O Brasil é um país que enfrenta inúmeros problemas, porém, fenômenos naturais, como por exemplo, um tsunami em Santa Catarina, sempre estiveram fora dessa lista. Pelo menos, essa é a informação que costumamos aprender. Em setembro deste ano a notícia de que o vulcão nas Ilhas Canárias poderia provocar um tsunami na costa brasileira colocou o país em estado de alerta.
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O vulcão Cumbre Vieja fica em La Palma aumentou a atividade sísmica, de forma rápida, dentro de poucos dias, e entrou em erupção no dia 19 de setembro de 2021. Foram registradas fontes de lava e nuvens de fumaça no local.

A notícia espalhada, antes da erupção, foi que esse fenômeno poderia causar um tsunami que chegaria ao Brasil dentro de 6 a 8 horas. Algumas pessoas foram alarmadas pelas redes sociais, mas os especialistas já haviam dito que as chances disso acontecer eram remotas. Os locais alertados fazem parte da costa brasileira, incluindo Santa Catarina.
Como um tsunami se forma
As ondas comuns são formadas a partir da energia que os ventos propagam na superfície do mar. Por essa transferência de energia ser restrita apenas às camadas mais superficiais do oceano, existe um limite no tamanho e velocidade dessas ondas. Mas existem fatores que geram energia abaixo da água e são eles que conseguem formar um tsunami.
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Os comprimentos de onda de uma onda comum chegam a algumas centenas de metros, já os de um tsunami vão de 100 a 500 quilômetros. Em alto mar, um tsunami se desloca em até 890 quilômetros por hora, e a medida que vai se aproximando da costa, perde velocidade e ganha altitude, atingindo de 40 a 50 metros.
O principal fator capaz de gerar um tsunami é a atividade tectônica, ou seja, os terremotos. Eles ocorrem quando os limites de placas tectônicas convergentes ou destrutivas se movem abruptamente e deslocam verticalmente a água sobrejacente. Outros fatores que podem causar tsunamis são erupções vulcânicas e deslizamentos de terra.
Existe ainda um “tipo” de tsunami que pode ser causado por influência meteorológica e é chamado de meteotsunami. Ele ocorre quando um fenômeno atmosférico, como uma frente fria ou uma linha de instabilidade, se propaga na mesma velocidade de uma onda e amplifica a sua velocidade.
Eles também são chamados de tsunamis meteorológicos e costumam ter um impacto menor que um tsunami comum.
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O Brasil se encontra no centro da Placa Sul-Americana, o que faz com que ele esteja em uma posição confortável. Isso quer dizer que as atividades tectônicas capazes de desencadear tsunamis não tendem a afetá-lo. Porém, algumas pesquisas falam da possibilidade do Brasil ser atingido por um tsunami.
Um desses estudos era relacionado justamente ao vulcão Cumbre Vieja, vulcão que entrou em erupção em setembro. Essa pesquisa aponta que ele poderia provocar ondas gigantes que iriam se propagar pelo Oceano Atlântico e atingiriam a costa de países do continente americano, incluindo o Brasil.
Registro de tsunami em Santa Catarina
No Brasil, 8 meteotsunamis foram registrados entre 1977 e 2020, e 3 deles ocorreram em Santa Catarina. O primeiro registro de tsunami em SC foi em 2009, no Pântano Sul, que fica no Sul da Ilha de Santa Catarina. O segundo ocorreu em 2016, em Araranguá, no Sul do Estado. O terceiro foi em 2019, no município de Imbituba e ele também atingiu outras 3 cidades.
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Os fatores que podem gerar um tsunami são constantemente monitorados, evitando que as pessoas sejam pegas de surpresa. Porém, em relação aos meteotsunamis, por terem influência atmosférica, ainda não existe um modelo que preveja as suas formações, já que esses dados oscilam rapidamente.
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Em 19 de novembro de 2009, o tsunami em SC ocorreu na praia do Pântano do Sul e foi registrado de forma amadora por um morador do local. Em novembro de 2010, na FURG, Rio Grande do Sul, ocorreu o 4º Seminário e Workshop em Engenharia Oceânica, onde foi apresentado um estudo sobre esse fenômeno.
O estudo mostrou que vídeos e observações feitas no local ajudaram a estimar a altura do tsunami em aproximadamente 3 metros. Também foram utilizadas medições no aeroporto de Florianópolis e imagens de satélite. Com essas informações foi possível documentar de forma simples a passagem de uma linha de instabilidade pela costa de SC.
E, com isso, os autores montaram um cenário que explica o fenômeno como um tsunami meteorológico gerado por uma interação ressonante entre o pulso móvel de pressão associado à linha de instabilidade e uma onda longa na plataforma continental.
