– Como você pode perguntar se não gosto de futebol? – a reação de Moses Fouodjouo é a mesma a se esperar de qualquer camaronês.

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– Se não fosse minha mãe, hoje seria jogador de futebol. Quando era criança, ela brigava para eu parar de bater bola e estudar. Meu apelido era Maradona – diz.

Moses não virou um astro do futebol mundial, mas se graduou em Química, fez doutorado na Bélgica e escolheu o Brasil para dar continuidade aos seus estudos – aos 32 anos, ele é pós-doutorando na UFSC. No entanto, é quando fala de sua terra natal que os olhos brilham:

– O camaronês é acolhedor, ama receber o estrangeiro. É um povo que gosta de festa, de dançar a makossa, que é um ritmo parecido com o samba. O futebol é o ópio do povo, alimenta o sonho da ascensão social e distrai dos verdadeiros problemas – reflete.

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O que mais sente falta? Da comida, do tempero, do toque especial das mulheres camaronesas.

– O melhor camarão é de Camarões. No Rio de Camarões, que deu nome ao país, tem muitos e enormes. Já comeu churrasco de camarão? – pergunta.

Leões indomáveis

Camarão e futebol é uma combinação que dá certo apenas no bar. Por isso, o futebol camaronês escolheu um outro animal para representar a sua seleção. Eles são os Leões Indomáveis, quatro vezes vencedores da Copa da África, presentes em sete Copas do Mundo, campões olímpicos em 2000, e o mais importante:

_ Dentro do Stade Ahmadou Ahidjo, ninguém nunca nos venceu _ diz o camaronês orgulhoso e fanático por futebol Moses Jouodjouo, em referência ao estádio da capital camaronesa Yaoundé.

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“Partida será importante”

Qual a importância do futebol para os camaroneses?

Frederic Bedimo, enviado especial do site cameroun-info.net ao Brasil para cobrir a Copa – Camarões é um país do futebol. Este esporte é apresentado como o único partido “político” que reúne todos os camaroneses. A equipe nacional tem reforçado essa lenda ao vencer quatro títulos de campeão da África e ter sete participações em Copas do Mundo (um recorde na África).

Qual era a expectativa para a Copa no Brasil?

Bedimo – Após o amistoso contra a Alemanha, em 1º de junho de 2014, muitos fãs dos Leões sentiram que sua equipe tinha capacidade para se qualificar para a segunda fase. Mas, depois da partida contra o México, muitos já perceberam que não seria possível. A derrota contra a Croácia foi apenas uma confirmação.

Qual o sentimento depois da derrota para a Croácia?

Como a maioria dos fãs, tinha previsto uma eliminação precoce, a derrota não é uma surpresa. O que irrita é a pontuação 0 contra 4, que soa como uma humilhação. Camaroneses exigem a saída dos dirigentes e a exclusão de certos jogadores apontados como responsáveis pela derrota.

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O time já está eliminado. Qual a motivação contra o Brasil?

Para Stephan Mbia, jogador da seleção, Camarões vai jogar contra o Brasil com a determinação de vencer, pois será uma questão de salvar sua honra. Os Leões não querem ir para casa com zero pontos, como na África do Sul. Por isso, essa partida será tão importante quanto as duas partidas anteriores, apesar da eliminação.

O que Camarões e o Brasil têm em comum?

A paisagem e uma parte da cultura. Pessoalmente, eu amei minha estadia no Brasil. Os brasileiros são um povo acolhedor e muito gentil. É bom viver aqui.

Em seus 475.650 km² de extensão, Camarões reúne uma geografia diversificada. É considerado uma “África em Miniatura” por reunir todos os principais climas e vegetações do continente: costas, deserto, montanhas, floresta tropical e savana. Camarões tem sete parques nacionais, dentre eles o Parque Waza, no extremo Norte, famoso pelo turismo de safári.

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A fauna é vasta, com zebras, leões, elefantes, rinocerontes, hipopótamos, gorilas, panteras. E um Monte de Camarões. Não se trata da abundância do crustáceo, mas sim de um vulcão ativo que leva o nome do país. Com mais de quatro mil metros de altitude, o Monte de Camarões fica na costa leste e teve sua última erupção em 2000.

Rio de Camarões

Localizado na África Central, pouco acima da linha do Equador, Camarões tem uma história de colonização incomum. No século XV, exploradores portugueses encontraram o Rio Wouri, o qual chamaram de Rio de Camarões, origem do nome do país. Séculos depois vieram os alemães, que colonizaram a região efetivamente e criaram um protetorado em 1884.

Depois da derrota alemã na primeira guerra mundial, o território foi dividido entre França e Inglaterra. Por isso, hoje o país tem duas línguas estrangeiras como oficiais, francês e inglês, além de centenas de dialetos locais, já que o país reúne uma infinidade de etnias, incluindo os principais tipos culturais do continente, entre seus mais de 19 milhões de habitantes.

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Fonte: Historical Dictionary of the Republic of Cameroon

Santa Catarina é produtora

O Rio de Camarões ainda está repleto de crustáceos, mas o país está longe de ser a principal fonte para o mercado mundial.

– Hoje, metade dos camarões consumidos são criados em cultivo, e a maior produtora é a Ásia. No Brasil, destacam-se os Estados da Bahia e Rio Grande do Norte. Em Santa Catarina, depois de uma praga há cerca de uma década, o número de fazendas de camarão caiu de 150 para apenas 15 – explica o Prof. Dr. Walter Quadros Seiffert, Coordenador do Laboratório de Camarões Marinhos da UFSC.

Segundo o especialista, a espécie mais popular é o camarão-branco, originário da América Central.

– É uma espécie rústica, de crescimento rápido, onívora. Precisa de menos proteínas para se desenvolver, deixando a produção mais barata. Brincamos que é o “frango do mar”.

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