A mais nova animação da Dreamworks promete conquistar adultos e crianças. Convidado pelo DC, o jornalista e crítico de cinema Andrey Lehneman escreveu sobre o filme. Confira:

Continua depois da publicidade

Turbo basicamente se volta para o que fez a Pixar ganhar tanto apreço e espaço na década passada: sensibilidade. Uma premissa que já percorreu tanto os sonhos de Remy em Ratatouille quanto os de Lightning McQueen em Carros a oportunidade de ser algo maior do que o mundo espera de você. No filme de Remy, por exemplo, observávamos um rato querendo ser um chef de cozinha, alguém desestimulado por sua classe e que encontrava na amizade de Linguini uma oportunidade para realizar os seus sonhos mais impossíveis.

Turbo, por sua vez, conta a história do caracol Theo, que tem o desejo de ser o mais rápido do planeta e participar da Fórmula Indy. Estimulado pela figura midiática de seu maior ídolo, Guy Gagné, ele acredita que sua força de vontade pode ultrapassar o seu físico e, numa virada do destino, surpreende-se ao ganhar habilidades que o fazem cativar o mundo e ter realmente uma chance na tão almejada Fórmula Indy. O estreante e interessante diretor David Soren também conta com a figura humana para dar sustentabilidade ao sonho do caracol. Theo e Tito, um motorista de caminhão, buscam encontrar o seu lugar. Ambos se complementam.

Já Gagné, de figura incentivadora e querida publicitariamente, transforma-se em um grande vilão egocêntrico uma perfeita análise de muitos dos nossos heróis. Numa época em que a Pixar busca reconquistar o seu lugar, resgatando histórias conhecidas que a fizeram tão prestigiada, é a DreamWorks, pelo segundo ano consecutivo, que traz uma animação tão competente para adultos quanto para crianças.

Continua depois da publicidade

Participação tupiniquim

Turbo, que estreia nos cinemas do Estado hoje, conta com a incomum participação de uma brasileira . O nome de Vivian Aguiar-Buff vai aparecer pela primeira vez nos créditos finais de um filme de Hollywood, assinando a produção da trilha sonora da animação. A paulistana de 32 anos trabalha na Remote Control Productions, estúdio musical de Hans Zimmer – ganhador do Oscar pela música de O Rei Leão – e é braço direito do responsável pela trilha de Turbo, Henry Jackman.

Filha de cinéfilos, formada em Cinema na FAAP e DJ nas horas vagas, percorreu o caminho até a Califórnia unindo suas duas grandes paixões: a música e o cinema. Depois da graduação em composição erudita e regência na Berklee College of Music, em Boston, foi contratada pela Remote logo após a primeira entrevista. Diretamente de Los Angeles, onde mora, Vivian respondeu às perguntas do DC por e-mail.

A união da música com o cinema na sua carreira aconteceu ao acaso ou foi um movimento planejado?

Foi planejado. Eu me formei em Cinema e sempre fui muito ligada à música. Comecei a tocar piano ainda muito pequena e produzia e compunha música eletrônica. Fui assistente de direção, editora de imagem, operadora de flame? Tentei muitas coisas no cinema, mas nunca me encontrei. Foi quando comecei a tocar como DJ e fazer trilhas para alguns curtas que me veio a ideia de juntar os dois universos.

Continua depois da publicidade

Como foi o convite para integrar a equipe da Remote Control Productions?

Quem me colocou em contato com o Henry Jackman (seu chefe na produtora) foi a própria Berklee College of Music, faculdade na qual me formei há um ano. Fui até a base da Remote Control aqui em Los Angeles e assim que cheguei me disseram que havia uma vaga e que achavam que seria uma boa candidata. Fui fazer a entrevista no dia seguinte e me contrataram na hora.

Como é ser a única mulher na equipe de Henry Jackman? Qual o nível de exigência e competitividade para a também única brasileira na empresa?

Às vezes é uma barra. O Henry sempre diz: “O trabalho tem que ser feito, não importa se é um homem ou uma mulher sentado nesta cadeira”. Meu trabalho envolve muitas vezes decisões políticas e tenho que ser muito mais dura do que normalmente seria em algumas situações. O nível de competitividade aqui é o mais alto que já encontrei. Tudo tem que ser perfeito e feito em pouco tempo. Se você não consegue acompanhar o ritmo, tem alguém recém-formado preparado para tomar o seu lugar a qualquer momento.

Continua depois da publicidade

Há muitos brasileiros trabalhando nessa área de trilha sonora em Hollywood?

Conheço poucos. Tem o Heitor Pereira, compositor e guitarrista talentosíssimo que trabalha na sala ao lado da minha. Outro dia conheci o Antonio Pinto por meio de um amigo em comum. Ele faz muitos filmes aqui, mas ainda está morando no Brasil. O Marcelo Zarvos também trabalha em Hollywood. Não nos conhecemos, mas suas trilhas são lindas.

No momento, a sua função é trabalhar mais com a organização do que com a composição musical. Você quer se tornar uma compositora em Hollywood? Aonde quer chegar?

Estou aos poucos fazendo a transição para a área criativa. Me formei em composição erudita e regência na Berklee e sempre compus e produzi música eletrônica. Antes de vir para cá tinha um live PA chamado Vixen no Brasil, fiquei três anos em tour. Meu objetivo é compor e falo isso para o Henry todo o santo dia (risos). Ele sabe disso e me apoia. Aos poucos, está me posicionando nessa direção.

Continua depois da publicidade

Você desempenhou a mesma função em outros filmes como G.I. Joe e This Is the End. Por que é a primeira vez que seu nome vai aparecer nos créditos?

O G.I. Joe já estava praticamente acabando quando comecei a trabalhar com o Henry. Cuidei só do fechamento do projeto e impressão dos CDs. No This Is the End, o estúdio de cinema infelizmente decidiu não incluir nos créditos todas as pessoas envolvidas no processo musical. Acontece às vezes.

O que significa ter seu nome nos créditos de um filme com o alcance de Turbo?

Continua depois da publicidade

Significa muito pra mim. Sonhei com isso desde criança, pensava nisso todas as vezes que via os créditos de um filme – desde que me conheço por gente vejo um filme quase todo dia. É um pote de ouro no fim do arco-íris? Estou chegando perto dele, mas ainda tenho muito chão pela frente! O nível de competitividade aqui é o mais alto que já encontrei. Tudo tem que ser perfeito e feito em pouco tempo. Se você não consegue acompanhar o ritmo, tem alguém recém-formado preparado para tomar o seu lugar a qualquer momento.

Saiba mais

Uma boa parte dos US$ 135 milhões investidos em Turbo foi gasta com o elenco de dubladores. Dez estrelas de Hollywood emprestaram suas vozes à animação da Dreamworks. Ryan Reinolds dubla Theo, o caracol que se transforma em Turbo. Samuel L. Jackson é Whiplash, líder de uma equipe de corrida de lesmas. Paul Giamatti (Chet), Michelle Rodriguez (Burn), Michael Peña (Tito), Luis Guzmán (Angelo) e Richard Jenkins (Bobby) são alguns dos outros grandes nomes.

Continua depois da publicidade

O longa ainda traz o rapper Snoop Dogg como Smoove Move. Ele também canta uma das faixas da trilha sonora, Let the Bass Go. No Brasil, seguiu-se a política de usar atores conhecidos para a dublagem. Bruno Garcia faz a voz de Chet, o irmão do protagonista, e Ísis Valverde é Burn, uma lesma que trabalha como mecânica.