Eles caminham de um lado a outro observando as vitrines, os carros que trafegam lentamente ou simplesmente curtindo a brisa fresquinha do fim do inverno. Não fosse pelas passadas calmas, típicas de quem vive ou curte a folga no Litoral, poderiam tranquilamente ser confundidos com pedestres de uma grande avenida, como a Paulista, em São Paulo. Mas neste caso estamos falando das milhares de pessoas que passam por uma das vias mais movimentadas, democráticas e cosmopolitas de Balneário Camboriú: a Avenida Brasil.
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É quase impossível estar na cidade e não passar por ela ou não usá-la como ponto de referência. Paralela à Avenida Atlântica, tem o fluxo de carros no sentido Norte-Sul e um comércio varejista que se desenvolveu ao ponto dos aluguéis na área se tornarem exorbitantes.
Tatiana Mello gerencia uma loja de moda jovem num dos pontos centrais da avenida. O aluguel da sala comercial de esquina custa R$ 18 mil, mas apesar de achar o valor absurdo, diz que vale a pena estar localizado na Brasil.
_ Eu não posso te dizer números, mas nós tivemos um crescimento de 20 anos em quatro anos, que é o tempo que a loja existe _ comenta.
Por esse motivo, estabelecer-se na avenida não é para todos. Dono de uma loja especializada em dança, Antonio Luiz Grapiglia conta que permanecer no mesmo ponto há 12 anos só foi possível graças a outras fontes de renda.
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_ O que inviabiliza muitos comércios em Balneário é o aluguel, por isso tantas lojas abrem e logo fecham, e na Brasil é pior. Mas se não for pra você ter um comércio na Brasil, não entre nisso _ aconselha.
Ele diz que exceto em anos como os das enchentes, quando as vendas caíram significativamente, durante esses 12 anos não houve ano que as vendas não crescessem entre 25% e 30%. Por esse motivo, conclui Grapiglia, vale muito a pena estar na Brasil.
Além da população local que movimenta as lojas e, consequentemente, a avenida, os turistas, mesmo vindos de pertinho, são o grande público do varejo na região. São moradores de Brusque, Blumenau, Joinville e Curitiba (PR) que possuem apartamento no balneário e estão dispostos a gastar.
_ Estas pessoas que vêm de fora têm um poder aquisitivo alto e entram para comprar, o morador daqui muitas vezes está apenas pesquisando preços _ explica a gerente de uma loja de artigos esportivos, Fernanda Gonçalves.
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As opções de compras são muitas, contudo de longe é possível perceber que confecções e calçados são maioria entre os produtos vendidos na avenida, como confirma a Câmara de Dirigentes Lojistas da cidade. Nesse segmento os estilos e preços são variados. Há desde roupas indianas a enxovais para bebês. O consumidor também pode encontrar lenços de pescoço a R$ 1,99 e vestidos de festa de R$ 15 mil.
Shopping a céu aberto
O secretário executivo da Câmara de Dirigentes Lojistas de Balneário Camboriú, Helder Couto Vieira, explica que no início o comércio da cidade era pautado na Avenida Central, mas quando a Brasil enfim ligou o pontal Norte ao Sul, os lojistas começaram a se estabelecer ali.
Devido a movimentação da praia, o segmento foi se chegando para aquele lado, mas não avançou até a Atlântica por causa da especulação imobiliária. Como atualmente a cidade possui dois grandes shoppings, Vieira explica que a avenida já não é considerada um shopping a céu aberto, como foi no início, mas permanece um corredor valorizado. No entanto, quem circula por lá tem a nítida impressão de estar no shopping.
Há quatro anos a auditora Kátia Mendes, 40 anos, trocou São Paulo por Balneário e os imensos shoppings paulistanos pela Brasil. Ela adora caminhar pela avenida, sempre sugere aos parentes que a visitam que façam o mesmo e, especialmente, aproveitem as promoções de fim de coleção.
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_ As promoções são realmente boas, com produtos de qualidade, a variedade é grande e o preço bem melhor que o dos shoppings. Também acho os shoppings daqui pequenos _ diz.
Os comerciários também se vangloriam de estarem no que consideram um shopping e sustentam que aquela é a melhor avenida para se trabalhar na cidade. Apesar disso, atualmente, todo o eixo central do município é considerado forte, com destaque para as avenidas do Estado e Palestina, já no Bairro das Nações. A CDL não possui um relatório sobre a quantidade de lojas existentes na avenida, mas dados da Federação do Comércio (Fecomércio) de 2011 estimam que a cidade tem 5 mil comércios em toda sua extensão, a maioria deles na área central.
Avenida já se chamou “picada da linha”
Baturité Campos, XX de Julho e Celso Ramos são alguns dos antigos nomes que a Avenida Brasil teve enquanto pertencia ao município de Camboriú. Políticos locais chegaram a cogitar chamá-la de João Goulart em determinada época, mas a ideia não caiu nas graças da população e acabou não emplacando. Por último, antes da emancipação de Balneário Camboriú, ela recebeu o nome de Santa Catarina, porém seu nome mais peculiar tem muito a ver com a história da via. Em meados de 1870, quando os únicos veículos a circular por ali eram carroças, a avenida era conhecida como Picada da Linha.
As picadas eram estradas de terra, bem estreitas, abertas em meio ao mato. O escritor e historiógrafo Isaque de Borba Corrêa explica que a Avenida Brasil começou assim, com a finalidade de servir de berço para a linha do telégrafo, que ia do Rio de Janeiro até Porto Alegre e foi trazida para o Sul do Brasil em função da Guerra do Paraguai.
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_ A Avenida Brasil não tem nada a ver com a cidade em si, ela nasceu de um projeto nacional _ sintetiza Corrêa.
O tetraneto de um dos fundadores da cidade de Camboriú conta que a Picada da Linha foi uma das primeiras vias de acesso ao município. Mesmo assim o progresso demorou a ocorrer por lá e a via só passou a ter importância comercial com o turismo.
_ Demorou muito para progredir e quando isso aconteceu foi de repente _ diz.
Corrêa conta que antigamente as pessoas tinham vergonha de morar perto da praia, porque aquilo era coisa de pescador e, consequentemente, as ruas próximas ao mar eram desvalorizadas. Segundo ele, o lixo das cidades era depositado na praia.
_ Se permanecesse esse conceito as favelas seriam na praia hoje. Se você queria xingar alguém mandava para a praia _ menciona.
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