O líder religioso da Sociedade Israelita Brasileira de Cultura e Beneficência (Sibra), Guershon Kwasniewski, 43 anos, está em Jerusalém para preparar a conclusão da sua formação rabínica – ele será, então, rabino da Sibra a partir no início de 2013. Nesta entrevista para Zero Hora, Kwasniewski conta como viveu nos últimos dias o conflito entre Israel e palestinos, com sobressaltos ao soar de sirenes, noites maldormidas e esperança de que a trégua frutifique. Leia trechos da entrevista:

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Zero Hora – O que o senhor está fazendo em Jerusalém?

Guershon Kwasniewski – Estou morando em Jerusalém para terminar com os estudos rabínicos. A boa notícia agora aqui (17h15min no Brasil e 21h15min em Israel) é que está confirmado o cessar-fogo. Netanyahu está falando agora em cadeia nacional de TV. Falou que foi difícil chegar a essa resolução, mas que é a melhor solução.

ZH – Na história dos conflitos entre Israel e palestinos, houve casos de soluções surgirem de onde menos se esperava, como no caso de Menachem Begin. Isso pode ocorrer agora, com um acordo entre um governo israelense de direita e o Hamas?

Kwasniewski – Isso é relativo. Se depender de Israel, claro que sim. O povo de Israel deseja muito a paz.

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ZH – Pode haver concessões?

Kwasniewski – Agora começaremos a saber o conteúdo do acordo. Sabe-se que haveria maior mobilidade dos palestinos em Gaza. Gaza está bloqueada por mar e por terra, por todas partes. Israel levantaria o cerco a Gaza.

ZH – Como está a população em Israel?

Kwasniewski – As pessoas estão muito apreensivas, indo para os refúgios. Eu mesmo estava estudando e tive de ir correndo para o refúgio. Tu sentes uma impotência muito grande. Tu pegas um ônibus e pensa se vais te encontrar com um terrorista. Peguei um ônibus hoje pela manhã e passou muita coisa pela minha cabeça. As pessoas tentam levar uma vida normal, mesmo com as sirenes. Muitos moradores deixaram o sul, havia centenas de mísseis. Outros ficaram com as famílias. A gente dorme, à noite, pensando o tempo todo se haverá toque de sirene. O mínimo barulho sobressalta. Eu estava estudando aqui no rabinato e ligaram o aspirador de pó. Já teve uns que pensaram que era uma sirene. Todos estão muito sensíveis. Eu mesmo tenho dois primos que estavam de prontidão para entrar em Gaza. Minha família ficou muito apreensiva aqui em Jerusalém. O exército aqui é o povo, e os jovens prefeririam estar estudando em universidades.

ZH – O senhor está aí há um mês. Antes da escalada da violência, havia muitos mísseis atirados contra Israel?

Kwasniewski – Todos os dias havia mísseis, sem parar, as pessoas tinham de correr para os refúgios. A ofensiva de Israel ocorreu por isso.

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ZH – O sistema antimísseis israelense, o Domo de Ferro, se mostrou eficiente?

Kwasniewski – Sim, foi um sucesso. Havia inúmera quantidade de mísseis, e a gente se sente vulnerável. Cada míssil desses tem um custo de US$ 50 mil, mas a minha reflexão é muito simples: quanto vale uma vida? Uma vida não tem preço. E me emociono ao te dizer que a comunidade judaica se manifestou preocupada pela minha pessoa. Agradeço à comunidade judaica de Porto Alegre pelo carinho.

ZH – Há manifestações internas de solidariedade, entre os israelenses?

Kwasniewski – Sim, isso é enorme. Empresas de telefonia facilitaram comunicações, empresas de aluguel de carros ofereceram carros para pessoas que tiveram seus carros danificados pelos mísseis, supermercados ofereceram preços diferenciados, hotéis do norte do país ofereceram também valores diferenciados.