A tribo suruí, que vive no coração da Amazônia brasileira, passou a contar com a tecnologia para enfrentar o desmatamento que a ameaça ao se associar com a gigante de buscas na internet, Google, que criou um aplicativo que retrata suas tradições e registra qualquer alteração na floresta. O “mapa cultural” dos suruís foi lançado neste sábado no Rio de Janeiro, durante um fórum empresarial realizado na conferência Rio+20, das Nações Unidas.

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Representantes da empresa americana e membros do povo suruí apresentaram este projeto inédito, segundo informaram.

– Isto é único, representou uma fase totalmente nova para o Google. É o maior projeto que desenvolvemos com uma população indígena – explicou, durante entrevista coletiva, Rebeca Moore, engenheira do Google Earth e líder do projeto.

– É uma grande emoção que depois de cinco anos possamos mostrar nossa cultura ao mundo – comemorou o cacique Almir, líder dos suruís, vestindo calça, camisa e blazer, com um cocar de plumas coloridas.

Na animação do planeta Terra que o Google Earth apresenta se vê um pequeno ponto no território brasileiro: é a tribo suruí, com extensão de 240mil hectares no estado amazônico de Rondônia (noroeste). No total, tem 1,3mil pessoas distribuídas em 320 famílias.

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À medida que o usuário se aproxima do território suruí no mapa aparecem várias imagens de animais, ocas, plantas e indígenas. Ao clicar em alguns destes ícones, o sistema mostra jovens indígenas narrando os hábitos da comunidade, acompanhados de animações criadas pelo Google.

O território suruí está cercado de uma área bastante desmatada e, segundo o cacique Amir, suas terras são ameaçadas por madeireiros ilegais. Por isso, em 2007 viajou para a Califórnia e visitou os escritórios do Google “para propor uma associação” que permitisse criar o aplicativo e registrasse a realidade da região.

– Na época, não sabíamos muito do Google, mas eu passei em frente aos escritórios e estava decidido a entrar e propor esta sociedade porque eles conhecem a tecnologia e nós, a Amazônia – contou Amir.

Agora, o “mapa cultural” dos suruís “é uma ferramenta de trabalho que estamos usando para fazer denúncias. Temos uma equipe de vigilância”, formado por jovens com celulares inteligentes que registram até a espessura de uma árvore e tiram fotos do local, informou o cacique.

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– Com isso, vamos poder pressionar o governo para que fiscalize o desmatamento na região – comentou Walelasoepilemán, jovem indígena de 15 anos que participa do projeto e veste traje tradicional, com os braços adornados com pequenas pintas pretas pintadas.

Em 2011, o Brasil conseguiu reduzir o desmatamento na floresta amazônica em seu nível mais baixo, a 6.418 Km2, e a três meses de fechar o balanço anual para 2012 diminuiu em 25% este número, segundo dados oficiais.

O aplicativo está disponível no site do Google Earth, embora ainda não esteja integrado à plataforma. Também é possível consultá-lo no site dos suruís.

Engenheiros do Google viajaram três vezes ao Brasil para treinar os indígenas com ferramentas para smartphones, desenhadas especialmente para o projeto. O vídeo, exibido para jornalistas, mostra os jovens medindo troncos e tirando fotos de índios idosos e de danças tradicionais, bem como de outros costumes.

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– Isto é bom para nós porque estamos levando nossa cultura para os povos de fora, para que nossa cultura não morra – disse Walelasoepilemán.

Segundo Moore, a empresa espera repetir a experiência em outras duas tribos vizinhas à dos suruís, bem como em outras populações aborígenes de Canadá e Nova Zelândia.