Mulheres na casa dos 30 anos não estão nem aí para a idade. Ao contrário. Se libertaram dos preconceitos e fazem tudo o que queriam fazer aos 20 anos e não tinham coragem. Trinta anos, para uma mulher, já foi sinônimo de ter o destino traçado. Tema abordado em A Mulher de Trinta Anos, livro de Honoré de Balzac que completa 180 anos em 2012. Mas, se no século 19 as mulheres podiam se ver presas a um casamento malsucedido para o resto da vida, as trintonas do século 21 dão show de independência. No quesito beleza, as chamadas balzaquianas não devem nada na comparação com as mulheres de 20.
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Há também a percepção de que são mais livres. Livres de pudores, obrigações e grilos sentimentais. Entram nas três décadas de vida com a graça e a confiança de mulheres como Isabel Cristina Silveira, 33 anos, que não se sente com 30 (“22, talvez”) e não se trocaria por nenhuma mulher de 20 e poucos anos. O mesmo pode ser dito sobre a modelo e apresentadora Maryeva Oliveira. A manezinha de 31 anos acredita que está no auge e não gostaria de voltar para os 20 de jeito nenhum.
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– Não me vejo com 30. Não tenho namorado, não tenho filhos, não tenho planos de ter nenhum dos dois tão cedo e não estou nem aí para o que possam pensar ou dizer. Estou trabalhando muito, tenho tanta coisa para viver antes de casar. Este é o meu auge, o melhor momento da minha vida – analisa.
Ela acredita que ainda vai haver espaço para discutir a sexualidade das balzaquianas.
– A diferença é incrível. A mulher na casa dos 30 passou por todo um processo de autoconhecimento, de busca dos pontos do prazer, é outro jogo – garante.
Natural de Blumenau, Mariana Weickert, modelo e apresentadora, completou 30 anos em fevereiro e divide com Maryeva a paixão pela idade. Para ela, a mudança do dígito foi até almejada:
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– Está sendo uma fase ótima, sem encanações. Não sei se a idade influi, mas estou uma mulher segura aos 30. Não fiquei nem um pouco encanada com a mudança, pelo contrário. Fiquei na expectativa, estava preparada para entrar para o time das mulheres de 30. Nesta idade, você passa a aceitar coisas que nem eram tão importantes, mas que você transformava num grande problema. A idade idade te traz tranquilidade.
Para a psicóloga Shirley Stamou, de Florianópolis, criadora do blog Garotas Modernas, não dá para comparar o estereótipo da balzaquiana com as mulheres de hoje:
– As mulheres de 30 são antenadas em moda, tecnologia e música tanto quanto as de 20. Usam minissaia e jeans.
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Aos 39 anos, Shirley acredita que, antes, as mulheres de 30 eram senhoras. Hoje, isso mudou.
– Me olho no espelho, vejo minha energia e não me sinto com 30. Nem identifico as mulheres que foram minhas pacientes nos últimos 13 anos no consultório com as balzaquianas. Eu não sou uma senhora! – brinca.
Casada há sete anos, ela se sente mais próxima das amigas e primas de 20 e poucos do que das parentes mais velhas, com 40 ou 50:
– Passar dos 20 aos 30 é duro, mas, depois, a pessoa percebe que nada caiu de um dia para o outro.
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Se os 30 anos são o auge, não se preocupe, os 40 não precisam ser a decadência. Basta ver Jeniffer Aniston, que declarou que seus 30 anos não foram muito bons, mas que os 40 estão sendo sensacionais. Courtney Cox, ex-colega na série Friends, chegou aos 40 linda e começou seu novo seriado, Cougar Town, tratando da situação de uma mulher nesta faixa etária que acaba de se divorciar. Seja na vitalidade de Luciano Huck, que acabou de entrar para o clube dos quarentões – uma camiseta de sua marca diz que “os 40 são os novos 20” -, ou na beleza de Patrícia Pilar e Carolina Ferraz, a lição é: idade, cada vez mais, é só um número.
Carreira em primeiro lugar
Em nome do sucesso na profissão, a família fica para depois ou vira opção. É o caso da consultora de imóveis Isabel Cristina Silveira, de Jaraguá do Sul. Aos 33 anos, ela está separada e gostaria de ter filhos, mas, se não acontecer, tudo OK.
– Se aparecer alguém que queira as mesmas coisas do que eu, tudo bem. Mas, se não acontecer, tudo bem também – diz.
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É o mesmo com Janelize Borges, de Lages. Aos 30 anos, a jornalista deixou tudo para mais tarde e investiu na carreira.
– Pretendo casar e ter filhos. Mas ainda vai demorar para isso acontecer. Meu foco até agora sempre foi a minha carreira. Deixei o resto para mais tarde – confessa.
Fernanda de Nes, de Chapecó, dá sua opinião:
– As mulheres, hoje, demoram para se formar e querem independência financeira, um status legal na profissão.
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A ginecologista Neuza Bornholdt acredita que, apesar de se tratar de uma decisão sem volta e extremamente delicada para as mulheres, as que deixam para depois a chegada dos filhos – mesmo correndo o risco de ter problemas para engravidar mais tarde – não se arrependem.
– As mulheres que têm essa postura são esclarecidas, sabem no que implica a decisão – garante a ginecologista.
Ela adverte, no entanto, que não ter filhos, ou tê-los muito mais tarde, tem alguns efeitos:
– A chance de engravidar depois dos 35 é muito menor e a possibilidade de ter um bebê com síndromes como a de Down aumenta com a idade para as mulheres, diferentemente do que acontece com os homens. As mulheres que não têm filhos também têm maior chance de ter câncer de mama.
