e um “Vá a pé”. Ele fora deixado no meio de uma pista do bairro central.

— Se todos que vieram para olhar pegassem um pedaço de madeira do chão para ajudar, a limpeza acabaria bem mais rápido. Parecia que havia uma festa de igreja no Revólver [bairro mais atingido] de tanta gente — resume Edilson.

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— Nós estávamos aqui porque precisávamos estar. É no mínimo um desrespeito. Só atrapalhava o trânsito — comenta a funcionária de uma farmácia no Centro, Laís Alboz, enquanto passava um pano em uma das prateleiras do estabelecimento, que foi invadido pela água e barro.

O Centro foi tomado pela lama, mas com menor intensidade em comparação ao bairro Revólver, o mais prejudicado. Lá moravam as 18 pessoas encontradas mortas até esta terça-feira (22). As buscas terminaram porque não houve novos relatos de desaparecidos.

18 pessoas morreram só em Presidente Getúlio na tragédia.
18 pessoas morreram só em Presidente Getúlio na tragédia. (Foto: Patrick Rodrigues)

Reforço policial

— O mais difícil nessa tragédia foi conter os curiosos. Muitos mentiam que estavam vindo ajudar e quando a gente percebia estavam aqui apenas para tirar foto, aglomeradas pelas ruas — relata o sargento.

Desde quinta, a equipe policial está maior para atender as demandas do temporal. As três viaturas que atendem o município de menos de 20 mil habitantes tornaram-se 12. Os nove agentes receberam reforços de cerca de 40 homens. São policiais de cidades como Ibirama, Indaial, Timbó, Rio do Sul e Witmarsum. Eles devem permanecer ao menos até o Natal, conta Spíndola.

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Nesta terça-feira (22), o movimento era muito menor em comparação aos primeiros três dias depois do fenômeno. Com as ruas mais limpas e a correria menor de socorristas, o destino já não era mais tão interessante aos curiosos. Ficaram apenas aqueles que realmente queriam colocar a mão na massa:

Policiais, bombeiros, cerca de 120 soldados do Exército e dezenas de voluntários.