No dia 16 de outubro de 2016, ocorreu o segundo registro de tsunami em SC. Dessa vez em Araranguá. O gerente de monitoramento e Alerta, Frederico Rudorff relatou a passagem de uma linha de instabilidade atmosférica intensa, que gerou uma ventania que causou muitos danos em pelo menos 20 municípios do estado. Os ventos atingiram 97 quilômetros por hora.
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Segundo Rudorff, em Araranguá, a ventania, juntamente com outros fatores, como a perturbação da pressão atmosférica sobre o mar, a velocidade e a direção de deslocamento da tempestade em relação à linha de costa e a batimetria local, acabaram gerando uma ressonância e uma amplificação da onda, causando o meteotsunami.
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Em 29 de outubro de 2019 ocorreu um tsunami em SC que foi primeiramente registrado em Balneário Rincão, passando por Imbituba, Florianópolis e dissipando próximo a Balneário Camboriú. Essa onda ocorreu devido a um alinhamento de uma rápida mudança de pressão atmosférica com as ondas do mar que estavam chegando às águas costeiras mais rasas.
O pesquisador Rogério Candella concluiu que esse meteotsunami se caracterizou por duas ondas principais, que no seu ponto máximo atingiram 75 e 118 centímetros e que viajaram pela costa de Sul a Norte do Estado a uma velocidade média de 84 quilômetros por hora, chegando a 100 quilômetros por hora em alguns momentos.
A Epagri possui um sistema de monitoramento costeiro que conta com uma rede de radares meteorológicos, estações meteorológicas e estações maregráficas para monitorar as atividades nas costas.
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Esse sistema de monitoramento é usado para identificar, caracterizar e confirmar eventos como um tsunami em Santa Catarina, com características meteorológicas, ou seja, um meteotsunami. E até o momento, essa rede só consegue identificar o que está acontecendo, mas, no futuro, talvez seja possível prever esses fenômenos.
Um ano após o registro do tsunami em SC, de 2019, a Epagri confirmou o fenômeno. O pesquisador da Marinha do Brasil no Rio de Janeiro, Rogério Candella, entrou em contato com a empresa e sugeriu um estudo detalhado do evento. Ele liderou a pesquisa, que foi divulgada em 2020.
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O artigo se chama Atmospherically induced large amplitude sea-level oscillations on October 29, 2019 at Santa Catarina, Brazil. Ele foi publicado na revista Natural Hazards, da editora Springer. Ele mostra que o fenômeno foi registrado em Balneário Rincão, passando por Imbituba, Florianópolis e dissipando próximo a Balneário Camboriú.
Estrago causado pelo tsunami em SC
Nas 3 situações onde ocorreram tsunamis em Santa Catarina foram registrados danos materiais.
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O tsunami na praia do Pântano Sul e na praia da Armação aconteceu em 2009. Os relatos referentes à praia do Pântano Sul, afirmam que durante o dia o mar estava tranquilo, e que no final da tarde, houve uma mudança brusca no tempo. De repente, chegaram nuvens pesadas e um forte vendaval.
Os banhistas disseram que surgiu uma onda gigante que invadiu a praia, arrastou barcos de pesca ancorados, carros estacionados na praia, e inundou restaurantes próximos ao mar. Na Praia de Armação, o mar apresentou o mesmo comportamento, porém, o efeito da inundação foi menos danoso pela existência de um muro de proteção. Foi mais um susto.
Em 2016, quando um outro tsunami foi registrado no Estado houve um temporal que atingiu pelo menos 20 municípios e a região de Tubarão foi a mais afetada. Cerca de 140 mil unidades consumidoras de energia elétrica ficaram sem luz. Uma menina de 7 anos morreu após o carro em que estava ser atingido por uma árvore que foi derrubada pelos ventos.
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Em Araranguá, a onda invadiu a faixa de areia e arrastou veículos. Dezenas deles, que estavam estacionados perto do mar, ficaram submersos. Foram relatados danos materiais em casas e restaurantes próximos à orla.
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Em 2019, foram registrados alagamentos repentinos que acabaram arrastando barcos e carros, trazendo prejuízos para pescadores e moradores da costa.
É possível ter um novo tsunami em SC?
Segundo o professor Norberto Olmiro Horn Filho, do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é improvável a possibilidade de um tsunami na costa brasileira e catarinense. Segundo ele, não foram detectadas falhas ou rupturas entre placas tectônicas e erupções vulcânicas nessa área.
Em relação aos tsunamis meteorológicos, que foram os tipos já registrados em SC, são eventos raros, porém, possíveis de acontecer. Atualmente, não podem ser previstos, mas, existem indícios, como a formação de nuvens específicas, que podem dar sinais de sua formação.
Além disso, os sistemas de monitoramento costeiro, usados para identificação desses eventos, estão sendo aprimorados para que no futuro, talvez, seja possível prever esses fenômenos.
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