A Tupy vai investir R$ 140 milhões entre 2014 e 2015 em compra e instalação de máquinas para aumentar a eficiência operacional em suas unidades. Dinheiro que vem da captação de R$ 520 milhões apurados junto ao mercado no ano passado.
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Dos R$ 140 milhões, valor predominante será aplicado em Joinville. A empresa é a maior fundição do Ocidente no segmento de blocos e cabeçotes e planeja ter presença global.
Isso significa que está olhando oportunidades para comprar ou instalar fábrica também no continente asiático, por exemplo. Atualmente, a companhia tem quatro fábricas: duas no Brasil (Joinville e Mauá) e duas no México. As exportações representam dois terços do faturamento.
O desempenho da metalúrgica, no ano passado, foi bem melhor do que o de 2012. O balanço será divulgado no dia 25. As informações são do presidente da multinacional sediada em Joinville, José Tarquínio Sardinha Ferro, em entrevista exclusiva de 75 minutos concedida a Negócios & Cia. Ele comando o negócio desde 2003.
PULVERIZAR NEGÓCIOS
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– A Tupy é uma multinacional bem posicionada, fabricante de blocos para motores e cabeçotes, com excelente capacidade técnica. A administração estratégica é pulverizar os negócios. Há baixo nível de concentração. Os cinco principais clientes (Cummins, Ford, Caterpillar, Chrysler e VW/Audi) respondem por 60% da receita da Tupy. A lembrar que o setor para o qual a Tupy trabalha é muito consolidado por multinacionais.
NA AMÉRICA DO NORTE
– O Brasil responde por 35% do faturamento da companhia. Dois terços vêm de negócios gerados a partir de exportação e 51% do total exportado vai para países da Nafta (América do Norte). Outros 35% vão para América do Sul; 10% para Europa; e 4% para Ásia e África. Estamos muito expostos na América do Norte. É para lá que aponta o crescimento. Aumentar fatia na Europa é mais difícil porque há outros ótimos competidores. Lá, o ideal é atuar em nichos tecnológicos.
“COMER CARNE”
– Mesmo quando havia ambiente hostil às exportações, mantivemos vendas externas em percentuais elevados. Hoje, com câmbio favorável, estamos preparados para “comer carne”, depois de termos “roído muito osso”.
XISTO
– Nos Estados Unidos, com o advento do gás de xisto, vai se exigir logística muito peculiar. É uma situação que pode mudar o equilíbrio energético norte-americano. A Tupy oferece blocos e cabeçotes para empresas num contexto que deve nos ser favorável.
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AUMENTO DE CAPITAL
– Fizemos, em outubro de 2013, via mercado, aumento de capital de R$ 520 milhões. Os recursos são destinados à otimização e maior eficiência operacional da produção em quatro fábricas. E, também, à busca de novas oportunidades de projetos de internacionalização.
PRESENÇA GLOBAL
– Não há nada de concreto, ainda, para crescermos mais no exterior, com novas fábricas. Mas estamos abertos a oportunidades e vamos perseguí-las. A Tupy deve ser uma empresa com presença global. Somos a maior fundição do mundo ocidental nas linhas de blocos e cabeçotes.
FÁBRICA NA ÁSIA
– Ter uma fábrica na Ásia? Se surgir uma boa oportunidade, sim. E compra de empresa? Se tiver boa oportunidade, sim. Ser empresa global significa nos estabelecermos no mundo todo. É a visão que temos. E que pode demorar alguns anos para acontecer.
CHINA
– Na China, os nossos principais clientes ainda têm suas próprias fundições. Esse modelo vertical já acabou nos Estados Unidos e na Europa. Chrysler e Ford já fecharam suas fundições há algum tempo, por exemplo. O modelo de integração vertical na região do meridiano para a esquerda também se esgotará.
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INVESTIMENTOS
– Só investimos quando já vendemos, antecipadamente, a produção. Os investimentos sucedem a uma escala minimamente aceitável de volume de produção já negociada.
MÉXICO
– As duas aquisições feitas no México, em 2012, nos geraram uma dívida três vezes maior do que a geração de caixa. Então, agora, é hora de obtermos o retorno do capital investido, mas temos estrutura de capital que nos permite expandir mais. No México, estamos mais próximos de clientes importantes, como a Caterpillar e a John Deere. São importantes produtoras de máquinas agrícolas e off road.
