O presidente americano, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (7) em um tuíte a saída de seu governo do procurador-geral, Jeff Sessions, uma medida que lança dúvidas sobre o futuro da investigação sobre o suposto conluio do ocupante da Casa Branca com a Rússia nas eleições de 2016.
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Sessions informou ter apresentado sua demissão a pedido do presidente.
“A seu pedido, apresento minha renúncia”, escreveu o demissionário em carta dirigida a Trump.
Ele será substituído temporariamente por seu próprio chefe de gabinete, Matthew Whitaker.
Há meses Trump tinha uma relação tensa com Sessions, a quem recriminava por ter se abstido de supervisionar a investigação conduzida pelo procurador especial, Robert Mueller.
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Ex-chefe do FBI (polícia federal americana), Mueller recebeu no ano passado a incumbência de investigar se a campanha eleitoral de Trump fez conluio com os esforços russos para afetar sua oponente, a democrata Hillary Clinton.
A investigação de Mueller foi ampliada para examinar possíveis tentativas por parte do próprio Trump de obstruir a investigação, o que, se for provado, poderia levar a um julgamento político do presidente.
Em 2 de março de 2017, Sessions anunciou oficialmente que não supervisionaria ou participaria da investigação sobre a Rússia, causando mal-estar com Trump.
Sessions tomou esta decisão porque havia trabalhado na campanha do presidente e porque teve contatos com o embaixador da Rússia nessa época.
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– Fim da lua de mel –
A brusca demissão foi a definição de um longo período de travessia do deserto entre Trump e seu secretário de Justiça, após uma curta lua-de-mel.
Sessions sabia que estava no banco dos réus depois de se negar a participar da investigação, uma decisão que o magnata republicano nunca perdoou.
Ele tinha apoiado a candidatura de Trump à Casa Branca em uma época em que ninguém apostava um centavo no bem sucedido homem de negócios. Ambos concordaram na necessidade de uma aliança antissistema.
Trump o recompensou assim que chegou ao governo, nomeando-o procurador-gral, um cargo que lhe permitia supervisionar o FBI, os procuradores e diversas agências federais estratégicas.
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Sessions parecia satisfeito em ocupar o prestigioso cargo. Para este senador do pequeno estado do Alabama, marginal ao aparado do Partido Republicano, significava uma clara promoção.
Deste cargo, sentiu-se livre para expressar suas convicções sobre a necessidade de combater a imigração ilegal em um país onde os trabalhadores brancos são injustamente deixados de lado, onde os valores cristãos não são mais levados em conta e a ordem pública é violada muito frequentemente.
Apesar da afinidade das ideias, as diferenças entre os dois homens saltam aos olhos.
Ambos têm quase a mesma idade, mas o presidente é alto e corpulento, enquanto Sessions é baixo e de aparência frágil.
O primeiro é agressivo ao falar e o segundo tem um tom de voz suave com sotaque sulista.
Trump está no terceiro casamento e se vangloria de suas conquistas femininas, enquanto Sessions é casado há quase cinquenta anos com uma professora que se dedica a obras de caridade.
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– Filho de Selma –
Jefferson Beauregard Sessions III herdou o nome do pai e do avô, que por sua vez o recebeu de Jefferson Davis, presidente dos estados confederados sulistas durante a Guerra da Secessão.
O secretário demissionário nasceu em Selma, cidade conhecida pela violenta repressão policial a militares dos direitos civis, que se manifestavam pacificamente em 1965.
Seus críticos asseguram que este ex-escoteiro formado em Direito pela Universidade do Alabama continua assumindo esta herança racista e o criticam por ser favorável à pena de morte e se opor ao aborto.
Declarações polêmicas feitas nos anos 1980 o perseguem até hoje: era procurador do Alabama quando disse a um advogado branco que estava “envergonhando sua raça” por aceitar defender negros.
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É acusado também de ter se dirigido a um promotor negro, chamando-o de “boy”, um termo de forte conotação racista nos Estados Unidos.
Em 1986, quando o Senado examinava sua candidatura a um cargo de juiz federal, este passado veio à tona. Ele desmentiu na época ter usado a palavra “boy” e disse que comentários que fez parecendo desculpar a Ku Klux Klan eram humorísticos.
Suas justificativas de pouco lhe valeram porque sua indicação foi rejeitada pela Câmara alta, algo absolutamente incomum.
De todas as formas, isso não impediu que Sessions fosse eleito e reeleito senador com base em um programa claramente conservador, no qual destacava sua firmeza na guerra contra as drogas.
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* AFP