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Espelho, espelho meu
As entrevistadas foram unânimes: as mulheres se sentem mais bonitas aos 30 do que aos 20 anos. Se, por um lado, o psicológico e a autoestima fazem diferença, por outro, os tratamentos estéticos disponíveis fazem possível parecer ter 20 aos 30.
Fabíola Benvenuti, 30 anos, é dona de um corpo de dar inveja a mulheres de qualquer idade. Mantém a forma com dieta e malhação, mas já pensa em um dia fazer cirurgias estéticas ou procedimentos mais invasivos, como botox:
– Tenho orgulho de dizer que nunca fiz nenhuma plástica, mas, depois que tiver filhos, vou colocar silicone e quero usar botox. Pretendo manter a forma, mesmo que para isso precise de plásticas.
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Segundo a esteticista Maya Marques, da Clínica Le Fabian, em Florianópolis, mesmo os tratamentos mais eficientes só vão funcionar se combinados com uma dieta balanceada.
– O peeling é um tratamento que rejuvenesce muito a pele, e atualmente existem outros além do químico, como o peeling de diamante, que é menos agressivo e tem um efeito excelente. Além disso, existem opções como o bioativo de nanoesferas, que trata as três camadas da pele de uma vez. É a evolução dos cosméticos junto com a tecnologia – afirma.
Na literatura
Comer, Rezar, Amar – Elizabeth Gilbert
Best-seller e sucesso nos cinemas, o livro é resultado da busca de Elizabeth Gilbert para um novo sentido em sua vida, que teve início ao completar 30 anos.
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Razão e Sensibilidade – Jane Austen
Os livros da autora inglesa, considerada uma das mais lidas romancistas da língua, estão cheios de mulheres que deixam de lado suas paixões para apostar seu futuro no que é sensato e bem pensado. E vice-versa. O interessante, aqui, é que Elinor, a protagonista, vive o resplendor de sua beleza aos 30 anos e acaba encantando ótimos partidos, o que para a época era excepcional.
Depoimentos
“Ter 30 anos é como ter 20, mas com mais serenidade e experiência. Sou mãe de segunda viagem. Tive meu primeiro bebê com 19 anos e era completamente diferente a maneira de criar um filho, até a amamentação era diferente. Engravidei sem querer e, por causa disso, casei com meu namorado. Acabamos nos separando um ano depois. Casei de novo quatro anos depois de me separar e estou casada até hoje. A diferença é muito grande de casar mais jovem e mais madura. Vejo pela minha filha: um dia ela está namorando, no outro não está mais, depois está de novo. Quando se é mais velho, temos mais maturidade. Minha segunda gravidez também foi totalmente diferente, superplanejada. Foram dois anos estruturando as condições e mais um ano tentando engravidar. Conversei com meus chefes antes para saber se seria um momento conveniente para a empresa. Adiei meu segundo filho por muitos anos por causa da minha carreira de publicitária. Depois de algum tempo tentando, veio a Valentina, que hoje está com três meses. Desta vez fiz tudo que a pessoa deve fazer quando está grávida: trabalhei menos, mantive a calma.”
Solange Cardoso, 35 anos, de Florianópolis. Publicitária
“Concordo totalmente que as mulheres de 30 anos, hoje, são as mulheres de 20 anos de algumas décadas atrás. A gente aproveita muito a vida. Aproveitei muito meus 20, mas meus 30 estão ainda melhores. Tem uma malícia diferente, sei me safar de algumas roubadas e não tenho mais os grilos que tinha aos 20 e poucos. Não me preocupo mais com que roupa eu vou sair, se meu corpo está como deveria. Eu me aceito. Estou separada há um ano e, por incrível que pareça, está cheio de homem mais novo atrás das mulheres de 30, e eles não estão nem aí para a idade. Fiquei casada por oito anos, agora estou me redescobrindo. É difícil no começo, você fica meio perdida, mas, quando se encontra, é muito legal. Estou saindo com minhas amigas, indo para a balada. Me dou o direito de sair, tomar um porre e pegar um cara muito mais jovem se der vontade. Mas também me dou o direito de escolher. Desde que me separei, não tive relações sexuais por opção, preferi assim. Vou fazer sexo quando achar que vale muito a pena. Se eu tivesse 20 e poucos anos, acho que seria diferente.”
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Andréa da Silva, 37 anos, de Jaraguá do Sul. Advogada
Quem foi Balzac
O escritor francês Honoré de Balzac (1799-1850) teve como uma de suas marcas a capacidade de fazer descrições minuciosas para analisar as convenções sociais e a consequência do destino dos homens quando guiados pela paixão. Serviu como influência para autores como Charles Dickens, Henry James, Machado de Assis e Jorge Amado.
Um de seus romances mais famosos, A Mulher de Trinta Anos, parte de sua ambiciosa série de livros A Comédia Humana, conta a história de uma mulher infeliz no casamento, mas presa a ele. Na época de Balzac, as mulheres de 30 anos já eram vistas como entradas na meia-idade ou até mesmo no crepúsculo da vida. Vem daí o termo balzaquiana. Em suas obras, o escritor as exalta como mulheres com uma personalidade e beleza mais maduras e serenas, que seriam capazes de amar e ser felizes com mais intensidade do que as frívolas moças entre a adolescência e os 20 anos – as heroínas típicas dos romances literários.