O debate sobre o uso de animais é considerado relevante, uma vez que os animais são “tutelados do Estado” conforme a Constituição Federal. A observação é da veterinária e professora Maria José Hötzel, do curso de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Segundo Maria, o debate é necessário para validar as ações de quem usa animais e nenhuma indústria está interessada em ser reprovada pela sociedade de quem depende.

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– Mas para que o debate sobre o uso e destino dos animais seja útil, todas as partes devem fazer o máximo esforço por fazê-lo de forma democrática. A discussão do uso de animais, seja qual for a finalidade, se resumida ao um “tudo ou nada”, não permite avanços para as partes interessadas – sugere a doutora em Zootecnia com experiência na área de Etologia Aplicada e Bem-Estar Animal.

Em resposta ao comentário de que existe quem acha que animais criados em laboratório (alguns geneticamente modificados) têm fim específico e por isso não haveria “problema” na destinação, a professora observa que o uso dado aos animais pelos seres humanos não muda o valor moral do animal.

– O destino e a forma de uso dos animais devem ser considerados partindo da premissa que eles são seres vivos, com capacidade de alguns sentimentos e alguns estados mentais – diz.

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Maria José observa que a ciência avança rapidamente nesse tema e surpreende com informações novas sobre a capacidade de senciência dos animais, que é mais sofisticada do que muitos imaginam.

Em relação a não haver problema no uso de animais “criados” para serem cobaias, a professora considera que algumas pessoas argumentam o contrário: justamente porque os seres humanos modificaram esses animais geneticamente e controlam totalmente o seu ambiente, o dever de respeitar o animal torna-se mais evidente.

– Um roedor da mesma espécie pode ser um animal de estimação na sua casa em uma confortável gaiola, um incômodo no jardim ou na lixeira da sua casa ou uma cobaia participando de algum experimento em um laboratório. Isso muda o valor intrínseco do animal? É claro que não, mas nem todo o mundo reflete a esse respeito – sugere.

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Sobre a existência de métodos alternativos que poderiam levar a indústria a abrir mão do uso de animais, Maria José acredita ser importante discutir esforço e investimento suficiente para isso virar uma realidade em algum momento. Para a professora, nesse ponto a sociedade pode promover mudanças. Ainda que o desenvolvimento desses métodos é caro, e precise ser financiado.

– Algumas mudanças na forma de criação de animais para consumo humano ocorreram por pressão da sociedade, a qual se refletiu em investimentos em pesquisa e inovação e promulgação de legislação que permitiram essas mudanças – compara.

Você é contra ou a favor ao uso de animais para o desenvolvimento de medicamentos?