A escolha de Edemir Alexandre Camargo Neto para assumir a direção da Penitenciária de São Pedro de Alcântara significa uma mudança de estilo na administração da unidade prisional, apontada como epicentro para as ondas de ataques terroristas que assolam Santa Catarina nos últimos seis meses.

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A afirmação é do secretário-adjunto de Justiça e Cidadania, Sady Beck Junior. Além de abrigar os criminosos mais perigosos do Estado, a cadeia é importante por ser uma espécie de quartel-general do Primeiro Grupo Catarinense (PGC), palco de denúncias de tortura e, agora, de supostas revistas íntimas ilegais.

Na Secretaria de Justiça e Cidadania, a nomeação de Alexandre, como é chamado o novo diretor, é uma sinalização de que acabou o tempo de agentes que se portam como Capitão Nascimento, personagem consagrado pelo cinema com os dois filmes Tropa de Elite, reconhecido, por suas táticas abusivas e com uso excessivo da força.

Ou seja, Alexandre atenderia o perfil buscado pelas gestões mais modernas do sistema penitenciário: um administrador voltado a garantir o cumprimento da Lei de Execuções Penais.

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Por onde passou, ele ficou marcado pela habilidade de negociar com empresários para firmar parcerias e levar trabalho aos detentos. Também é característica dele o bom relacionamento com o Ministério Público (MP) e Judiciário. Na passagem por Itajaí, por exemplo, recebeu muitos elogios do juiz da cidade.

O método de Alexandre, de respeitar o preso para ser respeitado, contrasta com a linha dura aplicada por Carlos Alves, ex-diretor da unidade de São Pedro, que teve a mulher assassinada pelo PGC e foi denunciado na semana passada, pelo MP, por tortura. Alves seria mais enérgico, consequência do período em que atuou no Exército.

O mesmo perfil teria o substituto dele, Renato Fernandes Silva, exonerado da direção na semana passada e também denunciado pelo MP na sexta-feira por uso da força contra detentos em novembro do ano passado.

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Inspiração em Curitibanos

Com a chegada de Alexandre à unidade, a expectativa é de um tratamento semelhante ao do Presídio de Curitibanos, elogiado no Mutirão Carcerário do Conselho Nacional de Justiça, realizado em abril.

Nesta unidade, o acompanhamento da pena dos presos é mais ágil do que em São Pedro de Alcântara e o atendimento às necessidades dos detentos, como saúde e educação, ocorre permanentemente.

Em caso de doença, por exemplo, o médico é marcado e no mesmo dia o preso fica sabendo quando será a consulta. Se for emergência, as medidas são tomadas na hora. Os relatos apontam que em São Pedro de Alcântara os detentos seriam tratados com desdém.

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O juiz da vara de Execução Penal de Joinville, João Marcos Buch, diz que se os direitos dos detentos fossem respeitados, os ataques em Santa Catarina acabariam. Ele explica que o PGC engrossa suas fileiras se valendo da miséria das cadeias. No Presídio de São Pedro de Alcântara, falta água, escova de dente, sabonete e até papel higiênico.

Alexandre começou a carreira em São Pedro de Alcântara como agente penitenciário. Depois disso, dirigiu o Presídio de Tijucas e o Complexo Penitenciário de Itajaí.