Em 28 anos de profissão, o sargento da Polícia Militar de Presidente Getúlio, Osiel Spíndola, jamais imaginou que depois da pior tragédia já enfrentada pela cidade, o principal desafio seria conter a curiosidade alheia. A corporação teve trabalho — e muito — para reprimir o chamado “turismo de tragédia” nos pontos mais atingidos pelo temporal que deixou 18 mortos no município na última semana.
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Pessoas de cidades de dentro e fora da região foram a Presidente Getúlio para observar de perto os estragos deixados pelo fenômeno.
E só.
Entravam, circulavam pelas ruas cobertas de lamas e iam embora. De dentro dos carros, braços esticados filmavam toda a desgraça. Atrapalhavam o vaivém de socorristas, que não tinham como acessar caminhos alternativos e acabavam presos no congestionamento causado pelos intrusos, que ainda dificultavam o deslocamento de voluntários e moradores.
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Percebendo que o turismo de tragédia começava a se formar, a PM fez barreiras nos principais pontos da cidade para impedir a passagem dos indesejados. De quinta a domingo, policiais e moradores voluntários questionavam o motivo da chegada aos condutores. Sem uma justificativa plausível o motorista não seguia viagem. Aos poucos, os curiosos foram ficaram cada vez mais raros.

“Não venha passear”
Um dos moradores que auxiliou a PM nas barreiras foi o caminhoneiro Edilson Hubes. Posicionado em frente a um posto de gasolina no Centro, tornou-se guarda para tentar coordenar o trânsito.
No canteiro central, uma placa improvisada deu o recado: “Não venha passear”. A poucos metros dali, um móvel parcialmente destruído pela enxurrada foi rabiscado com a mesma frase e um “Vá a pé”. Ele fora deixado no meio de uma pista do bairro central.
— Se todos que vieram para olhar pegassem um pedaço de madeira do chão para ajudar, a limpeza acabaria bem mais rápido. Parecia que havia uma festa de igreja no Revólver [bairro mais atingido] de tanta gente — resume Edilson.
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— Nós estávamos aqui porque precisávamos estar. É no mínimo um desrespeito. Só atrapalhava o trânsito — comenta a funcionária de uma farmácia no Centro, Laís Alboz, enquanto passava um pano em uma das prateleiras do estabelecimento, que foi invadido pela água e barro.
O Centro foi tomado pela lama, mas com menor intensidade em comparação ao bairro Revólver, o mais prejudicado. Lá moravam as 18 pessoas encontradas mortas até esta terça-feira (22). As buscas terminaram porque não houve novos relatos de desaparecidos.

Reforço policial
— O mais difícil nessa tragédia foi conter os curiosos. Muitos mentiam que estavam vindo ajudar e quando a gente percebia estavam aqui apenas para tirar foto, aglomeradas pelas ruas — relata o sargento.
Desde quinta, a equipe policial está maior para atender as demandas do temporal. As três viaturas que atendem o município de menos de 20 mil habitantes tornaram-se 12. Os nove agentes receberam reforços de cerca de 40 homens. São policiais de cidades como Ibirama, Indaial, Timbó, Rio do Sul e Witmarsum. Eles devem permanecer ao menos até o Natal, conta Spíndola.
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Nesta terça-feira (22), o movimento era muito menor em comparação aos primeiros três dias depois do fenômeno. Com as ruas mais limpas e a correria menor de socorristas, o destino já não era mais tão interessante aos curiosos. Ficaram apenas aqueles que realmente queriam colocar a mão na massa:
Policiais, bombeiros, cerca de 120 soldados do Exército e dezenas de voluntários.