O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, defendeu a reação que teve após o conflito em Charlottesville, em um discurso para milhares de seguidores em Phoenix, Arizona, onde voltou a atacar com veemência a imprensa e as elites.
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Em um ambiente de apoio, o presidente aproveitou a ocasião para dedicar mais da metade do discurso a críticas, às “pessoas doentes” nos meios de comunicação e nas elites, ao mesmo tempo em que defendeu suas declarações sobre Charlottesville.
— A mídia é muito desonesta… E me refiro às pessoas realmente desonestas na mídia e à mídia falsa, inventam histórias. Em muitos casos, eles não têm fontes — afirmou. — Não informam os fatos, assim como não querem informar que eu falei duramente contra o ódio, a intolerância e a violência e condenei fortemente os neonazistas, os supremacistas e a KKK — completou, em referência aos incidentes em Charlottesville.
Trump foi muito criticado por democratas e mesmo por seus correligionários republicanos, assim como por vários setores da sociedade, por não condenar com veemência a manifestação de supremacistas brancos há duas semanas em Charlottesville. O protesto terminou em violentos distúrbios com ativistas antirracismo e uma mulher morta.
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“Algo positivo”
Trump também sinalizou que poderia conceder um indulto a Joe Arpaio, o polêmico ex-xerife do condado de Maricopa, no Arizona, condenado por violar uma sentença federal ao perseguir de maneira implacável os imigrantes latinos.
— Acredito que ele ficará bem, ok? Não vou fazer esta noite, porque não quero provocar nenhuma controvérsia — disse.
Algumas horas antes, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, informou que nenhuma decisão seria tomada sobre o tema na terça-feira (23).
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Arpaio, 85 anos, ferrenho defensor de Trump, é considerado um herói por aqueles que desejam acabar com a chegada de imigrantes em situação clandestina. Ativistas dos direitos humanos questionam o perdão que o presidente afirmou, há alguns dias, que estava avaliando conceder.
— Indultar o xerife Arpaio seria apoiar oficialmente o racismo e a supremacia branca — disse Carlos García, da organização Ponte Arizona.
Trump também se mostrou otimista sobre os efeitos de sua retórica agressiva com a Coreia do Norte, que, segundo ele, começou a dar frutos, em um momento de tensão entre Washington e Pyongyang — capital e maior cidade da Coreia do Norte, situada às margens do rio Taedong — pelo programa nuclear norte-coreano.
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— Algumas pessoas disseram que era muito forte. Não é suficientemente forte — afirmou. — Mas Kim Jong-un… Eu acredito que ele está começando a nos respeitar. E respeito muito esse fato. E talvez, provavelmente não, algo positivo possa acontecer — acrescentou.
Muro, segurança
A expectativa era que, com esse discurso, Trump conseguisse um novo apoio ao governo para seu polêmico projeto de construir um muro na fronteira de 3,1 mil quilômetros com o México para impedir a entrada no país de imigrantes em condição ilegal.
Trump insiste que os mexicanos devem pagar pela obra, que tem custo estimado em 21 bilhões de dólares. Para muitos, esse valor praticamente inviabiliza o projeto.
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Antes do evento em Phoenix, Trump visitou Yuma, perto do México, para conhecer os equipamentos usados pela polícia de fronteira.
Yuma “era uma das áreas de fronteira menos seguras nos Estados Unidos e, agora, é uma das mais seguras, graças aos investimentos”, disse uma fonte do governo antes da viagem de Trump.
Uma lei aprovada em 2006 permitiu a construção de uma cerca divisória de 100 quilômetros nessa área desértica, o que reduziu consideravelmente as tentativas de entrada de ilegais. Os críticos apontam que o fluxo de imigração clandestina apenas mudou para outros pontos.
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De acordo com dados oficiais, nos últimos seis meses, as autoridades americanas detiveram mais 126 mil pessoas que tentavam entrar de modo ilegal nos Estados Unidos, o que representa uma queda de 46% na comparação com o mesmo período de 2016.
Após os decretos para deter em território americano aqueles que violaram seu status migratório, entre janeiro e julho foram detidas 91 mil pessoas, 44% a mais do que no mesmo período do ano passado.
Protestos
Sob um forte calor, milhares de simpatizantes do presidente — muitos vestidos com as cores da bandeira americana — e de manifestantes anti-Trump se reuniram do lado de fora do centro de convenções onde aconteceu o discurso.
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Separados por vários metros de distância dos seguidores de Trump, os manifestantes exibiram cartazes, nos quais o presidente aparecia com o bigode de Hitler.
“Coisas para fazer hoje: lavar roupa, tirar o lixo, opor-se aos nazistas”, afirmava um dos cartazes.
O discurso foi muito aplaudido por seus seguidores dentro do centro de convenções, mas os ativistas anti-Trump entraram em confronto com a polícia. Os agentes usaram gás lacrimogêneo para dispersar o protesto.
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O porta-voz da polícia, Jonathan Howard, disse que cinco pessoas foram detidas e que os manifestantes jogaram pedras, garrafas e outros objetos contra os agentes.