O clima ensolarado deste início de mês de junho favoreceu o plantio de trigo na região Oeste. O produtor Félix Muraro Júnior, por exemplo, plantou 45 hectares. Ele manteve a mesma área do ano passado. Mas a tendência é de uma redução de área cultivada em Santa Catarina. O engenheiro agrônomo João Rogério Alves, do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri, tem uma estimativa inicial de redução de 8% na área plantada, com previsão de 49 mil hectares semeados. Com isso a produção estimada também teria uma queda na mesma proporção, chegando a 150 mil hectares.
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Um dos motivos para essa redução, segundo o analista do Cepa/Epagri, é o alto custo de produção.
– O trigo não tem sido muito atrativo para os produtores. A saca está entre R$ 40 e R$ 42 e o custo está em R$ 39,32. Os insumos subiram cerca de 30% em relação ao ano passado, influenciados pela alta do dólar. Também teve um aumento do custo de mão-de-obra, de R$ 104 para R$ 120. Temos ainda a perspectiva de La Niña, que prevê inverno mais chuvoso, o que aumenta a incidência de doenças e necessidade de mais tratamentos fúngicos – disse Alves.
Outro aspecto considerado é que muitos produtores preferem antecipar o cultivo da safra de verão com o objetivo de fazer uma segunda safra e, nesse caso, o cultivo de trigo atrapalharia, essa antecipação.
O agricultor Flávio Fonseca, de Chapecó, é um dos que pretende implantar uma safra de feijão e depois cultivar soja no mesmo espaço. Ele cultivava de 200 a 300 hectares de trigo mas, nos últimos três anos, não plantou o cereal.
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– Reduzi 100%, não plantei nenhum grão. O preço até fica bom no plantio mas na época de colheita ele cai. O Brasil importa de outros países que tem trigo mais barato. Além disso tem anos com perdas por causa do clima e a gente fica no prejuízo. Prefiro plantar aveia e engordar alguns bois. A gente não ganha muito mas tem lucro garantido – disse.
Ele também reclamou do aumento do custo de fertilizante. Uma casa de adubo que custava R$ 70 a R$ 75 agora está em R$ 95 a R$ 100.
O assistente comercial da Cooperativa Agroindustrial Alfa, Luís Henrique Kessler, disse que a alta do dólar, que há um ano estava em R$ 3,20 a R$ 3,30 e agora está acima de R$ 3,90, influencia no aumento do fertilizante, pois os componentes são importados.
Isso pode gerar menos investimento nas lavouras, o que afetaria a produtividade. Kessler estima que a área plantada na região da cooperativa, que era de 20 mil hectares, terá uma redução de 30%, baseado em menor venda de sementes para a região.
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Com isso será necessário comprar mais trigo de outras regiões e até de outros países.
– Teremos que comprar mais do Rio Grande do Sul, Paraná, Paraguai e Argentina. Com isso o custo aumenta e isso pode impactar o consumidor lá na frente – disse Kessler.
O Brasil produz cinco milhões de toneladas de trigo e importa sete milhões de toneladas. Santa Catarina é o quinto maior produtor do país, atrás do Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo.