Sindicalistas, corporações profissionais e movimentos sociais de diversas tendências estão programando ações e protestos para o período da Copa do Mundo, com dois propósitos explícitos: aproveitar a visibilidade do grande evento e provocar transtornos num momento em que as autoridades se esforçam para garantir normalidade e boa acolhida aos visitantes. Protestar e reivindicar são ações normais e até desejáveis num regime de plena liberdade como o que o país vive. Mas a mobilização contra a Copa está tão contaminada por interesses políticos e setoriais que fica difícil considerá-la neste contexto democrático.

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Na última quinta-feira, por exemplo, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto de São Paulo invadiu sede de empreiteiras para reclamar dos gastos com o Mundial, mas não se manifestou contra o governo federal que, afinal, não esconde a condição de avalista do evento e de todos os gastos de dinheiro público para a sua realização. Essa forma de protesto seletivo expõe o que boa parte dos organizadores e participantes das manifestações tenta camuflar. Há claramente a intenção de poupar alguns setores envolvidos com a Copa, na tentativa de direcionar os ataques apenas a pretensos adversários políticos. O objetivo é constranger empresas, criar desconforto para inimigos que ocupam cargos públicos e alardear que o país estaria contra o mais importante acontecimento do futebol. É uma tentativa que fracassa desde o recrutamento de participantes.

Está evidente que vem caindo o número de pessoas atraídas para as ruas, em ações que têm como característica a violência, a afronta às leis e o desrespeito ao espaço público e à propriedade privada. Em muitos casos, o que prevalece é o barbarismo, como nas situações em que, para agredir a imprensa independente, exemplares de jornais são queimados em avenidas. Repetem-se, no início do século 21, cenas típicas de seguidores de práticas medievais, em que o objetivo a ser perseguido é o obscurantismo.

Admite-se como natural, porque parte importante do exercício da democracia, que setores da sociedade, inconformados com o volume de despesas públicas, manifestem-se contra o Mundial. É também compreensível que essa torcida dos antiCopa seja barulhenta. Mas não são estes, os que expõem pontos de vista de forma civilizada, os que merecem atenção das autoridades e, claro, das próprias comunidades em que vivem.

A vigilância, não necessariamente pró-Copa, mas pela preservação dos direitos da maioria, deve perceber as manifestações violentas, patrocinadas por aproveitadores em busca de visibilidade, como ações que agridem a vida de todos. A Copa não é um evento de governos, de empresas ou de seleções, é a celebração do esporte com o maior poder integrador do mundo. O Brasil não pode fracassar, por conta de minorias irresponsáveis, como anfitrião de uma festa de todos os povos.

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