O vezo ideológico e o excesso de corporativismo, aliados à falta de propostas, são tão responsáveis pela crise na educação quanto a escassez de recursos. As ruidosas manifestações contrárias ao projeto legislativo de Florianópolis, que propõe o acesso da população às vagas em colégios privados pela permuta do pagamento de IPTU, dão o que pensar e podem explicar muita coisa.
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Por exemplo, que o maior problema hoje não é a corrupção, a paralisia econômica, a desigualdade, o despreparo educativo ou a desmoralização política. O maior de todos os problemas, que provoca todos os outros, é que os brasileiros se sentem pequenos e se conformam com o “apequenamento” do país. Quem diz isso é o cientista político Roberto Mangabeira Unger, professor de Harvard, ex-ministro meteórico dos governos petistas.
Poderíamos chamar essa percepção danosa de “a síndrome do coitadinho”. Ela explica, no caso das vagas, por que certas “lideranças” agem de forma barulhenta – em que uma boa iniciativa, honestamente apresentada por um membro da Câmara, é vista com suspeita.
Em tempos de turbulência, elogia-se até a ignorância e admira-se o desamor ao estudo e à cultura. Seria, de fato, esse projeto uma “coisa de elite”? Diante do déficit de cerca de 3 mil vagas em creches na Capital, oferecê-las em colégios particulares em troca do imposto é, antes de tudo, uma boa opção para a sobrecarga da rede oficial, sem falar na economia que isso pode gerar, já que o custo de um aluno na rede particular é menor do que na rede pública.
Esse tipo de parceria representa uma opção que deveria ser seriamente considerada no Brasil. No caso da educação, as vantagens são evidentes. A construção de novas escolas, mesmo que viável, seria muito mais cara do que manter o aluno excedente da rede municipal na rede particular, pois, além de atendido no seu direito constitucional, teria garantido qualidade pedagógica.
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Ironicamente, eficiência não rima com ideologia. Nenhuma dessas evidências, até aqui, foi capaz de sensibilizar conhecidas “lideranças” do município, demovendo-as da opção ideológica radical que preferem abraçar.
* Marcelo batista de Souza é presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Santa Catarina (Sinepe/SC)
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