REPARTIÇÃO
Do conjunto de nossas receitas, o segmento automotivo responde por 92% na seguinte proporção: veículos comerciais 43,6%; veículos leves 23,4% e off road (construção, mineração, industrial e agrícola) com 25%. O segmento hidráulico participa com 8% da receita. Os dados são dos nove primeiros meses de 2013.
JOINVILLE
– Joinville é o nosso berço. Fizemos investimentos de R$ 157 milhões na nova linha de produção da Fundição C, inaugurada em junho de 2012. Dos R$ 520 milhões recentemente captados junto ao mercado, R$ 140 milhões serão aplicados, predominantemente, em Joinville, na melhoria da eficiência operacional, no biênio 2014-2015. O dinheiro será usado na compra e instalação de máquinas. Temos de desacelerar investimentos para dar retorno aos acionistas, a partir do que já foi aplicado até agora.
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DESEMPENHO
– O resultado apurado no ano passado foi bem melhor do que o de 2012, lembrando que na passagem de 2011 para 2012 houve a mudança do padrão euro 3 para euro 5, o que exigiu troca para itens menos poluentes. Os números dos nove primeiros meses do ano de 2013 são bem representativos do que foi o ano passado todo. A receita bruta entre janeiro e setembro de 2013 totalizou R$ 2,34 bilhões, um aumento de 15,9% sobre o mesmo período de 2012. O lucro líquido foi de R$ 70,2 milhões, alta de 10% no comparativo com igual período do ano anterior.
VENDAS
– O volume de vendas, de janeiro a setembro do ano passado, foi de 481 mil toneladas, aumento de 12,9% em relação a janeiro-setembro de 2012. Historicamente, o bimestre final de cada ano é fraco.
EMPREGOS
– Não vejo aumento de número de empregos. A Tupy emprega aproximadamente 7,5 mil pessoas em Joinville. No total, são 12 mil. Encontramos grande dificuldade para recrutar trabalhadores. Há uma disputa com o setor de serviços. O aumento da massa de consumo gerou uma demanda por lazer, restaurantes, cabeleireiros… Estes setores absorvem cada vez mais mão de obra.
NOVO MERCADO
– A Tupy entrou no Novo Mercado. É uma alavanca importante. Tem seu valor intrínseco de compromisso com a transparência. A percepção mudou. O mercado enxerga melhor a Tupy. Este movimento também facilitará a captação de mais recursos no futuro para ter o mercado de capitais como aliado.
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MERCADO BRASILEIRO
– Brasil não tem sido brilhante. O crescimento do PIB deve ser baixo. A eleição, neste ano, é um movimento que impulsiona a economia. Na contramão, a Copa do Mundo é fator que joga contra os negócios. O pessoal da área de infraestrutura é o mais otimista. Já aconteceram privatizações, no passado. Agora, as concessões de aeroportos começaram. Isso é bom sinal.
CENÁRIO EXTERNO
– O cenário internacional aponta para a recuperação da economia dos Estados Unidos. É o traço mais visível. A Europa começa a dar sinais tímidos de recuperação. Espanha e Portugal vão sofrer mais. Alemanha e França já mostram um pouquinho mais de ânimo. Isso é uma boa notícia, apesar do mercado europeu não ser nosso foco principal.
MACROECONOMIA
– A inflação é persistente no Brasil. E um surto inflacionário não é bom para nenhum governo. A taxa de câmbio tende a dar resposta sóbria. Picos de câmbio são inadequados. Acredito que deve haver, ainda, um processo de desvalorização do real, o que favorece as exportações e inibe compras no exterior.
A CONTA VIRÁ
– Em 2015, virá a conta do que o governo fez e do que deixou de fazer. Se você entrevistar 30 analistas econômicos, haverá uma enorme coincidência de diagnóstico sobre o que é necessário fazer. O ajuste de contas do governo, com menos gastos públicos, e políticas fiscais mais duras, por exemplo, além de reformas já reclamadas há muitos anos.
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AGENDA
– Na Tupy, “vendo” para meus acionistas uma estratégia, e corro atrás do desempenho e de resultados adequados ao que me propus a realizar. Temos, na iniciativa privada, uma agenda. O governo também precisa ter uma agenda de compromissos para com a sociedade.