O sexto tripulante resgatado do barco que virou no litoral de Santa Catarina contou aos outros cinco sobreviventes que durante as cerca de 48 horas que ficou à deriva em alto mar tomou uma caixa de leite e uma garrafa de refrigerante para saciar a sede.

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O depoimento feito no Hospital Marieta Konder, em Itajaí, durante o primeiro encontro entre todos os resgatados até o momento foi transmitido pela NSC TV. Dois oito tripulantes, cinco estavam em uma pequena balsa inflável, e outro (sexto tripulante) sobreviveu em meio ao mar amarrado em duas boias. Outros dois estão desaparecidos.

Deivid Luiz Monteiro Ferreira, resgatado sozinho em alto mar, relatou ter encontrado caixa de leite boiando ao seu redor durante a noite — acredita-se que o equipamento tenha caído da própria embarcação.

— A gente estava no escuro, levei minha mão e deu certinho em uma caixinha de leite. Bebemos feito água. Bebemos para saciar a sede. Poucas horas depois, uma garrafa de coca-cola também bateu por perto. Foi, foi e quando a gente olhou o barco estava longe e estava de dia já — contou.

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Entre os sobreviventes resgatados estão, além de Deivid, Domingos Pereira do Rosário, Zoel Teixeira Barros, Djalma dos Santos Silva, Mário Gomes Soares e Luiz Carlos Messias da Silva. Alisson da Silva Santos e Diego Silva de Brito seguem desaparecidos.

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Curso no IFSC ajudou tripulante resgatado

Djalma dos Santos Silva registrou a carteira profissional de pescador no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), em Itajaí, conforme relembra o oceanógrafo e professor Benjamim Teixeira. Na instituição há três cursos de profissionalização para tripulantes de embarcações: nível 1, curso de 11 dias voltado para pessoas não alfabetizadas; nível 2, curso de um mês para os que possuem até o sexto ano do ensino fundamental; e nível técnico, que forma o comandante da embarcação. Neste caso, as aulas duram três meses e posterior à isso ainda é feito um estágio embarcado (em alto mar) por mais 60 dias.

— Em ambos os cursos nós do IFSC não trazemos o pescador para a sala de aula pra aprender a pescar. Nós ensinamos a sobreviver em alto mar em caso de acidente e damos noções de primeiros socorros, noções salvatais, por exemplo. Todos precisam estar muito bem capacitados. Em alto mar não tem farmácia perto, não tem Samu para buscar rápido. Eles precisam ser altamente capacitados para sobreviver — explica.

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A embarcação, até que ela se encontre flutuando, é “o local mais seguro”, segundo o que diz. Isso ocorre devido ao armazenamento de mantimentos e sinalização, além de facilitar a observação dos serviços de buscas.

— Imagina, mesmo preparado isso varia de pessoa para pessoa, é um momento de pânico, uma situação caótica. Djalma foi aluno do IFSC, meu aluno, e ligou para agradecer os ensinamentos. É muito gratificante ver que a educação não só transforma, como salva vidas. A gente está salvando vida, e não só a dele, mas a de outros colegas que estavam ali também — diz.

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Em casos de naufrágio

Se por acaso o naufrágio vier a acontecer, o especialista explica que a água do mar não pode “em hipótese alguma” ser ingerida. Ao se tornar um náufrago, por exemplo, em uma balsa salva-vidas — onde estavam cinco tripulantes — a comida e bebida se torna escassa. Depois disso, todos teriam que beber água da chuva, se as condições climáticas permitissem, e pescar para saciar a fome.

Quando a balsa é acionada, segundo conta, infla de cabeça para baixo. Ou seja, todos os tripulantes precisam pular na água para desvirar o equipamento. Isso tudo, em meio a escuridão do alto mar.

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— É claro que nesse caso do Deivid, o leite e o refrigerante ajudaram ele a se manter hidratado. O ideal seria uma água, mas água do mar nunca, ela pode acelerar o tempo de vida naquelas condições. Isso tudo se ensina no curso. Para nós a maior recompensa que podemos ter como professor é ver alguém ter a vida salva e salvar outras pessoas através do conhecimento — diz.

— O passo a passo em uma situação como essa vai depender de uma série de condições, existem situações em que o naufrágio acontece devagar, com tempo bom, dá tempo dos tripulantes vestirem o colete, lançarem a balsa e entrarem nela sem se molhar. Mas, normalmente, os naufrágios ocorrem com tempo ruim, à noite, com ventania e muita onda. Neste caso, a primeira ação é vestir o colete salva-vidas — completa.

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Inscrições abertas no IFSC

O IFSC está com inscrições abertas para os cursos de “Pescador Especializado”. As vagas são preenchidas por sorteio, e as aulas tem previsão de início para o dia 7 de agosto em Penha.

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